"Ressurgindo da memória: a bicicleta que conecta gerações e valores"

Sexta-feira, 18 de agosto, ao meio-dia, o programa "Abordagem" ganhou vida com o quadro "Conhecimento em Debate", sob minha apresentação, Paulo Carvalho, e a sempre valiosa presença do professor Alexandre. Naquele dia, uma voz cativante juntou-se a nós: a da respeitada arquiteta Walnice Zuffo, cujo tema era o intrigante urbanismo. No decorrer de nossas trocas de palavras, emergiu um tópico que tocou fundo: a mobilidade nas cidades e os desafios enfrentados por ciclistas diante das vias carentes de infraestrutura adequada.

À medida que nossas vozes fluíam pelo éter radiofônico, fui transportado para minha própria paixão por duas rodas em movimento. O encanto desses veículos simples, mas poderosos nos fez retroceder no tempo. Walnice, com um toque afetuoso em sua voz, compartilhou lembranças do seu pai, o notável Sr. José Zuffo. Uma figura que, no passado, cativou a cidade inteira com sua loja, a "Rainha da Cidade" City Móveis, que oferecia uma gama diversificada de produtos. Ele também se destacava por seu envolvimento ativo nas festividades locais, como o Dia das Mães, quando organizava celebrações e distribuía presentes, e nos passeios ciclísticos que ele pessoalmente conduzia.

O clímax da nossa conversa estava no horizonte quando compartilhei meu desejo de contemplar a bicicleta antiga do Sr. José Zuffo. As memórias vieram à tona, evocando a imagem de meu pai, o Sr. João, pedalando da City Móveis até nossa casa para o almoço, quando eu ainda era criança. A chama da nostalgia aqueceu nossos corações, e ousei sonhar alto: desejava documentar essa preciosidade em fotografias e, quem sabe, até girar suas rodas desgastadas.

Eis que, como uma reviravolta emocionante em uma história envolvente, nossa trama avançou. Naquela mesma noite, a voz de Walnice soou ao telefone, carregada de reflexão sobre nosso diálogo em torno das bicicletas. Seu entusiasmo era palpável quando ela questionou a sinceridade do meu desejo: "Você realmente gosta e usaria essa bicicleta?" Minha resposta positiva abriu as portas para um presente inesperado: a bicicleta Humber preta, uma preciosidade original que, segundo Walnice, havia sido trazida pelo próprio Sr. José Zuffo da cidade vizinha de Pirassununga em 1951. Após anos empoeirada, a bicicleta aguardava minha redenção: "Busque-a, Paulo, traga-a de volta à vida."

Assim, na segunda-feira, 21 de agosto, junto com o amigo André Bellini e sua confiável caminhonete, fomos em busca da bicicleta dos anais. A Humber preta, elegante e autêntica, repousava à espera. Uma relíquia que, por décadas, havia percorrido as ruas que agora eram testemunhas de sua ressurreição.

Enquanto a bicicleta repousa sob os cuidados habilidosos da Bicicletaria do Carlão, passando por uma transformação afetuosa para recuperar sua antiga glória, uma gratidão calorosa aquece minha alma. Em breve, minha cidade me verá pedalar pelas ruas, unindo gerações por meio das pedaladas e reavivando os valores que moldaram nossas vidas. A bicicleta, um símbolo de mobilidade, liberdade e conexão, carregará não apenas minha jornada pessoal, mas também os valores e lembranças do Sr. José Zuffo, tecendo uma ponte entre passado, presente e futuro. Minha gratidão é perene, uma homenagem sincera à arquiteta Walnice Zuffo por confiar-me essa joia de duas rodas, e a todos que de alguma forma compartilharam dessa jornada que nos aproximou mais profundamente de nossas raízes e da beleza das pequenas coisas do cotidiano. Atualmente, a bicicleta encontra-se na bicicletaria, em pleno processo de renovação e preparação para seu retorno triunfal às ruas.