A situação da pandemia é até confortável, diz o deputado do PP

Coluna publicada no JORNAL DO PORTO dia 19-3-2021

A situação da pandemia é até confortável, diz o deputado do PP

Hoje, quarta-feira, dia 17 de março, levantei-me com a notícia de morte de nosso colega da Universidade Estadual de Maringá, J.P., por covid-19. Ontem e anteontem três agentes universitários do Hospital Universitário da mesma universidade, faleceram por covid-19. Uma delas, dona T. era uma pessoa forte, solidária e estava há mais de 30 anos na instituição. Ajudou a construir a universidade assim como J.P.

Meu vizinho, senhor A., faleceu em dezembro de 2020. Desde 2000 fazia sua casa. Aos poucos colocou portão, muro com materiais que encontrou nas ruas da cidade. Era a pessoa que limpava as calçadas das casas vizinhas, trocava fios de eletricidade, cortava a grama das calçadas e trabalhava em uma feira com sua esposa.

Essas pessoas e tantas outras constituem-se em história da cidade, história no local de trabalho e são uma parte de nossas histórias. Ficamos com um nó na garganta, nem sabendo se vamos escapar dessa pandemia.

E os governantes? Hoje a síntese dos governos estaduais e federal foi dada pelo deputado do PP, Ricardo Barros, ontem na TV, declarou que "a situação do país é até confortável". Resta – nos perguntar: " – Confortável para quem? Não para a população. Não para muitas mães e pais. Não para idosos pobres que ficam na fila da vacina 18 horas em uma cidade do Rio de Janeiro. Não para a mãe que viu seu filho morrer sem oxigênio.

Não tenho mais dúvida do que é ou são esses governos. Esses senhores, desde o presidente até os governadores e prefeitos, são higienistas, eugenistas, genocidas e debochados. Estes políticos planejam ir ao encontro da Covid-19 para diminuir a população do país. Responsabilizam o vírus.

O grito "precisamos arrumar a economia" é outro deboche. Ora, não temos empregos desde antes da pandemia. Quando a pandemia chegou às Américas, o Brasil já tinha acabado com a previdência, salários, empregos, já tinha extinto a carteira assinada. Já tínhamos voltado para um Brasil de 1930.

O golpe de misericórdia foi dado pelo senado nas mãos do Rodrigo Pacheco, do DEM, que "ajudou" no auxílio emergencial. Para ter auxilio emergencial sucateou os salários dos servidores públicos. Não haverá aumento de salário até 2036. Não haverá concursos públicos e até as carreiras serão destruídas. Tira de setor para dar a outro. Mas mantém o auxilio por quatro meses e os servidores públicos ficam sem aumento ou reajuste por 15 anos. Foi a brecha mais desvergonhada que Guedes e esses senadores e deputados encontraram para destruir as escolas, universidades, SUS, entre outros serviços públicos.

É a cafetinagem, nas palavras de Suely Rolnick, pela qual os banqueiros levam milhões públicos para seus negócios e as pessoas "comuns" perdem seus salários. Abuso. Trabalho sujo. Infantilização regressiva de muitos grupos. Narcisismo perverso. Livre fluxo do capital transacional.

É só analisar o percurso do homem mais rico do Brasil, Sr Lemann que, depois de constituir uma Fundação devotada à educação, vai aos EUA, em 2013 se teorizar para que, em 2017, seus aliados votem no Conselho Nacional de Educação uma Base Nacional Comum Curricular que impõe ensino para pobres e ensino para ricos custeados pelo Estado.

A cafetinagem continua, o capitalista com mais capital no país compra 51 escolas do grupo Cogna. Tudo feito com a devoção de deputados, um deles, Alex Canziani, do PTB/PR, do Movimento pela Base. Sorrateiros.

Quando o deputado Barros diz que a situação da pandemia é ATÉ CONFORTÁVEL, ele está dizendo que, para eles é confortável tirar a vida da população. Eles sobrarão. Nós sobraríamos (se não fosse a covid-19).


*Marta Bellini

*Professora aposentada da Universidade Estadual de Maringá. Com doutorado em Psicologia, mestrado em educação e graduação em Biologia, diletante em Literatura, uma ornitorrinco, tem a sorte de continuar a ser integrante do Grupo de pesquisa Science Studies CNPq-UEM, na mesma universidade, grupo interdisciplinar de pessoas da filosofia, pedagogia, biologia, física, psicologia entre outras áreas. Sindicalistas nos períodos necessários, teve a honra de participar com colegas de duas grandes greves, a de setembro de 2001 a março de 2002, e a de abril-maio de 2015, as duas contra privatização das universidades públicas do Paraná e a última, também contra a reforma da previdência, além, é claro, de lutar da dignidade salarial.