Criolo cospe rimas incendiárias sobre batidas do trap do duo Tropkillaz, base do single 'Sistema obtuso'

Criolo cospe rimas incendiárias sobre batidas do trap do duo Tropkillaz, base do single 'Sistema obtuso'
Capa do single 'Sistema obtuso', de Criolo com Tropkillaz

Divulgação

Resenha de single

Título: Sistema obtuso

Artistas: Criolo e Tropkillaz

Compositores: Criolo, Laudz e Zegon

Edição: Oloko Records

Cotação: * * * 1/2

? Enquanto Emicida hasteia a bandeira do afeto para quebrar o estereótipo do rapper marrento, em consagradora reversão de expectativas, Criolo pesa o discurso.

Sistema obtuso – música inédita que junta Criolo ao duo Tropkillaz em single e clipe apresentados nesta sexta-feira, 18 de dezembro, em edição da gravadora do artista, Oloko Records – pode causar estranheza pelo tom pesado em quem cultua Nó na orelha (2011), álbum que deu projeção ao rapper paulistano há nove anos com azeitado mix de rap, soul, bolero, samba, afrobeat e reggae.

De lá para cá, Criolo estreitou laços com ícones da MPB – a ponto de fazer turnê e gravar disco com Milton Nascimento – e se converteu ao samba em álbum antológico, Espiral de ilusão (2017), que gerou conexões com bambas como Paulinho da Viola.

Tanto que o single Sistema obtuso está sendo apresentado à mídia como "volta às raízes" de Criolo em conceito equivocado. Primeiro, porque a "volta" ao rap já foi movimento feito pelo artista há dois anos com a edição do explosivo single Boca de lobo em outubro de 2018.

Segundo, porque Sistema obtuso descarta as "raízes" de Criolo ao reunir o rapper com o Tropkillaz, duo paulistano de música eletrônica formado pelos DJs e produtores Laudz e Zegon e reconhecido por ter sido um dos primeiros a introduzir o trap no universo pop brasileiro.

Criolo vira parceiro de Laudz e Zegon no single 'Sistema obtuso', produzido sob direção musical de Daniel Ganjaman

Olaf Heine / Divulgação

Ainda que o rap Sistema obtuso tenha sido gravado sob a direção musical de Daniel Ganjaman, habitual produtor dos discos de Criolo, as presenças de Laudz e Zegon na criação das batidas conduzem o single para o universo sombrio do trap em atmosfera condizente com os versos incandescentes da letra da composição inédita assinada pelo rapper com o duo.

Criolo endurece ainda o mais discurso e perde qualquer eventual resquício de ternura ao versar sobre mundo em decomposição em que jovens se drogam alucinadamente no caos por hype ou por desespero decorrente do vazio existencial. "O hype sorri, o doce derrete / A massa sorri, mas cadê teu cheque? / Raka é massa que amassa / E a massa que paga pra quem se diverte", rima Criolo com crueza em versos cuspidos como fogo, em ritmo alucinado.

Sistema obtuso é single indigesto e incendiário que joga verdades na cara, tendo originado clipe filmado em realidade estendida (XR), em São Paulo (SP), sob a direção de Denis Cisma, diretor do cultuado vídeo decorrente do já mencionado single Boca de lobo.

Talvez Sistema obtuso seja rejeitado por parte dos seguidores de Criolo, mas o single indica que o artista continua em movimento, evitando as repetições de fórmulas que o deixariam precocemente preso a um passado de glória.
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