O "último dos Moicanos" da alfaiataria, fala sobre a "extinção" de uma profissão milenar.

No Brasil, os alfaiates chegaram com os portugueses, acompanhando a família real e os nobres

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Em 1275, o mundo da alfaiataria começava a revolucionar as classes sociais na Inglaterra, quando as pessoas da classe começaram a possuir roupas com cortes adequados, feitos pelos alfaiates e tecelões dentro das próprias residências. A profissão de alfaiate é das mais antigas do mundo. Desde os primórdios, no Egito, posteriormente na Grécia e Roma, durante a Idade Média e Renascença foi das mais importantes pela influência de seus exercentes no âmbito social dos que bem vestidos se apresentavam. O alfaiate possuía todo o conhecimento necessário para confeccionar a peça perfeita. Como possuía contato direto com a classe burguesa, o alfaiate tinha a pressão da perfeição: o erro poderia acarretar em multas e até mesmo na perda de todos os clientes. No Brasil, os alfaiates chegaram com os portugueses, acompanhando a família real e os nobres.

E com o passar do tempo, essa profissão se tornou uma profissão grandiosa. O Sr. Antônio Alves Coutinho, conhecido como Coutinho Alfaiate, tornou-se um dos remanescentes dessa profissão em Porto Ferreira. Por que a profissão de alfaiate tem cada vez menos profissionais em exercício da profissão? "A profissão de alfaiate é quase uma medicina. Ninguém aprende da noite para o dia. Todos os dias é necessário atualizar-se. Acontece que o jovem de hoje, quer ganhar dinheiro sem antes aprender a profissão. Isso explica a causa dessa profissão milenar se encontra a beira da "extinção", declara Coutinho.

Aos 67 anos, o profissional tem colecionado trabalhos da alta costura, atendendo o público sofisticado, que ama vestir-se bem. Mas isso não tirou do alfaiate, o olhar social e humanitário. Como presidente de entidades e associações, o homem natural de São Simão, que mora em Porto Ferreira desde 1964, carrega em seu currículo o ofício de fazer o bem, de lutar pelas classes sociais, pois o eclético Coutinho que também se tornou um imortal da Academia Ferreirense de Educação, Artes, Letras e Ciências, não viveu apenas em dias de glórias. Ele relata dos tempos difíceis que viveu, principalmente quando a indústria têxtil causou grande impacto no mundo das confecções, fabricando ternos praticamente três vezes mais baratos frente aos que eram feitos em alfaiatarias.

Mas em meio as dificuldades, ele conseguiu criar os três filhos e não esconde a satisfação do esforço e dedicação ao trabalho e a família. A mais velha, Daniela, trabalha no mesmo ramo em que o pai na Inglaterra, onde vive com a família. A Gabriela é auxiliar de laboratório e o Rafael, empresário. "Eu sou um vencedor, que cheguei aonde cheguei lutando honestamente e nunca desisti de meus sonhos", afirma o alfaiate.

Essa é a mensagem que ele gostaria de deixar aos jovens que pensam em entrar no mercado de trabalho ganhando dinheiro antes de profissionalizar-se. Coutinho diz ser procurado para abrir uma escola de alta-costura, mas estuda a possibilidade. A verdade é que o alfaiate foi especializar-se no país onde a profissão iniciou-se na era moderna. Assim, conheceu Liverpool, Manchester, Leeds e Londres, onde encantou com o trabalho que há 58 anos exerce, colecionando histórias, por isso prepara um livro de autobiografia.

Diante de sua imensa contribuição para com o município, foi perguntado se possuí o título de cidadão ferreirense e ele foi enfático a responder que essa é uma honraria que ainda não possuí, mas nem por isso deixa de ser feliz como um verdadeiro ferreirense. A profissão de alfaiate, que a muitos encantam e poucos praticam, tem colocado seu nome entre os cidadãos de respeito em Porto Ferreira, com a profissão que aos 6 de setembro será lembrada mais uma vez, tendo nesse dia a certeza que a "medicina da moda", precisa de nobres cidadãos que amam trabalhar, para que Coutinho não seja o "último dos moicanos" dessa profissão, mas um profissional que deixará sua inspiração para futuras gerações.