Huawei testou sistema de reconhecimento facial que emitia alerta de acordo com etnia, diz jornal

Huawei testou sistema de reconhecimento facial que emitia alerta de acordo com etnia, diz jornal
Reportagem do 'Washington Post' revelou documentos em que companhia diz ser possível enviar 'alarme' para autoridades ao identificar uigures, minoria muçulmana na China. Huawei trabalhou com startup Megvii em sistema de reconhecimento facial que podia alertar autoridades sobre a presença de uigures.

REUTERS/Aly Song

A empresa chinesa Huawei testou sistemas de reconhecimento facial que poderiam alertar autoridades sobre a presença de uigures, uma minoria muçulmana do país, de acordo com duas reportagens do jornal "Washington Post".

A primeira matéria, publicada na terça-feira passada (8), revelou documentos da empresa obtidos pelo grupo de pesquisa de vigilância por imagem "IPVM".

O material explicava o funcionamento desse sistema, e estava disponível no próprio site da companhia.

Os papéis mostraram que a Huawei trabalhou com uma startup de reconhecimento facial chamada Megvii em 2018, e que as companhias testaram um sistema de inteligência artificial que poderia escanear rostos em uma multidão e estimar a idade, sexo e etnia de pessoas.

Se esse sistema identificasse o rosto de uma pessoa pertencente à minoria muçulmana uigur, ele poderia emitir um "alarme" para autoridades.

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As duas empresas confirmaram ao "Washington Post" que o documento era legítimo, e um porta-voz da Huawei afirmou que se tratava somente de "um simples teste que não teve aplicações no mundo real".

Em outra reportagem, publicada no último sábado (12), o jornal afirmou que a Huawei trabalhou com diversas empresas para desenvolver produtos de vigilância, com base em materiais de marketing disponíveis no site da companhia.

Documentos de pelo menos quatro parcerias falavam sobre a capacidade de identificar pessoas por etnia.

Após o contato do jornal, o material de marketing foi removido do site. Em comunicado ao "Washington Post" a Huawei disse que "não tolera o uso de suas tecnologias para discriminar ou oprimir membros de qualquer comunidade".

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Em junho passado, após o assassinato de George Floyd na cidade de Minneapolis, a IBM anunciou que não iria mais desenvolver e pesquisar tecnologias de reconhecimento facial, alegando riscos de privacidade e possíveis injustiças caso a tecnologia fosse usada por forças policiais.

Pouco depois, a Amazon anunciou uma moratória de um ano para o uso da sua plataforma chamada "Rekognition", mas disse planejar voltara vendê-la após regulamentações do setor nos EUA.

Sanções dos EUA

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos adotou sanções a 8 empresas chinesas, incluindo a Megvii, no ano passado. A decisão estava relacionada com "violações de direitos humanos" contra uigures e outros grupos muçulmanos.

O governo americano também restringiu a atuação da Huawei no país, impedindo a exportação de tecnologia americana para a companhia e restringindo negócios, alegando que o uso de equipamentos de telecomunicações da empresa representa uma ameaça à segurança nacional, algo que a companhia nega.

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