André Mussalem segue a vida no tempo de resistência que pauta o EP 'Distopia 1'

André Mussalem segue a vida no tempo de resistência que pauta o EP 'Distopia 1'

Artista se confirma inspirado compositor com safra autoral de tom afetuoso que sinaliza grande álbum. Capa do EP 'Distopia 1 - A vida segue', de André Mussalem

Divulgação

Resenha de EP

Título: Distopia 1 – A vida segue

Artista: André Mussalem

Gravadora: Edição independente do artista

Cotação: * * * *

? Seguindo tendência diluidora do mercado fonográfico, adotada sobretudo por artistas do mainstream, o cantor e compositor pernambucano André Mussalem desmembrou o terceiro álbum, Distopia, em três EPs que serão apresentados ao longo deste ano de 2020.

O primeiro EP, Distopia 1 – A vida segue, aporta nas plataformas de áudio na próxima sexta-feira, 31 de janeiro, com cinco músicas compostas pelo artista e gravadas com produção musical e arranjos de Rafael Marques.

A safra inicial de Distopia é de ótimo nível, confirmando o talento do compositor, já evidenciado nos dois álbuns anteriores de Mussalem, No morro da minha cabeça (2016) e Pólis (2018). Das cinco faixas do EP Distopia 1 – A vida segue, duas já tinham sido previamente lançadas em singles em 2019.

Gravado com Flaira Ferro, o frenético frevo Gente de bem saiu em fevereiro, no embalo do Carnaval do ano passado, dando o tom anticareta de álbum que procura escapar da "festa chata" para se "virar em folia" e resistir "com o coração", como avisa Mussalem na letra da composição.

Em agosto, o ijexá Leão – gravado pelo artista com a nova baiana Illy – entrou na dança, no passo do afoxé, seguindo o bloco da resistência com leveza e esperança de que "esse tempo vai passar".

Mas nem tudo é leveza na era da distopia. Encorpada com cordas que evocam certa dramaticidade, a canção O amor nos tempos de cólera faz trocadilho batido com o título do romance mais famoso do escritor colombiano Gabriel García Marquez (1927 – 2014) – O amor nos tempos do cólera (1985) – para tentar se desconectar do ódio propagado em redes sociais.

Alocada na abertura do EP, a canção O amor nos tempos de cólera destila melancolia que reverbera na faixa seguinte, Idade Média. Esse abolerado samba-choro lança o amante nas trevas de um "tempo que parou". A letra conjuga verbos e prosódias do passado em sintonia com a tradicional arquitetura musical da faixa.

Na terceira ponta do triângulo de novidades do EP, o afetuoso xote Exílio nº 5 põe amor na bagagem de quem está saindo do Brasil para que, em terra estrangeira, o "tempo bom" não seja esquecido. Mussalem gravou o xote com o conterrâneo Martins.

Antenado com o Brasil atual, Distopia 1 – A vida segue dá continuidade à obra engajada, mas nunca panfletária, de André Mussalem, artista que toma partido da resistência no tom afetuoso de EP que sinaliza álbum vigoroso, previsto para ser lançado de forma completa no início de 2021.
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