Bolsonaro diz que não traz brasileiros da China porque 'custa caro' e não há lei de quarentena

Presidente reuniu ministros para traçar estratégias contra o coronavírus. Resgate de brasileiros depende da solução de entraves diplomáticos, jurídicos e orçamentários, disse.

Ministério da Saúde desmente fake news sobre coronavírus

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O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (31) que o governo ainda estuda estratégias para buscar os brasileiros que vivem na China e têm intenção de retornar ao Brasil. Segundo o presidente, é preciso resolver entraves diplomáticos, jurídicos e orçamentários para que isso ocorra.

Ele se reuniu com ministros nesta sexta-feira (31) no Palácio da Alvorada, em Brasília, para discutir estratégias de enfrentamento ao coronavírus e a situação de brasileiros que estão confinados em áreas de risco na China.

Participaram da reunião os ministros da Saúde, Henrique Mandetta; das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

"Custa caro um voo desses. Na linha, se for fretar um voo, acima de US$ 500 mil o custo. Pode ser pequeno para o tamanho do orçamento brasileiro, mas precisa de aprovação do Congresso", declarou. O presidente descartou a ideia de editar uma medida provisória para agilizar esse trâmite.

Além do custo da operação, o presidente disse que há lacunas na legislação brasileira que podem dificultar o processo. Segundo ele, como o Brasil não tem normas vigentes sobre quarentena, seria preciso criar parâmetros nesse sentido.

"Ao trazer brasileiros pra cá, é nossa ideia colocar em um local para quarentena, mas qualquer ação judicial tira de lá. (...) Se lá temos algumas dezenas de vidas, aqui temos 210 milhões de brasileiros. Então, é uma coisa que tem que ser pensada, conversada antecipadamente com o chefe do Poder Judiciário, conversado com o Parlamento também", disse Bolsonaro.

"Para 30 [brasileiros], nós temos possibilidade até de a Força Aérea cumprir essa missão. Agora, todo mundo diz que não está contaminado. Tem que fazer exame prévio, quem tiver qualquer possibilidade de apresentar sintoma não embarcaria. Ao chegar aqui, pela ausência da lei de quarentena, a gente tem que discutir."

O presidente afirmou que, para não causar pânico e transtorno à população, a ideia é decretar quarentena de pacientes em uma base militar, a ser montada longe de grandes centros populacionais.

Negociação pendente

Na terça (28), o embaixador do Brasil em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita, afirmou que a China não autorizou voos de evacuação de cidadãos estrangeiros na província de Hubei, onde havia mais casos registrados de coronavírus. O G1 mostrou que ao menos 11 países tinham planos similares, naquele momento.

Ao sair da reunião com Bolsonaro, o ministro Ernesto Araújo afirmou que "é preciso negociar" com as autoridades chinesas para que os brasileiros sejam liberados da região mais afetada pelo vírus – mas não disse em que pé estão essas negociações.

"A região da China que tá mais sujeita, ela tá fechada para qualquer pessoa sair. É preciso negociar com o governo chinês, como outros países negociaram. Mas não é uma coisa óbvia e imediata."

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Protocolo estabelecido

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, negou que eventuais pacientes infectados no Brasil possam ser tratados em hospitais de campanha para evitar a entrada do vírus nas unidades de saúde. Segundo ele, cada estado e município já tem protocolo e "plano de contingência".

"Nosso sistema é robusto sim, mas você trabalha com cenários. Ao que tudo indica, esse vírus tem uma transmissibilidade maior, mas uma letalidade muito menor que os outros coronavírus. Como ele vai se comportar no nosso bioma? Somente quando você tiver a presença dele em um país com as nossas características", argumentou o ministro.

Mandetta informou que o Brasil, a pedido da OMS, fará a capacitação dos demais países da América do Sul nas ações para lidar com o coronavírus. Segundo o ministro, o Brasil deverá autorizar exames de laboratório para o Paraguai e também ajudará na distribuição de material impresso para países de língua portuguesa, como Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

"Temos uma fronteira muito uma extensa e não nos interessa que eles [países vizinhos] não tenham seus planos e sua maneira de tratar. Senão, viriam para cá", disse.Casos confirmados de infecção por coronavírus pelo mundo. — Foto: Arte/G1