Irmã Ana Rosa: conheça a trajetória da religiosa ferreirense que dedica a vida a serviço do próximo

Formada em Psicologia e Teologia Catequética, atualmente, Ana Rosa é a única freira em atividade nascida em Porto Ferreira.

Irmã Ana Rosa: conheça a trajetória da religiosa ferreirense que dedica a vida a serviço do próximo

A cerâmica é uma das mais antigas técnicas da humanidade. A Sagrada Escritura traz em Isaías a manifestação de Deus enquanto oleiro, que molda como a argila, aqueles que O pertencem. A simples metáfora revela riqueza de significados: a mão marcada pelo trabalho, o barro que se abandona totalmente aos cuidados do artesão e que aos poucos vai tomando forma pelo ato de amor das mãos do seu criador.

E foi na cidade de Porto Ferreira, Capital Nacional da Cerâmica, que Ana Rosa Oliveira, se deixou moldar pelo desejo do Grande Oleiro, e dedicou a sua vida à construção de uma comunidade mais justa e fraterna. Filha de Patrocínio Oliveira e Veronilda Pedroso, irmã Ana Rosa é hoje a única freira ferreirense em atividade.

Por conta do trabalho do pai, Ana morou em São Paulo, no Parque São Lucas, até a 4° série, antes de voltar para Porto. Aqui, residiam no bairro Recanto Bela Vista. E para ela, a vista bela do bairro era os pomares de pocã, localizados onde hoje é o bairro do Serra D"Água. Ana Rosa conta que a diversão das crianças de sua época era apanhar a fruta no pé, "com o consentimento dos proprietários", reforça ela.

Com o avançar do progresso, aos poucos os pomares foram dando espaço para um novo bairro: o Jardim Serra D"Água. Ana Rosa relata que os moradores do Bela Vista, entre eles a sua família, participaram do processo de construção do novo bairro, especialmente da sua "formação religiosa". As primeiras sementes da Comunidade Santa Luzia, foram plantadas nesta época nos antigos pomares de pocã.

"Como ainda não havia a comunidade, a catequese era feita na área de casa e foi lá que eu comecei a minha trajetória catequética", se recorda. A menina que um dia dedicaria a sua vida à Igreja, começou cedo a frequentar a comunidade. Nesta época, ainda criança, brilhava os olhos para participar do famoso grupo de jovens da Matriz de São Sebastião: o COJAC. Como ainda não tinha idade para participar, um dos membros do grupo, o Paulo Carvalho, sugeriu a criação do COJAQUINHO, uma versão mirim do COJAC.

"Era um grupo envolvido não só com a questão religiosa, mas a partir disso muito voltado para as questões sociais da cidade", comenta. Ana Rosa fala que o grupo era ativo e muito unido sempre apoiando e desenvolvendo campanhas em pról da comunidade local. Para ela, a participação no grupo foi decisiva em sua trajetória religiosa. "Foram com eles que eu aprendi a sonhar, não só para mim e minha família, mas para a humanidade".

Ana Rosa morou em Porto Ferreira até entrar para vida religiosa, neste período se mudou para Ribeirão Pires e de lá para a cidade de Santa Rita do Passa Quatro para fazer o noviciado. No ano de 1994, na Matriz de São Sebastião, Ana realizou seus Primeiros Votos, com a presença do Padre Ocimar, o mesmo que anos antes havia sido responsável por sua catequese e Primeira Eucarística.

Depois se mudou para Santo André onde se formou em Psicologia e Teologia Catequética, para depois retornar a Santa Rita, atuando como instrutora de jovens que queriam ingressar na vida religiosa. Em 2008 e 2009, já em Ribeirão Pires, morou em Veneza, no local em que foi fundado o Instituto das Filhas de São José, ordem a qual pertence. De lá veio para Santa Rita, onde reside atualmente.

"A minha vida até chegar em Santa Rita, sempre passou pelo alicerce, pela história de Porto Ferreira". A freira conta que é um orgulho ser conhecida entre as irmãs religiosas, como a filha da Capital da Cerâmica. "É o meu berço. As irmãs quando falam, "A irmã Ana Rosa é da Capital da Cerâmica", aí é muito lindo, né? Saber que a gente tem um lar, um lugar reconhecido", comenta ela.

A irmã Ana Rosa conta que muitas reflexões religiosas utilizam metáforas da agricultura, como a semente, o germinar, o frutificar, etc, mas que em seu acompanhamento vocacional, ela se sentiu tocada por meio de uma metáfora do rio. "O dia que eu fiz a experiência de Deus, a experiência vocacional, foi quando falou do rio, porque de certa forma, o rio Mogi mora dentro do meu coração", recorda ela. Ana ainda comenta que toda vez que retorna para Porto vai "dar uma volta na ponte".

A cidade que é cortada pelo rio, que jorra esperança, que leva e trás vida, marcou a trajetória da irmã. "Então quando Jesus se aproxima a beira do lago e chama, eu me senti chamada". Para ela, a própria estrutura da cidade operou como um berço vocacional. "Muitas das coisas que eu faço hoje, eu aprendi na minha cidade".

Entre as muitas lembranças marcantes, está a das celebrações de Corpus Christi. Ana Rosa conta que, semanas antes, começava os preparativos sob o comando do padre Ocimar para o enfeite das ruas. Na véspera de quarta para quinta, seus irmãos mais velhos e outros jovens, iam ao baile e quando saiam, já eram esperados pelos demais na rua para começar a decoração com pó de serra, tingido na Sede Paroquial.

Outro evento que se recorda Ana Rosa, eram os grandes teatros da Paixão de Cristo, que aconteciam na Sexta-feira Santa. A organização do teatro, que acompanhava longos ensaios, às vezes, até mesmo de madrugada, mobilizava todo o COJAC. "A paróquia inteira se envolvia muito e entregava para nós, jovens, essa ação e isso era um exemplo muito grande de responsabilidade", destaca.

Ana Rosa ainda se recorda do tempo de escola. Ela conta que quando acordava, o rádio já estava ligado na Primavera e a música que ouvia, o acompanha até hoje. Ela, um pouco tímida, reproduz a canção que desperta lembranças daquela época: "No canto do rádio, no meio do povo, o que há de mais bonito, o que há de mais novo, vem comigo, vem ser amigo, embarque nessa era. Ligue-se, amarre-se, Primavera!".

"A gente tem que ter um lugar, um lugar que a gente possa voltar". E Porto Ferreira é esse lugar para a Irmã Ana Rosa Oliveira. Para o futuro, a religiosa ferreirense sonha com o fim das desigualdades e deseja vida, e vida em abundância. "Todo mundo sabendo ser fermento e dando sua pitada de contribuição para um mundo melhor".