Empresas preparam 'autodesligamento' de software usado por hackers contra governo dos EUA

Empresas preparam 'autodesligamento' de software usado por hackers contra governo dos EUA
Mecanismo projetado para evitar que especialistas estudem a praga digital foi usado para desativá-la, mas empresas ainda podem estar comprometidas. Microsoft confiscou endereço que era usado para controle remoto do vírus e colaborou com FireEye e GoDaddy para aplicar mudança que desliga o software espião.

Anders Engelbøl/Freeimages.com

O componente de acesso remoto incluído por hackers em uma atualização legítima do software Orion, da SolarWinds – e que foi usado para invadir sistemas do governo norte-americano e a empresa de segurança FireEye – está sendo desativado por meio de um sistema de "autodesligamento" que os próprios invasores programaram no software.

O mecanismo não foi ativado pelos ciberspiões, mas por especialistas de segurança.

Uma colaboração entre a FireEye, a Microsoft e a GoDaddy permitiu tirar o controle dos hackers sobre o endereço com qual o vírus se comunica para obter instruções. Os técnicos então configuraram o endereço de tal maneira que o programa espião, ao contatar esse servidor, se desativa em caráter permanente.

Na prática, é semelhante a um comando de autodestruição. Porém, nenhum comando específico foi enviado e nenhuma modificação é realizada nos computadores das vítimas – o vírus simplesmente "adormece".

O vírus foi programado para não mais se comunicar com seu sistema de controle caso o endereço de IP fosse configurado para uma das várias redes da Microsoft. É possível que os invasores tivessem previsto que a fabricante do Windows assumiria o controle do endereço e, sem saber do mecanismo de desligamento, acabassem interrompendo todo o funcionamento da praga digital.

A Microsoft tem atuado contra diversas pragas digitais criando o que especialistas chamam de "sinkholes". A ideia é redirecionar a comunicação de pragas digitais para um sistema benigno, que pode ser estudado para ajudar a identificar vítimas e prever os próximos passos dos criminosos.

A FireEye, porém, confirmou em comunicados à imprensa que o mecanismo foi usado propositalmente pelos especialistas para desativar a praga digital. A Microsoft foi citada pela FireEye desde o primeiro anúncio público da FireEye sobre a invasão como uma colaboradora das investigações.

A FireEye destacou que essa medida não vai eliminar outros códigos maliciosos que os espiões podem já ter instalado nas redes atacadas. A medida vai apenas impedir que outros invasores se aproveitem dessa brecha de acesso remoto.

O efeito também lembra a ação do britânico Marcus Hutchins, que freou o ataque do vírus WannaCry em 2017 assumindo o controle do endereço de comando da praga digital.

Ataque à FireEye: hackers acessaram ferramentas de ataque

Arte/G1

Entenda o caso

A consultoria de segurança digital FireEye informou no início de dezembro que sofreu um ataque de hackers e que eles conseguiram roubar suas ferramentas de ataque. A empresa afirma que suspeita de envolvimento de um grupo sofisticado e patrocinado por um governo, mas não informa de qual país

No domingo (13), a imprensa norte-americana divulgou que o governo dos Estados Unidos estava reagindo a um ataque cibernético que havia atingido diversas agências e departamentos, inclusive o Tesouro. A imprensa norte-americana afirma que existem suspeitas de que os russos seriam os responsáveis, mas representantes do governo de Putin negaram

Ainda no domingo, a FireEye publicou mais detalhes sobre a invasão e revelou que os hackers atuaram por meio do Orion, um software de monitoramento de rede da SolarWinds, uma empresa de tecnologia dos Estados Unidos

A SolarWinds confirmou que foi vítima de hackers na segunda-feira (14). Em nota, a empresa explicou que uma atualização distribuída entre março e junho foi acompanhada de um programa malicioso que dá acesso remoto aos sistemas de clientes – entre os quais estão o governo americano, empresas de telecomunicações e centenas de grandes empresas. Segundo a SolarWinds, "menos de 18 mil clientes" baixaram a atualização sabotada.

A Microsoft assumiu o controle do sistema de comando usado pelo software espião na terça-feira (15). A FireEye então confirmou que o endereço foi configurado para ativar um mecanismo existente no software que desativa seu funcionamento, impedindo novos ataques.

Nesta quinta-feira (17), a Microsoft admitiu que ela também foi invadida pelos hackers, mas negou que eles tenham conseguido comprometer dados ou aplicativos de clientes.

Invasões confirmadas

A FireEye disse ter identificado e comunicado vítimas do ataque na Europa, na Ásia e no Oriente Médico. A maioria das empresas e alvos não teve seu nome de divulgado. Veículos de imprensa norte-americanos já citaram as seguintes invasões:

Governo dos Estados Unidos: Departamento do Tesouro, Administração Nacional de Telecomunicações e Informações, Institutos de Saúde do Departamento de Saúde, Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestrutura, Departamento de Segurança Nacional, Departamento de Estado, Administração Nacional de Segurança Nuclear, Departamento de Energia

Estados: Fontes anônimas afirmaram que pelo menos três estados norte-americanos tiveram suas redes invadidas, mas foi informado quais seriam esses estados.

Cidades: Austin (Texas)

Empresas: FireEye, Microsoft, SolarWinds

Dúvidas sobre segurança, hackers e vírus? Envie para [email protected]

Veja 5 dicas se segurança para a sua vida digital:

5 dicas de segurança para sua vida digital

Veja mais vídeos de SEGURANÇA DIGITAL
Acompanhantes Goiania