Gal Costa pode e deve reforçar laços com Milton Nascimento

Milton Nascimento e Gal Costa na filmagem de documentário sobre o Clube da Esquina - Diego Ruahn / Facebook Milton Nascimento

Milton Nascimento e Gal Costa na filmagem de documentário sobre o Clube da Esquina - Diego Ruahn / Facebook Milton Nascimento

Cantora gravou somente dez músicas do compositor em 55 anos de carreira fonográfica, mas a artista tem projeto de disco e show em torno da obra do autor de 'Travessia'.

ANÁLISE – Em 55 anos de carreira fonográfica, Gal Costa gravou somente dez músicas de autoria de Milton Nascimento. Essa contagem pode – e deve – aumentar a partir do segundo semestre deste ano de 2020 ou de 2021, caso a cantora concretize o projeto de disco e show centrados no cancioneiro do compositor.

Provisoriamente intitulado As várias pontas de uma estrela, nome de música de 1982, composta por Milton em parceria com Caetano Veloso e nunca gravada por Gal, esse projeto tem relevância justamente pelo fato de até então a cantora ter registrado tão poucas músicas de Milton desde que estreou em disco em 1965.

A presença espaçada de Milton na discografia de Gal talvez seja explicada pela proximidade de Milton com Elis Regina (1945 – 1982), primeira cantora a jogar luz sobre a obra do compositor com a gravação da Canção do sal no álbum Elis, lançado em 1966, um ano antes da explosão nacional de Milton com a apresentação de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967) em festival.

É que Milton sempre deu a Elis a primazia de gravar as músicas que compôs ao longo dos anos 1970, quando já estava precocemente consagrado como um dos gênios da MPB.

Por razões óbvias, Gal sempre esteve mais próxima dos amigos e conterrâneos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Tanto que somente em 1978 Gal gravou pela primeira vez uma música inédita de Milton, Cadê, composta com letra de Ruy Guerra e incluída no álbum Água viva (1978), disco em que Gal também registrou Paula e Bebeto (1975), parceria de Milton com Caetano.

Antes, em 1976, a cantora deu voz a Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1974), no show e disco Doces Bárbaros. Nos anos 1980, Gal lançou duas músicas de Milton Nascimento e Fernando Brant (1946 – 2015), Quem perguntou por mim e Me faz bem (bela, sensual e pouco ouvida canção diferente do tom habitual da obra de Milton), nos álbuns Bem bom (1985) e Lua de mel como o diabo gosta (1987), respectivamente.

Depois desses discos, o único álbum de Gal que apresentou canção inédita de Milton foi Estratosférica (2015), cujo repertório inclui Dez anjos, parceria do compositor com o rapper Criolo.

Gal gravou quatro canções de Milton em discos alheios. Com o próprio Milton, a cantora deixou registrado Um gosto de sol (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) no álbum Milton Nascimento ao vivo (1983).

Com o Boca Livre, Gal deu voz a Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) em disco de 1997 pautado por encontros do grupo vocal com estrelas da MPB.

Com Wagner Tiso, Gal gravou Solar (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1982) para o CD e DVD 60 anos – Um sonho imaginário (2006) com a adesão do próprio Milton.

Por fim, no disco coletivo Entre amigos (1985), coube a Gal gravar Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979) em raro registro fonográfico.

Enfim, se juntar as várias pontas dessa discografia, dá somente dez gravações. O que aumenta o valor deste vindouro projeto da estrela Gal Costa em torno da obra de Milton Nascimento.