Escritora cujo livro foi tema do desfile da Portela morou em Porto Ferreira na adolescência

Escritora cujo livro foi tema do desfile da Portela morou em Porto Ferreira na adolescência

A Portela, escola de samba mais antiga do Rio de Janeiro em atividade – completou 101 anos neste Carnaval –, veio para o desfile na Marques de Sapucaí este ano com o samba-enredo "Um defeito de cor", inspirado no livro homônimo de Ana Maria Gonçalves, considerado uma das maiores obras literárias brasileiras, senão a maior, deste século.

O que muitos leitores do Jornal do Porto podem não saber é que Ana Maria Gonçalves viveu por muitos anos em Porto Ferreira durante sua adolescência e juventude. Nascida em Ibiá (MG), em 1970, ela mudou-se para o município ferreirense porque seu pai trabalhava na antiga fábrica da Nestlé, onde hoje é a Cargill.

Aqui, estudou na escola Sud Mennucci durante o ensino fundamental e, depois, fez o ensino médio em Pirassununga. A reportagem apurou com alguns antigos colegas que Ana Maria sempre foi uma aluna que se destacava, principalmente quando se tratava da escrita.

Segundo informa a Wikipedia, a paixão pela leitura nasceu durante a infância e, desde criança, Ana Maria lia jornais, revistas e livros. Já adulta, trabalhou como publicitária em São Paulo, mas abandonou a profissão em 2002 para morar em Itaparica (BA) e escrever seu primeiro livro, "Ao Lado e à Margem do Que Sentes Por Mim". O romance foi lançado de forma independente em 2002, e vendeu praticamente toda a edição de mil exemplares por meio da divulgação pela internet.

A autora trabalhou durante 5 anos para escrever seu segundo romance, "Um Defeito de Cor", dos quais a autora utilizou dois anos para uma pesquisa rigorosa, um ano para escrita e mais dois anos para reescrita, sendo lançado em 2006, pela editora Record. A obra conquistou o Prêmio Casa de las Américas na categoria literatura brasileira, em 2007, sendo considerado por Millôr Fernandes o livro mais importante da literatura brasileira do século 21.

O livro conta a história de Kehinde, capturada no Daomé, Benin, aos 8 anos de idade, trazida ao Brasil onde foi batizada Luiza; sua jornada de escravidão e liberdade vivida na Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo, o retorno à África, a tentativa de voltar ao Brasil. Oitenta e nove anos de uma mulher negra do século 19, em sua complexidade, amores, amigos, filhos, política, trabalho, inteligência, estratégia, resiliência. São 952 páginas.

Em 2017, o livro já havia vendido cerca de 16 mil exemplares. E reportagens publicadas esta semana na grande imprensa dão conta que, após o sucesso do enredo da Portela, o livro está esgotado e deve receber novas edições em breve.

Após o lançamento do livro, Ana Maria Gonçalves morou durante 8 anos nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, desenvolveu diversos trabalhos e participa de muitos debates e entrevistas sobre a questão racial no Brasil e, claro, literatura. Em dezembro de 2016, se tornou colunista de assuntos raciais, culturais e políticos do jornal The Intercept Brasil. Mais recentemente, no ano passado, foi entrevistada no programa "Roda Viva", da TV Cultura.