Ao pé da letra

Coluna publicada no JORNAL DO PORTO dia 8-5- 2020

Ao pé da letra

Dois caminhos, duas fatalidades

Enquanto especialistas da comunidade internacional observam com grande preocupação e apontam o Brasil como possível novo epicentro mundial da pandemia da Covid-19 a grande maioria da comunidade brasileira também observa com muita apreensão movimentos antidemocráticos e inconstitucionais com a efetiva participação do chefe da nação Jair Messias Bolsonaro, como ocorreu no último domingo, dia 3, data do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, defronte ao Palácio do Planalto, em Brasília, a favor do fechamento do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e afirmação de que as forças armadas estão do seu lado, terminando com agressões físicas contra jornalistas e fotógrafo por parte dos correligionários do presidente, assim como, em evento anterior quando profissionais em enfermagem faziam uma manifestação silenciosa e pacifica em frente ao Planalto pedindo melhores condições de trabalho devido a pandemia e que também foram violentamente agredidos verbalmente por asseclas do presidente. Na terça-feira, dia 5, num ato de extrema prepotência o chefe da nação ao ser questionado pela imprensa, com quem mantém relacionamento zero, na saída do Planalto, mandou jornalista calar a boca.

O caos instalado no país nos leva a dois caminhos distintos, mas que demonstram e conduzem claramente a duas fatalidades simultaneamente, o oportunismo político em hora imprópria e a indiferença à pandemia mundial que certamente vai mudar a nossa historia de vida.

A pandemia no Brasil já é o epicentro global do coronavírus. Estudo da Universidade de São Paulo aponta que o número de infeções no Brasil já pode ter atingido 1,6 milhão. Isso significa que o país pode já ter mais casos que os Estados Unidos. O Brasil testou apenas cerca de 1.600 por milhão de pessoas, muito abaixo dos 20.200 testes por milhão realizados nos EUA até agora, segundo a empresa de pesquisa Statista.

O chefe da nação, eleito a pouco mais de um ano com 58 milhões de votos, de todos os Estados brasileiros mostra tamanha indiferença quando se fala em pandemia do coronavírus. Se expressa de forma vulgar sobre o assunto, assim como: "E daí". "Eu sou Messias, mas não faço milagres". Talvez seja esta a maior sabedoria dos outros 100 milhões de eleitores da nação brasileira, que instintivamente sabiam que não estariam votando no Messias original.

O caos da pandemia fazendo vítimas fatais aos montes diariamente, com corpos amontoados em câmaras frigoríficas e pelos corredores dos hospitais a espera de serem sepultados na vala comum. E daí?

O caos político fazendo milhões e milhões de vítimas da descrença sobre grande parte da classe política brasileira capaz de provocar a ruptura das instituições fundamentais que são guardiães da Constituição da nação abrindo espaço até para um possível golpe de estado tão visível neste momento. E daí?

E daí, eleitores brasileiros? E daí, povo brasileiro? E daí, como ficamos, neste momento crucial da nossa história quando mais necessitamos das ações positivas e harmoniosas governamentais se não deu sorte na escolha do Messias?

E daí, a quem pedir clemência nesta hora?

Sugestão: Talvez ao Messias original. Aquele que realmente tem o poder sobrenatural de exercer uma influência positiva, de restabelecer a paz e amenizar a dor e o sofrimento da maioria dos 210 milhões de brasileiros. Ok?

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A vida... continua...

Contudo, sobretudo, antes de tudo, além de tudo...

"A economia não pode parar porque a economia também é vida. Por isso um grupo de empresários aqui, mais uma vez um grupo de empresários aqui. Esse grupo responsável por 45% do PIB nacional, responsável por 30 milhões de empregos. A indústria comercial está na UTI. Não há mais espaço para postergar. O sentimento deles, o posicionamento deles, é que a abertura gradual e responsável tem que começar o mais rápido possível, caso contrário, vai atingir a situação de países que já conhecemos e fica impossível voltarmos a sermos o que éramos em janeiro", afirmou Bolsonaro, ontem, dia 7, quando marchou em direção do STF, com ministros e empresários de forma, no mínimo estranha aos protocolos habituais, sendo recebido pelo ministro Dias Toffoli.

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Feliz "Dia das Mães,

E como diz o tataravô do meu amigo Policarpo, à todas as Rainhas do Lar do mundo, especialmente em tempo de pandemia".

Frases:

''Depois da UTI, vem o cemitério'', diz Bolsonaro sobre situação econômica.

"UTI", mas caso a quarentena não seja relaxada, a economia poderá ir para o "cemitério", diz Bolsonaro sobre situação econômica.

"A economia não pode parar porque a economia também é vida", diz Bolsonaro sobre situação econômica.