Dutch, Schwarzenegger e o sonho dos desenvolvedores de Predator: Hunting Grounds
O ator interpretou o soldado Alan Schaefer, o Dutch, no filme original de 1987. Agora, 33 anos depois, retorna ao personagem, ainda que virtualmente, para um DLC lançado no final de maio para o game. Ele não apenas se tornou um dos combatentes do Predador na selva de Hunting Grounds, como também teve toda uma história adicionada a ele, revelando o que ele andou fazendo nas mais de três décadas desde seu primeiro encontro com o alienígena caçador.
Ao contrário da barra alta que um encontro com o ator demandava, e o fato de estarem trabalhando com um personagem "intocável" da franquia, a ideia de adicionar história a um game multiplayer soa como a parte mais fácil desse trabalho. "A jogabilidade é a jogabilidade. E quem quiser saber mais sobre Dutch pode fazer isso nos menus enquanto está esperando a criação de uma partida ou quer dar uma pausa", explica Gerritzen.
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Fitas encontradas no campo de batalha são transformadas em dados de áudio que podem ser acessados pelos menus. Assim, a Illfonic escapou de armadilhas normalmente encontradas em games multiplayer que tentam adicionar alguma história às partidas, com os jogadores não tendo tempo ou disposição para leitura ou diálogos enquanto a ação está acontecendo. "É importante ter uma história, mesmo em um game [online], para entender o que está se passando, o que os jogadores estão fazendo e onde estão inseridos", completa Chuck Brungardt, CEO da desenvolvedora.
O tratamento ganha toques de luxo quando a empresa alcança o que, para muita gente, poderia parecer impossível: trazer o próprio Schwarzenegger para interpretar Dutch. Mesmo em uma conversa de áudio, dava para perceber que Gerritzen estava sorrindo, feliz da vida, enquanto relatava à reportagem do Canaltech os momentos que antecederam o encontro com o ator e o momento que ele entrou na sala pela primeira vez.
"Foi bem surreal, afinal era o Arnold Schwarzenegger na nossa frente", explicou ele, demonstrando surpresa com o fato de que bastou apenas meia hora de conversa para que o intérprete adorasse o que os desenvolvedores estavam fazendo, entrasse no personagem e passasse a entregar as falas com uma fidelidade absoluta a um personagem que, vale lembrar, foi interpretado por ele há mais de 30 anos. "Eu estava arrepiado. Era um sonho de infância acontecendo ali diante da gente", completou o diretor criativo.
O trabalho foi tão ágil que as gravações terminaram antes do horário previsto, dando aos envolvidos uma segunda oportunidade de ouro: conversar informalmente por um bom tempo com o ator, que também acabou se mostrando um grande fã da franquia Predador. Histórias dos bastidores da gravação foram compartilhadas e algumas delas, inclusive, devem auxiliar no desenvolvimento de futuros conteúdos para Hunting Grounds.
Expandindo a caçada
Como dito, a introdução de Dutch no jogo não se trata apenas de trazer um rosto conhecido para um jogo — algo que, inclusive, foi citado como um dos defeitos de uma experiência bem aquém da esperada em review publicado no Canaltech. A vontade da Illfonic é ir além e expandir a história não somente do protagonista que sobreviveu a um encontro com o Predador, mas também levar a própria franquia adiante.
O fato de este ser um game feito com fãs ajudou a encontrar a consistência necessária entre as diferentes histórias, respeitando o canon criado ao longo de três décadas e quatro filmes, bem como livros e material suplementar que também carregam o enredo adiante. Ajudou, principalmente, a ideia de que, apesar de tudo isso, a história posterior de Dutch não havia sido explorada, o que o tornou um vetor ideal para a primeira grande introdução do enredo em Predator: Hunting Grounds.
"Tentamos entender o universo fora dos filmes desde o início e, a partir daí, imaginar o que Dutch estaria fazendo durante todo esse tempo", explica Gerritzer. A nova trama foi criada em parceria com a Fox, atual responsável pelos direitos da franquia, algo que ajudou na consistência do trabalho e que faz com que a trama desenvolvida em Hunting Grounds se torne parte do canon oficial da série Predador.
Levando isso em conta, é claro que vem a pergunta: quem mais, entre os sobreviventes dessa caçada interplanetária de décadas, pode voltar? É fácil pensar em nomes recentes como Quinn McKenna (Boyd Holbrook, do recente O Predador) ou Royce (Adrien Brody) e Isabelle (Alice Braga), de Predadores. Ou, ainda, o que talvez seria o maior sonho, trazer de volta o tenente Mike Harrigan, interpretado por Danny Glover no segundo filme da série, de 1990, cuja história posterior o colocou até mesmo contra um Predador no Rio de Janeiro.
Sobre isso, é claro, a desenvolvedora não pode falar nada, mas um roadmap de novos conteúdos para o game se expande até pelo menos agosto, com entregas mensais de novidades para Predator: Hunting Grounds. "Estamos trabalhando em uma grande quantidade de conteúdo que deve agradar aos fãs. Queremos trazer o máximo de material possível para o jogo e a franquia como um todo", completa o diretor criativo, aumentando a curiosidade sobre um retorno de personagens clássicos.
Trabalho simultâneo
Trabalhar em um jogo multiplayer, entretanto, não é apenas criar conteúdo e expandir o universo. A cada nova adição, é preciso fazer toda uma lição de casa relacionada a balanceamento de forças e comportamento de personagens, de forma que uma nova adição não brigue com o restante do projeto. No que toca o equilíbrio, a Illfonic acertou desde o começo, com um Predador que não é superpoderoso nem implacável, aparecendo de forma fiel a seu comportamento furtivo e de caçador dos filmes. Esse desenvolvimento continua e acontece ao lado das adições de material ao jogo.
"Temos grandes Predadores e grandes soldados no game e é incrível ver a resposta dos jogadores a um game que leva tais conceitos adiante", completa o diretor criativo. Segundo ele, a ideia sempre foi tentar emular os filmes em um formato jogável e a desenvolvedora acredita ter conseguido fazer isso. O trabalho, porém, está longe de chegar ao fim.
Nas linhas da produtora, os aspectos de balanceamento e adição de conteúdo são desenvolvidos por times dedicados, mas que trabalham lado a lado. De acordo com Brungardt, o trabalho de análise e correções é constante, não apenas em termos de telemetria das partidas, mas também do feedback que chega por meio das redes sociais, com as sugestões de mudanças, problemas que tenham sido detectados e até bugs que afetem a performance de Hunting Grounds. "Nossa ideia não é só lançar DLCs, mas também garantir que o jogo continue vivo com atualizações de qualidade", completa.
Tudo isso acontece ao mesmo tempo em que a Illfonic já pensa em novos projetos. Aqui, os executivos já deixam uma coisa clara: veremos mais títulos da empresa no futuro próximo e na nova geração de plataformas. De acordo com o diretor criativo da produtora, outros times já estão trabalhando em novas propostas e a ideia é provar que a companhia tem versatilidade e não sabe trabalhar em apenas um estilo de jogo.
Ela também enxerga um movimento pelo qual distribuidoras e donos de direitos sobre franquias antigas estão enxergando os games como um bom caminho para renovar o interesse sobre as marcas e trazer personagens de volta. "Quem toma as decisões, hoje, também cresceu como fã dessas franquias e sonhou em ver adaptações desse tipo. É por isso que estamos nessa era de clássicos retornando em novos formatos", finaliza Gerritzer.
São respostas difusas, afinal de contas, ninguém pode falar diretamente sobre o que está por vir. Ao mesmo tempo, são declarações que deixam clara a intenção de manter o prestígio obtido até agora com os fãs de filmes de terror e seguir adiante nessa ideia de fãs criando o sonho dos próprios fãs. E todos sabemos que essa combinação muitas vezes é capaz de operar milagres e trazer sorrisos de nostalgia.
Leia a matéria no Canaltech.