Chico Pinheiro merece indicação ao Grammy 2021, mas Bebel Gilberto concorre com pior álbum da carreira

Chico Pinheiro merece indicação ao Grammy 2021, mas Bebel Gilberto concorre com pior álbum da carreira
Chico Pinheiro e Bebel Gilberto

Fernanda Faya / Luigi & Iango / Fotos de divulgação em montagem do G1

? ANÁLISE – Os nomes de Chico Pinheiro e Bebel Gilberto na lista de indicados ao Grammy 2021 – revelada nesta terça-feira, 24 de novembro – soam naturais porque ambos são artistas brasileiros com visibilidade em nichos específicos do mercado musical norte-americano. Mas isso não significa que ambas as nomeações sejam justas.

Compositor e excepcional violonista e guitarrista paulistano, Chico Pinheiro faz jus à indicação do álbum City of dreams (2020) na categoria Álbum de jazz latino. Lançado em julho, o disco City of dreams confirmou o talento do artista. Trata-se de disco de jazz, mas com nítidas influências de música brasileira que justificam o enquadramento no rótulo latino.

Gravado por Pinheiro com Bruno Migotto (baixo), Chris Potter (saxofones), Edu Ribeiro (bateria) e Tiago Costa (piano), o álbum reverberou ecos das obras de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e Dori Caymmi no repertório autoral. Tais credenciais tornam City of dreams um dos favoritos na categoria Álbum de Jazz Latino.

Já a indicação de Bebel Gilberto na categoria Álbum de música global com o disco Agora (2020) soa surpreendente.

"Música global", cabe ressaltar, é o rótulo escolhido para substituir o termo "world music" sem tornar a categoria menos genérica e apta a abrigar qualquer artista que faça som diferente do padrão pop norte-americano ou inglês.

Qualquer quer seja o rótulo, Agora – álbum de textura eletrônica lançado por Bebel em agosto, por gravadora Belga, com produção musical assinada pelo pianista norte-americano Thomas Bartlett, parceiro da artista na composição do insosso repertório autoral – é o título mais anêmico da discografia irregular da cantora de origem norte-americana e criação brasileira.

Talvez tenha pesado na indicação o fato de ser o primeiro álbum de Bebel desde a morte do pai, o mito João Gilberto (1931 – 2019), nome forte no mundo todo. Até porque quase todas as entrevistas promocionais do disco versaram sobre as perdas recentes da artista, sobretudo a de João.

Seja como for, a indicação de Bebel é surpreendente em categoria em que o Brasil sempre concorreu (e por vezes venceu) com álbuns de gigantes da MPB como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento.

A vitória de Bebel Gilberto com Agora parece improvável. Mas aí vale o clichê: como o álbum Agora é ruim, a indicação por si só já é vitória para disco que tendia a cair em justo esquecimento.