Teria sido bom saber que sexo era divertido quando eu estava crescendo, diz atriz de 'Sex Education'

O elenco de 'Sex Education' conta por que gostariam que o programa existisse anos atrás.

 Aimee Lou Wood, que interpreta Aimee Gibbs, tem uma das histórias mais comentadas da segunda temporada de "Sex Education" | Getty Images via BBC

Aimee Lou Wood, que interpreta Aimee Gibbs, tem uma das histórias mais comentadas da segunda temporada de "Sex Education" | Getty Images via BBC

Você talvez se lembre de ter visto um preservativo sendo colocado em uma banana ou apenas uma mensagem genérica de que, se você faz sexo, A) engravida ou B) pega uma doença. Estamos falando de educação sexual nas escolas.

Os aspectos delicados do amadurecimento eram evitados por professores, que nem conseguiam dizer "pênis".

Então, quando o programa de TV Sex Education — que conta a história de dois estudantes que montaram uma clínica de sexo em sua escola — estreou no Netflix no ano passado, foi uma lufada de ar fresco.

A primeira temporada abordou com ousadia tópicos como vergonha, aborto, virgindade e masturbação — Aimee Lou Wood, que interpreta Aimee Gibbs, disse à Radio 1 Newsbeat que quando mais jovem pensava que se masturbar era "apenas uma coisa de menino".

Quando era mais nova, Aimee se via como uma "esquisitona" por querer se masturbar.

Ao filmar a série, a jovem de 24 anos descobriu que outras pessoas sentiam o mesmo.

"Quando eu filmei uma cena de masturbação, os figurantes me perguntavam: 'Como assim você fez uma cena como essa? Isso é apenas para garotos'."

Gillian Anderson, Asa Butterfield, Emma Mackey e Ncuti Gatwa estão no elenco de "Sex Education"

Getty Images via BBC

Conversando com alguns integrantes do elenco na estreia da segunda temporada, ficou óbvio que muitos deles sentem que não aprenderam o suficiente sobre a realidade do sexo na infância e na adolescência.

"Comida, emprego, sexo... É uma parte muito importante da vida e não sabemos o suficiente sobre ela", disse Aimee.

"Eu gostaria de ter sabido, naquela época, que era normal querer sexo por prazer, e não apenas para fazer bebês."

O personagem que Aimee interpreta tem uma das histórias mais comentadas da série. Ela é assediada sexualmente e a série a acompanha enquanto ela lida com o que aconteceu.

O enredo provocou muita reação online.

"Acho que a razão pela qual as pessoas se identificam tanto com isso é porque muitos de nós tivemos incidentes como o de Aimee e ninguém ajudou. As pessoas agem como se estivéssemos fazendo drama. Seria incrível se tivéssemos pessoas para ajudar a enfrentar nosso medo", disse uma usuária do Twitter.

"Sex Education realmente mostra como o trauma não é sentido rapidamente, mas quando isso acontece, você pode passar a ter medo de fazer coisas que costumava fazer (por exemplo, Aimee se recusando a pegar o ônibus)", disse outra pessoa na rede social.

Aimee diz que seu enredo teve um "enorme impacto" sobre ela. "Eu tive de relembrar de quando tinha essa idade e do quanto eu confiava nas pessoas. Muitas meninas se identificam com isso."

'Todo o mundo pode aprender alguma coisa'

Emma Mackey, que interpreta a protagonista feminina, Maeve, concorda que o programa é importante para desafiar tabus.

A personagem de Emma Mackey lida com os problemas de dependência de sua mãe na segunda série de "Sex Education"

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"A série faz você se sentir menos solitário. Eu gostaria que ela existisse quando eu estava na escola para me fazer sentir mais normal", ela nos disse.

Quando perguntados sobre o que eles aprenderam durante as filmagens, a palavra "vaginismo" foi citada por quase todos os membros do elenco.

O Serviço Nacional de Saúde britânico diz que o vaginismo "é quando a vagina aperta de repente quando se tenta inserir algo nela".

"Eu nem sabia que tinha um nome. Muitas mulheres viram o programa e perceberam que não, não há nada de errado com elas", diz Tanya Reynolds, cuja personagem, Lily, tem vaginismo.

A série foi elogiada por mostrar o sexo de maneira mais realista do que de costume.

Ele substitui as típicas cenas de sexo romântico com pouca iluminação por cenas desajeitadas, onde os personagens jovens geralmente não têm ideia do que estão fazendo. Por isso o elenco precisava se sentir confortável durante o processo de filmagem.

"Havia um diretor de sexo no set. Eles nos enviaram uma lista de perguntas antes mesmo de lermos o roteiro para saber como nos sentíamos em relação a certas coisas. Mesmo se você disser que se sente à vontade com alguma coisa, pode mudar de ideia e dizer que não. E tudo bem", relata Patricia Allison, que interpreta a namorada de Otis, Ola.

Ela diz que filmar a série lhe ensinou a "importância de dizer não".

'Estabelecemos um padrão alto'

A Netflix divulgou os números da primeira temporada da série.

"Sex Education" foi, segundo a empresa, vista em mais de 40 milhões de residências nas primeiras semanas — contando os lares em que episódios foram vistos em 70% ou mais do tempo total.

A série foi muito elogiada pela diversidade em seu elenco e enredo, mas Emma diz que isso "não deve ser espantoso".

"Estamos estabelecendo um padrão alto nesse sentido, mas já era hora. Deveria ser normal isso."

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O melhor amigo de Otis, Eric, que é bem livre sexualmente, luta com a homofobia e a relação entre sexualidade e religião.

"Eu amo que esse garoto gay e negro não esteja se desculpando por ser quem ele é", diz Ncuti Gatwa, que interpreta Eric.

"A representação importa, educar as crianças sobre todos os diferentes tipos de pessoas no mundo, para que, quando as encontrem, não tenham medo."

Tema delicado

O ensino de "conteúdo LGBT" nas escolas nem sempre foi aceito no Reino Unido.

No ano passado, houve protestos na porta de uma escola primária em Birmingham que ensinou os alunos sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Alguns pais disseram que isso contradiz sua fé islâmica e não é "apropriado para a idade escolar".

A escola cedeu em parte, com um novo programa de igualdade feito depois de consulta aos pais. O governo britânico diz que incentiva as escolas secundárias a incluir questões LGBT na educação sexual.

No Brasil, diz a psicóloga e pesquisadora Mary Neide Damico Figueiró, o tema da educação sexual é pouco tratado.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Ciências, de 1998, diziam que o tema devia ser tratado de maneira transversal, ou seja, em diversas disciplinas, mas, na prática, cada escola tratava o assunto como achasse melhor.

Já a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) coloca o assunto sob a ótica biológica apenas, diz a pesquisadora.

Com objetivo de prevenir a gravidez na adolescência, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos quer estimular os jovens a não transar, com uma campanha publicitária a ser veiculada em fevereiro.