A HISTÓRIA DA DITADURA EM PORTO FERREIRA - PARTE IV



Existem outros cidadãos que ganharam relevância na "caça às bruxas" em Porto Ferreira: Padre Pavesi e o Professor e vereador José Eugênio Colli.

cônego Octaviano antônio Pavesi

De acordo com os arquivos do Deops, "é o principal agitador da cidade e Padre da Paroquia local-Paroquia de São Sebastião. Suas atividades no tempo do governo de João Goulart, eram de estarrecer. Comumente após induzir com idéias esquerdistas, encaminhava colonos a cursos de agitação em outras cidades com despesas pagas, bem como promovia reuniões entre trabalhadores rurais insuflando-os contra seus patrões e tentando organiza-los através de sindicatos rurais ligados a SUPRA".

Segundo informações orais, os sermões do Padre Pavesi mudaram, após um curso realizado por ele na Itália. Certamente, muitos ferreirenses se lembrarão das suas ações como padre, tendo em vista que permaneceu no município de 1953 a 1984, participando da construção do Santuário de São Sebastião, falecendo naquele último ano, em 05 de abril.

Professor José Eugênio Colli

Nos arquivos do Dops consta que era professor, ex-vereador e teve o seu mandato cassado, pela Câmara Municipal local. "Esse elemento, apesar de suas atividades duvidosas, acredita-se tenha sido envolvido pelo Padre Pavesi", como consta no Dops.

Em artigo de José Eugênio Colli, intitulado "A um Pastor de Almas", no jornal "O Ferreirense", de 19 de junho de 1964, com uma linguagem poética, após inúmeros elogios ao Padre Pavesi ele declarou "Ai de vós, que edificais os sepulcros, que não aparecem, e que os homens que caminham por cima não conhecessem". Em outro trecho do artigo, Professor Colli fez a seguinte citação "O céu e a terra passarão, mas não hão de passar as minhas palavras, asseverou o Mestre, por São Mateus. Pois, nada mais se está observando, que a concretização do divino vaticínio. Quanto mais consequentes se atrevem, covardemente à socapa, ou incautamente arrostando a eclipsar a verdade, seja com sofismas raciocinados, seja com ignaras diatribes; quanto mais apedrejam o Templo da Religião, com os seixos da sevícia, mais se confirma a santificação da Igreja, pelos seus lídimos ministros.

Anteriormente a este fato, no jornal "O Ferreirense", de 12 de abril de 1964, o Vereador José E. Colli escreveu o artigo "Nunca comunguei de ideias comunistas". Segundo ele, havia um boato a cidade do qual ele se defendeu na Câmara, dizendo que "jamais poderia pensar em outro regime a não ser a democracia, que lhe garantisse a liberdade de ação e desse condições para a educação de seus próprios filhos". Entretanto, elogiou o movimento das Forças Armadas que livrou o país do comunismo.

Na Revista do Centenário de Porto Ferreira, está escrito que José Eugênio Colli renunciou ao mandato de vereador, em 24 de abril de 1964, alegando motivos particulares.

Pode-se constatar que, indiretamente, Colli atacou a Ditadura, embora se tratasse de um cristão e não um "comunista". O Professor José Eugênio Colli é constantemente homenageado, pois foi o autor da letra do Hino à Porto Ferreira.

UMA DURA REALIDADE

Informações coletadas com ferreirenses que vivenciaram aquele fatídico 1964, revelam que o Professor Eugênio Colli e Benedito Bittencourt de Andrade foram levados pela polícia à Academia da Força Aérea Brasileira e, ali, foram ambos submetidos à tortura. O Padre Pavesi, provavelmente, foi salvo pela Igreja do trágico e cruel ato aplicado pelos golpistas militares.

Em forma de respeito à honra e, imaginando o trauma causado nos familiares, eles não foram procurados para mais esclarecimentos.