Alguma coisa está fora de ordem

 Alguma coisa está fora de ordem

O coronavírus veio para fazer parte de nossa vida e existência. Há muitas questões que não sabemos dos vírus. A primeira delas é que, neste século e desde o século passado, o XX, os vírus são a maior causa das doenças coletivas. Gripes, herpes, doenças pulmonares, alguns raros tipos de câncer e outras doenças fazem parte da vida das pessoas todos os anos.

O que aconteceu para que os vírus ganhassem esse papel? E como ficamos sabendo de sua primazia nas doenças humanas? Para tentar responder esta pergunta pensamos a relação entre a evolução dos animais, cultura e sociedade.

Darwin com sua inteligência incomum para estudar o parentesco dos animais indicou nossa transformação ao longo do tempo. A isso chamou de adaptação. Muda-se o meio onde vivemos, mudamos internamente. A mudança interna nos animais se faz com muito tempo. No entanto, em seres como os vírus essas transformações são mais rápidas graças ao seu eficiente e econômico de reprodução. Os vírus têm material genético DNA e RNA, um envoltório de proteína ou glicoproteína e uma série de estratagemas para sua sobrevivência.

Boa parte dos vírus adaptaram-se no corpo dos morcegos e estes mamíferos de asas, se adaptaram ao vírus. Contêm os vírus das gripes, mas não desenvolvem nenhum sintoma, nem morrem.

O covid-19 é esperado há mais de cinco anos nessa perspectiva evolutiva. Médicos, biólogos, biomédicos esperavam um vírus do mesmo ramo ou parentesco da influenza, do H1N1, Sars, Mers, as outras gripes. Como sabiam? Pela capacidade de adaptação desse ser. O covid-19 veio e mostra capacidade reprodutiva maior e mais rápida de seus outros parentes. Pior para nós: este vírus não morre se o hospedeiro falecer, diferente dos outros semelhantes. Adaptação; essa é a estratégia do coronavírus.

Também mais complexo que seus co-irmãos, o covid-19, adapta-se à reprodução em células dos pulmões, mas inova sua estratégia de reprodução interagindo com células do coração, do cérebro e dos rins. Antes, seus colegas vírus do mesmo ramo, apenas interatuavam com células do pulmão. Assim, temos um vírus com capacidade de reprodução muito maior e mais rápida.

Vírus, morcegos e homens. No meio destes três estão as matas, as florestas e as cidades. Nossa cultura muito depressa esqueceu que não temos apenas morcegos que hospedam vírus e vírus que se hospedam em homens, mulheres e crianças. Cada floresta devastada amplia a rede de vírus. São experts em hospedar em aves, morcegos e em outros animais que escapam da destruição das florestas. A estudiosa de bactérias e vírus, Lyn Margulis, já afirmou no século passado, "se todos animais, homens e plantas desaparecem, ainda sobrarão os vírus e as bactérias".

Temos tudo para desaparecer como espécie Homo sapiens sapiens (aquele que conhece o conhecimento). Como sociedade nos distanciamos da natureza, das plantas, dos animais e não nos reconhecemos como uma espécie a mais no planeta. Se pudéssemos, talvez, a areia do mar fosse substituída por ladrilhos. As cidades já são cimentadas. Mas nesse cimento e ladrilhos, os coronavírus deslizam sem problemas.

Para deter o coronavírus não bastam as vacinas, tão difíceis de serem feitas. Falta retomar a defesa das florestas, da sobrevivência das plantas, dos animais, rios, mares. Sem esta cultura, não temos muito mais o que esperar a não ser novas pandemias.