Wado produz belezas no clima sereno de álbum que agrega artistas da cena de Alagoas

Wado produz belezas no clima sereno de álbum que agrega artistas da cena de Alagoas
Capa do álbum 'A beleza que deriva do mundo', mas a ele escapa', de Wado

Divulgação

Resenha de álbum

Título: A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa

Artista: Wado

Gravadora: Lab 344

Cotação: * * * 1/2

? Vozes evocam lamento na introdução de Angola, quinta das 12 músicas que compõem o repertório autoral do 12º álbum de Wado, A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa. Na sequência, o toque do violão de Thiago Silva – parceiro de Wado na composição – sugere atmosfera de bossa nova antes que o cantor comece a dar voz a versos que poetizam a dor do país da África.

Angola é instante de beleza neste disco em que Wado – cantor e compositor catarinense residente em Maceió (AL) desde a década de 1980 – reúne gerações distintas de artistas da cena alagoana nos registros de canções gravadas sem bateria ou percussão. Músicas cujos ritmos são ditados por instrumentos de harmonia em tom cool e em – com perdão da expressão já clichê – tempo de delicadeza.

Dentro desse universo sereno, o artista de discografia camaleônica acende belezas por dentro do espírito da canções como Cacos, outra parceria de Wado com Thiago Silva, gravada com a adesão vocal de Llari no disco produzido pelo próprio Wado e mixado e masterizado por Jair Donato, arranjador de cordas, violonista e pianista de algumas faixas do disco.

"É longe a estrada e dói de tanto andar / A noite vem e o sono não está", cantam Wado e Llari em Cacos, faixa produzida por Thiago Silva no clima melancólico em que está ambientado o álbum que chega ao mercado fonográfico na sexta-feira, 2 de outubro, com distribuição do selo Lab 344.

Wado lança o álbum 'A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa' na sexta-feira, 2 de outubro

Clélia Miranda / Divulgação

Como todo disco despido de artifícios e calcado em sons acústicos (mas com synths na maioria das faixas), A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa precisa se nutrir de boas canções para poder brilhar. E, em que pese a coesão poética das letras, nem todas as 12 músicas parecem justificar as respectivas presenças no repertório.

A regravação de Para Anthony Bourdain (Wado e Zé Vito, 2018), feita com a voz de Cris Braun, soa dispensável na safra autoral do disco. Em contrapartida, a lembrança de Nanã (Wado e Momo, 2017) – gravada com Otto – é oportuna por apresentar outra visão da música, já gravada com maior dose de brasilidade por Momo, parceiro de Wado no tema e também em Sereno canto, música que encerra o álbum em tom reflexivo, fazendo suave celebração da vida.

"Parece que não foi em vão e aqui vamos ficar / É este amor que nos faz habitar / E calmamente ir forte, seguir a corrente", conclui Wado nos versos de Sereno canto, como se estivesse se referindo à própria trajetória musical, pavimentada pelas margens do mercado.

Antecedido por quatro singles que apresentaram as gravações das músicas Fica comigo (composta e gravada com a cantora Flora), Nina (parceria de Wado com Lucas Santtana), Arcos (faixa com Felipe De Vas e Yo Soy Toño) e Depois do fim (samba em que Wado e o parceiro Zeca Baleiro entreveem o mundo pós-pandemia), o álbum A beleza que deriva do mundo, mas a ele escapa apresenta boas canções introspectivas.

Vale mencionar Tempo vago (Wado e Igor Peixoto) e Quem somos nós (Wado, Igor Peixoto e Júnior Almeida), ambas gravadas com a voz de Lore B, sendo que a primeira também tem o toque do lap steel de Kassin e a segunda conta com a voz de Júnior Almeida, voz da cena musical alagoana.

Por estar situada longe demais das capitais, essa cena produz belezas que por vezes escapam do universo pop brasileiro. A obra poética de Oswaldo Schlikmann Filho, o Wado, é uma delas.
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