Auditoria de direitos civis critica Facebook por não ter removido publicações de Donald Trump

Auditoria de direitos civis critica Facebook por não ter removido publicações de Donald Trump
Análise independente foi contratada pela rede social e durou dois anos. Empresa vive momento de crítica por entidades civis e boicote de anunciantes, que pedem mais atitude contra discurso de ódio. Sede do Facebook, na Califórnia

Thiago Lavado/G1

O Facebook divulgou nesta quarta-feira (8) a última parte de uma auditoria de direitos civis independente feita sobre a empresa. A análise durou dois anos e levou em consideração as políticas internas e práticas da rede social quanto a questões na área de direito civil e políticas contra ódio.

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A análise é divulgada no momento em que o Facebook é alvo de críticas de entidades civis e de um boicote de anunciantes, que demandam que a plataforma seja mais vocal em lidar com discurso de ódio.

Os principais pontos são:

Críticas por não remover publicações do presidente Donald Trump que violaram regras da plataforma;

Prevenir que tecnologia e algoritmos criem câmeras de eco de extremismo, para evitar consequências;

A auditoria elogiou algumas atitudes do Facebook, como iniciativas para coibir interferência em eleições e eliminar nacionalismo branco;

Apesar disso, os auditores criticaram a decisão de não verificar publicações e anúncios de político, afirmando que isso pode causar outro tipo de interferência no processo democrático;

O Facebook reconheceu alguns dos erros, e disse que vai adotar algumas das medidas sugeridas pelos auditores.

Uma das principais críticas foi em relação à decisão da plataforma de não remover publicações do presidente Donald Trump em maio deste ano — outras redes sociais, como Twitter, foram mais expressivas contra posts do mandatário que violavam suas políticas.

Para os analistas, essa decisão foi motivo de alarme, com uma das publicações "propagando discurso de ódio e violência" e outras duas "facilitando a supressão de votos".

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"Em todos os casos o Facebook afirmou que as publicações não violaram os padrões da comunidade. Os auditores vigorosamente deixaram clara seu desacordo, conforme acreditamos que essas publicações claramente violaram as políticas do Facebook", disse o relatório.

"A ênfase que colocamos na liberdade de expressão não foi adequadamente equilibrada pelo valor essencial da não discriminação", disse Sheryl Sanderg, diretora de operações do Facebook, no blog da empresa. Segundo ela, os auditores deixaram claro que o Facebook agiu de maneira estrita ao interpretar suas políticas.

Houve também uma crítica sobre uso de algoritmos e tecnologias pelo Facebook. Segundo os auditores, a plataforma "deveria usar tudo que tem em seu poder para prevenir que ferramentas e algoritmos direcionem as pessoas a reforçar câmaras de eco de extremismo e que a companhia deve reconhecer que falhar com isso terá perigosas consequências".

A auditoria elogiou algumas das decisões do Facebook ao lidar com problemas políticos, como a instituição de diretrizes contra a supressão de voto e contra o nacionalismo branco na rede. Apesar disso, houve críticas também sobre essas decisões, que foram muito estreitas em sua aplicação.

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Pela análise, o Facebook precisa melhorar como lida com nacionalismo branco, expandindo proibições para apreço, suporte e representação, mesmo que os termos usados para banir esse tipo de conteúdo não estejam explícitos.

Segundo os auditores, é preciso que o Facebook também aplique mais recursos para estudar e lidar com problemas de ódio organizado na rede social contra muçulmanos, judeus e outros grupos.

Os auditores apontaram ainda uma série de problemas que o Facebook precisa melhorar em relação a suas políticas, como melhorar o processo de decisão dentro da empresa, que precisa ser mais consistentemente priorizado por direitos civis.

Sandberg afirmou que o Facebook não irá fazer todas as mudanças solicitadas pela auditoria, mas que vai colocar mais propostas em prática, e elencou algumas das medidas que a empresa já tomou, como expansão na política de supressão de voto e mudanças na política de anúncios.

"Estamos iniciando o processo de trazer para dentro da empresa a experiência necessária em direitos civis, começando com o compromisso de contratar um líder para a área de direitos civis, que continuamente nos estimulará internamente a fazer progresso nestas questões", disse a executiva.

Crítica a não verificar discurso de políticos

Os auditores também criticaram o Facebook pela decisão de não verificar discurso político e disseram que essa atitude tem como resultado garantir mais voz para quem está em posições de poder.

"Temos graves preocupações que a combinação entre a decisão da companhia de eximir políticos de checagem e os precedentes criados pelas decisões sobre as publicações do presidente Trump deixa a porta aberta para que a plataforma seja usada por outros políticos para interferir em votações", afirma o relatório.

Em 2019, Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, realizou um discurso na Universidade Georgetown, em Washington, onde defendeu que a rede social não deveria remover conteúdo publicado por políticos, argumentando que a sociedade tinha direito de ver o que eles estavam falando, mesmo que estivessem mentindo.

A decisão de não fazer a checagem de fatos de anúncios políticos gerou muita polêmica nos EUA. Zuckerberg defendeu a atitude afirmando que "não é certo que uma companhia privada censure políticos ou notícias em uma democracia".

"Embora eu me preocupe com a erosão da verdade, eu não acredito que a maioria das pessoas quer viver em um mundo onde você só possa publicar coisas que as empresas de tecnologia julguem ser 100% verdade", disse no ano passado.

Para os auditores, o Facebook construiu um mecanismo eficiente, que impede a interferência de agentes estrangeiros nos processos democráticos, mas criou processos que facilitaram interferências internas.

"O Facebook criou políticas e tomou decisões que deixaram nossas eleições expostas à interferência do presidente [Donald Trump] e de outros que buscam usar desinformação para semear confusão e suprimir votos".