Impactos psicoemocionais na pandemia da COVID-19

À convite do Jornal do Porto, o Psicólogo Marcos Felipe Chiaretto faz uma sugestão para aprofundarmos nossas reflexões e comportamentos referentes ao momento da pandemia mundial do coronavírus.

Impactos psicoemocionais na pandemia da COVID-19

Os brasileiros passam por momentos de grandes discussões e questões físicas, psicológicas, emocionais, sociais, políticas e econômicas no primeiro semestre de 2020 devido ao surgimento da covid-19, doença que causa o novo coronavírus. Ela tem a particularidade de se propagar com grande rapidez e intensidade. Mais que isso: espalha pavor entre as diversas populações do mundo. O desconhecido – o novo coronavírus -, repercute na desorganização de várias esferas pessoais e profissionais.

O processo de isolamento social (ficar em casa – utilizando-se, inclusive, a hastag #FiqueEmCasa nas diversas redes sociais), o distanciamento social (distância segura entre as pessoas, não abraçando, beijando umas às outras e/ou apertos de mãos) e a quarentena (restrição da pessoa que é sintomática ou assintomática) mudaram a rotina e os planos de vida do ser humano brasileiro. Contudo, é válido destacar que cada ser humano tem sua interpretação pelos fatos da vida, podendo ter opiniões diversas. Somos plurais, por isso os comportamentos frente a covid-19 também os são.

O medo possui papel de resguardar a vida humana, mas em grande proporção pode causar inúmeras enfermidades do corpo e da mente, em especial afetar o sistema imunológico. Em meio à pandemia, no campo físico, o corpo pode sofrer com alguns sintomas, como taquicardia, dor de cabeça, náusea, vômitos, aumento ou queda da pressão arterial, alterações dos índices glicêmicos, desregulações do sono, compulsões alimentares, uso excessivo de bebida alcóolica, entre outros.

Já no campo emocional, nota-se em determinados contextos, diversos sintomas coletivos e individuais como medo, ansiedade em altos níveis, angústias das mais diversas, irritabilidade, choro repentino, raiva, alteração da atenção, alteração da memória, estresse, desespero, necessidade da ressignificação de vida e morte, insegurança financeira, receio de perder pessoas nos grupos de risco. No Brasil observa-se um receio de perder pessoas que tampouco fazem parte destes grupos vulneráveis.

Quando discutido sobre o desenvolvimento humano, na infância é necessário que os pais/responsáveis possam explicar de forma lúdica e verdadeira a respeito do que ocorre no Brasil e no mundo, pois nem sempre as crianças conseguem ficar dentro de casa e evitar o contato, afinal infância é energia. Grande parte da juventude tem demonstrado irritação e, um comportamento curioso de alguns lares brasileiros que vêm sendo observado é que os adolescentes – que antes veneravam ficar na redes sociais e jogos dos mais diversos -, hoje pedem para sair e interagir com os grupos de amigos de forma presencial. As pessoas idosas podem apresentar choro e incômodo de não poderem ir ao supermercado, à igreja, realizar exercícios físicos (como academia, hidroginástica e natação, por exemplo), sentindo-se também enclausuradas. Seja qual for a idade, é necessário oferecer a escuta, entrando com carinho no mundo do outro.

Um dos pontos necessários é manejar a quantidade de informações que temos recebido pela mídia: é quase uma avalanche de dados do que devemos fazer. Seja na televisão, pelo celular, pelo computador ou por qualquer outro meio, as notícias precisam ser dosadas, embora são analisadas como importantes. Aqui vai um alerta: não assistir nada também nos faz ficar desinformados. As fake news (informações e notícias falsas) tem permeado a sociedade como um todo e precisam ser combatidas: são um desserviço.

É necessário enaltecer que quadros como estresse pós-traumático, ansiedades, depressões e outras doenças do corpo e da mente podem ocorrer neste período, bem como nos próximos meses. Também é considerado importante investigar comportamentos e adoecimentos que já ocorriam anteriormente, podendo acentuar tais quadros atuais.

O medo, portanto, precisa ser interpretado. É momento de lidar com a resiliência, ou seja, com a capacidade de lidar com a adversidade e frustração. Recebemos o "não" das diversas esferas mundiais, federais, estaduais e municipais. A negação – um dos principais mecanismos de defesa do ego (eu) – é observada quando as pessoas não respeitam o uso de máscaras nos lugares já determinados, nos horários reservados para atendimentos às pessoas idosas, bem como a não utilização do álcool em gel e a lavagem das mãos. Há determinadas pessoas que não dão crédito as pesquisas científicas em nosso país, favorecendo a propagação do vírus.

Falar livremente dos sentimentos, colocar para fora suas inseguranças, "vomitar" as angústias que assolam o peito podem colaborar neste momento. É necessário respeitar e valorizar – mas não só agora, e sim daqui para frente mais ainda – os profissionais das diversas áreas, seja qual for a profissão exercida – desde a limpeza até mesmo o cargo de largo escalão.

Tentar manter o equilíbrio emocional, cuidar da saúde física, mental e social, filtrar as informações recebidas, realizar atividades que propiciem prazer dentro de casa, dialogar com quem gosta, entre outras alternativas, podem ser a base de enfrentamento do novo coronavírus. É na crise que poderemos ver quais as ressignificações são necessárias para você enquanto ser humano.

Marcos Felipe Chiaretto é Psicólogo (CRP: 06/103721), Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria com Ênfase em Dependência Química, Especialista na área de Avaliação Psicológica, Mestrando e pesquisador na área de sexualidade humana. Tem formação na área de tanatologia (perdas e lutos). É professor universitário de pós-graduação em Ribeirão Preto e possui consultórios nos municípios de Descalvado e Porto Ferreira.