Fagner e Zeca Baleiro driblam redundância do segundo álbum ao vivo

Fagner e Zeca Baleiro driblam redundância do segundo álbum ao vivo

Abordagens de músicas alheias e duas recentes gravações de estúdio agregam valor ao disco legitimado pela afinidade entre os artistas de gerações distintas. Capa do álbum 'Ao vivo em Brasília, 2002', de Raimundo Fagner e Zeca Baleiro

Divulgação

Resenha de álbum

Título: Ao vivo em Brasília, 2002

Artista: Raimundo Fagner & Zeca Baleiro

Gravadora: Saravá Discos

Cotação: * * * *

? Antes de lançarem o álbum Raimundo Fagner & Zeca Baleiro em 2003, os cantores caíram na estrada com show de tom mais íntimo em miniturnê que contabilizou apresentações por oito cidades brasileiras em 2002.

Um registro informal da apresentação em Brasília (DF) foi descoberto por acaso e gerou o álbum ao vivo lançado na sexta-feira, 17 de abril, com 10 números do show e duas faixas-bônus gravadas recentemente em estúdio.

A ótima qualidade do áudio do disco Ao vivo em Brasília, 2002 salta aos ouvidos e evidencia a habilidade do engenheiro de som Leonardo Nakabayashi na masterização da gravação ao vivo.

Contudo, o principal mérito do álbum é driblar a inevitável redundância. Afinal, Fagner e Baleiro registraram oficialmente o show da turnê com o qual percorreram o Brasil ao longo de 2003 após o lançamento do disco de estúdio.

Captado em dezembro daquele ano, o show gerou DVD e álbum ao vivo lançados em 2004. Só que o repertório de Raimundo Fagner e Zeca Baleiro – O show é (um pouco) diferente do roteiro perpetuado em Ao vivo em Brasília, 2002.

Canção brasileira (Sueli Costa e Abel Silva, 1980), Dezembros (Raimundo Fagner, Zeca Baleiro e Fausto Nilo, 2003), Você só pensa em grana (Zeca Baleiro, 2000) e o medley com À flor da pele (Zeca Baleiro, 1997) e Revelação (Clésio Ferreira e Clodo Ferreira, 1978) são interseções dos dois repertórios que diluem o teor de novidade do segundo álbum ao vivo dos artistas sem anular de todo o interesse pelo inédito registro de show lançado em 2020 sem correções em estúdio e com sotaque mouro (tão característico da obra de Fagner na década de 1970) em boa parte dos arranjos.

Até porque Dezembros – a bela e melancólica que sobressaiu na safra autoral do disco de estúdio – reaparece com a letra ainda em construção, sem as alterações que seria feitas em 2003 para a gravação do álbum de estúdio.

Ainda assim, o valor de Ao vivo em Brasília, 2002 reside sobretudo nas abordagens de obras de lavras alheias. Na companhia dos músicos Adelson Viana (piano e acordeom) e Tuco Marcondes (violão e guitarra), Baleiro e Fagner destilam com sensibilidade a poesia de Orgulho (Paulinho da Viola e José Carlos Capinan, 1972), viajam de trem com leveza na cadência do xote que conduz De Teresina a São Luís (João do Vale e Helena Gonzaga, 1962) e repicam Cebola cortada (Clodo Ferreira e Petrucio Maia, 1977) com a devida densidade.

Os dois bônus de estúdio se integram bem ao tom do disco e contribuem para diminuir a redundância. As gravações do samba O meu amor chorou (Luiz Marçal Neto, 1971), sucesso do cantor Paulo Diniz, e da balada Quando o sol (Raimundo Fagner e Zeca Baleiro, 2020) – inspirada inédita que amplia a parceria dos compositores – agregam real valor ao segundo álbum ao vivo destes cantores que, embora de gerações distintas, sempre se harmonizaram no palco e nos estúdios.

A natural afinidade entre Raimundo Fagner e Zeca Baleiro legitima a edição do álbum Ao vivo em Brasília, 2002.