Nossa História: há 81 anos, pentacampeão de Fórmula 1 participou de corrida que passou por Porto Ferreira

Nossa História: há 81 anos, pentacampeão de Fórmula 1 participou de corrida que passou por Porto Ferreira

Porto Ferreira, 27 de junho de 1941. Uma sexta-feira.

Cerca de 6 meses antes de os Estados Unidos serem atacados em Pearl Harbour e entrarem de vez na 2ª Guerra Mundial. O município com pouco mais de 14 mil habitantes tinha como prefeito José Teixeira Vilela Filho, nomeado pelo governador Adhemar de Barros, e o país vivia o Estado Novo de Getúlio Vargas.

Era um período em que não havia jornais impressos com circulação periódica na cidade. O jornal O Ferreirense havia circulado de 1925 a 1934, em sua primeira versão, e de 1936 a 1938, na segunda, sendo que sua retomada seria somente em 1945.

Mesmo por isso, um fato curioso praticamente não encontra registros nos livros e na imprensa local, pelo menos que tenhamos conhecimento: uma corrida de automóveis considerada um dos maiores "raids" – como eram chamadas essas provas – do Brasil, a Prova Presidente Getúlio Vargas, teve Porto Ferreira em seu trajeto.

Organizada por Romeu Miranda e Silva, com apoio do Automóvel Clube do Brasil (ACB), a prova que reuniu cerca de 40 pilotos consistiu em 3.371 quilômetros através de estradas – em precárias e também boas condições – nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e terminado no ponto de partida, a cidade Rio de Janeiro.

Foram sete etapas em sete dias de árdua competição entre 22 de junho de 1941 (domingo) até o dia 29, com folga para os concorrentes na quarta-feira, dia 25 de junho.

A reportagem do Jornal do Porto teve acesso a um documento que narra detalhe por detalhe todas as etapas desta prova, que ganhou mais relevância ainda porque foi vencida pelo piloto argentino Juan Manuel Fangio, que na década seguinte se sagraria pentacampeão de Fórmula 1, feito que foi imbatível até este século, quando foi superado pelo alemão Michael Schumacher.

Ainda assim, Fangio mantém um recorde que talvez nunca seja quebrado. O de maior média de vitórias na F1. Ele venceu 24 das 51 corridas que fez na categoria (47%). Na segunda posição aparece o italiano Alberto Ascari, com 39% (13 vitórias em 33 corridas) e somente em terceiro aparece Lewis Hamilton, com 35% (103 vitórias em 294 corridas até agora).

Prestes a completar 30 anos de idade, o futuro pentacampeão de F1, ídolo do nosso tricampeão Ayrton Senna, ainda não era conhecido internacionalmente, mas já era campeão argentino. Essa foi a sua 12ª prova na carreira, iniciada em 1936, e primeira prova fora da Argentina. Até então, tinha uma única vitória oficial – Gran Premio Internacional Del Norte (disputada entre 28/09 e 12/10 de 1940). Ele veio ao Brasil com o seu grande amigo Antonio Elizalde, para lhe fazer dupla durante os dias de competição com sua "carretera" Chevrolet de 3.548 cc.

Além de vencer a Prova Getúlio Vargas, o argentino também foi o vencedor da etapa que passou por Porto Ferreira, a 6ª, cujo percurso total ia de Barretos (SP) a Poços de Caldas (MG), com 512 km, divididos em sub-etapas: Barretos-Taiúva, Taiúva-Ribeirão Preto, Ribeirão Preto-Pirassununga (esta que passou por Porto Ferreira), Pirassununga-Mogi-Mirim, Mogi-Mirim-Espírito Santo do Pinhal, Pinhal-Poços de Caldas.

Veja trecho do documento sobre a corrida que fala da etapa de Ribeirão Preto até Pirassununga: "Pé embaixo? E mais 122 quilômetros foram percorridos passando por Cravinhos, Santa Rita do Passa Quatro, Porto Ferreira e Pirassununga, cidade bastante conhecida pelos paulistas. Além de Fangio, o uruguaio Mantero em plena recuperação era novamente o destaque ao lado do sulista Iberê Correa que vinha muito bem em 3º lugar, mas chocou-se com um caminhão e passou para o último lugar na chegada a Pirassununga".

Entre os cinco primeiros colocados, Fangio era o único com um Chevrolet. Os demais estavam a bordo de Ford V8. O argentino percorreu os 122 km do trajeto com média de 103,8 km/h. As oito etapas terminariam no Rio de Janeiro dois dias depois, com 3.731 km percorridos em 43 horas e 12 minutos, numa média de velocidade de 86,3 km/h.

Se algum leitor tiver mais detalhes, relatos ou imagens sobre esta prova, a Redação do Jornal do Porto terá o maior prazer em dar sequência. O documento em que esta reportagem foi baseada é de autoria de Sergio Sultani, que utilizou como fontes: "História de Una Passión", de Alfredo Parga, Folha da Noite, Tribuna de Santos e Revista Corsa.