Priscila Tossan confirma em EP a singularidade evidenciada no programa 'The Voice Brasil 2018'

Priscila Tossan confirma em EP a singularidade evidenciada no programa 'The Voice Brasil 2018'

Cantora se ambienta bem na praia do soul e do R&B com as cinco músicas do disco 'Cine Odeon', produzido por Kassin, Alê Siqueira e Tó Brandileone. Capa do EP 'Cine Odeon', de Priscila Tossan

Thiago Calviño

Resenha de EP

Título: Cine Odeon

Artista: Priscila Tossan

Gravadora: Universal Music

Cotação: * * * *

? Impossível ouvir o segundo EP de Priscila Tossan – Cine Odeon, lançado nesta sexta-feira, 22 de maio, com cinco músicas – sem pensar em Cassiano, em Sandra de Sá, em Tim Maia (1942 – 1998) e em todos os artistas da linhagem do soul brasileiro, dinastia iniciada no alvorecer da década de 1970.

Cantora e compositora carioca que há dois anos se tornou a sensação da sétima edição do programa The Voice Brasil, exibida pela TV Globo em 2018, Priscila Tossan descende dessa turma.

O canto esperto da intérprete pode não ter o calor da voz de Sandra ou a extroversão de Tim, mas Tossan é membro legítimo da família da black music do Brasil. O suingue soul em que a artista caiu ao reinventar Negro gato (Getúlio Côrtes, 1965) em aclamada apresentação no The Voice Brasil 2018 deixou claro a ascendência da intérprete.

Priscila Tossan foi eliminada da competição na semifinal ao cantar Bom senso (Tim Maia, 1975) sem o poder de sedução que mostrara em performances anteriores que embeveceram os técnicos e o público pela força da personalidade da artista. Mas de certa forma foi a vencedora porque saiu do programa com o respeito artístico de nomes como Lulu Santos.

Contratada pela gravadora Universal Music em meados de de 2019, Tossan confirma as qualidades singulares no EP Cine Odeon, disco editado três anos após o EP inicial da artista, Céu azul (2017).

A escolha do repertório reforça a personalidade da artista. Em vez de se apoiar nas muletas dos sucessos alheios, truque fácil de efeito efêmero, Tossan caminha sozinha no EP Cine Odeon com repertório inédito, formatado em estúdio por três produtores – Alexandre Kassin, Alê Siqueira e Tó Brandileone – que sintonizam o som de Tossan com os dias de hoje, sem nostalgia da modernidade dos artistas referenciais que influenciaram a cantora e compositora.

Das cinco faixas, Quanto tempo faz sobressai no EP e traz a assinatura solitária de Tossan como compositora. Trata-se de baladão soul conduzido por piano de aura por vezes jazzy. "Menina, eu quero dançar com você...", entrega Tossan, suplicante, com o desejo à flor da pele ao longo dos quatro minutos e 46 segundos da gravação.

Veja só (Danilo Dias e Feijão) também soa como cantada na voz acariciante de Tossan. "Amor, fica comigo até mais tarde / Eu quero o teu calor / Vamos sambar a noite inteira / Até o sol se pôr", propõe a cantora, sem cair no suingue do samba, como faz supor a letra que fala em iceberg.

Curiosamente, Iceberg é o título do R&B contemporâneo composto por Tossan com Danilo Dias, Feijão e William Bruno. Música alocada como a segunda faixa do EP, Iceberg se harmoniza com o acento soul da canção-título Cine Odeon (Aline Coutinho, Vitin e Eduardo Martins).

Vida (Danilo Dias) se irmana com o tom do disco e se impõe como outro ponto alto do EP Cine Odeon. "Vida, seja bela comigo / Me mostre o caminho / Eu tenho andando sozinho / Feito um menino / Querendo aprender", pede a cantora com humildade nos versos dessa música cuja gravação mostra, paradoxalmente, que Priscila Tossan já sabe tudo...