O que diria Jesus sobre a volta do AI-5

Coluna publicada no JORNAL DO PORTO dia 24-4-2020

O que diria Jesus sobre a volta do AI-5

Os últimos acontecimentos ocorridos no Brasil dão conta de que ele está politicamente a beira de uma crise institucional pela queda de braço do presidente Jair Bolsonaro com vários governadores, com o Congresso Federal, com o judiciário e outras instituições, supostamente motivada, pela condução sobre o enfrentamento da pandemia da Covid-19.

A ironia disso tudo, está presente na forma com que os gestores públicos eleitos no último pleito nacional estão se comportando diante das questões urgentes que dizem respeito à vida dos brasileiros, pois, dá-se a sensação que o Brasil não faz parte de um mundo globalizado, nem que vive num estado de direito democrático, com liberdade de pensamento e de expressão e tantos outros direitos expressos na Constituição Federal brasileira, mas sim, submisso aos desejos pessoais e políticos de quem os governa.

Mas a realidade é bem outra. Se por um lado se tem a sensação da desunião dos gestores públicos, por outro lado, se tem a certeza da união de um povo livre, fraterno que está na linha de frente de todo este processo de caos social que são os profissionais da saúde, da enfermagem, dos hospitais, segurança pública, lixeiros, caminhoneiros, coveiros e centenas de tantos outros segmentos essenciais da sociedade brasileira que estão cumprindo com suas funções heroicamente, se expondo diante de todas as falhas, das péssimas condições de trabalho, das faltas de materiais e remédios, todos de responsabilidade do estado e que deveriam ser supridos pelo próprio governo.

Enquanto as autoridades governamentais brasileira andam na contra mão dessa história gerando cada dia mais e mais conflitos pessoais internos e até internacionais, em hora imprópria, com as empresas produtivas e setores comerciais de todos os portes, quebrando em prol de um bem maior, sem nenhuma ajuda governamental até o momento, sendo obrigada a demitir milhões de pessoas. A aparente desunião e oportunismo da política partidária é a única coisa que o povo brasileiro não precisa neste instante de caos social mundial.

O que se observa neste momento é que os países do resto do mundo, até mesmo dos países mais pobres do planeta terra tem seus gestores se comportando como estadistas, versados nos princípios e na arte de governar seus problemas.

A situação brasileira atual é propicia até para o renascimento dos calhordas teleguiados de plantão pedindo a volta do AI-5, e para quem não sabe, o AI-5 foi o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, que marcou o início do período mais duro da ditadura militar (1964-1985). Contava com doze artigos e trazia mudanças radicais para o Brasil. Por meio desse decreto, foi proibida a garantia de habeas corpus em casos de crimes políticos. Também decretou o fechamento do Congresso Nacional, pela primeira vez desde 1937, e autorizava o presidente a decretar estado de sítio por tempo indeterminado, demitir pessoas do serviço público, cassar mandatos, confiscar bens privados e intervir em todos os estados e municípios.

Por meio do AI-5, a Ditadura Militar iniciou o seu período mais rígido, e a censura aos meios de comunicação e a tortura como prática dos agentes do governo consolidaram-se como ações comuns da Ditadura Militar. (Google Chrome)

Mas, o que vale registrar neste momento é que grande maioria do povo brasileiro é composta por pessoas de baixa renda, ou nenhuma renda, desempregada, mesmo assim, tem feito até aqui a sua parte, do jeito que pode, cortando a própria carne, passando dificuldades terríveis, tentando obedecer as regras e orientações que lhes são impostas e pior de tudo é que essa crise mundial não tem dia nem hora marcada para terminar.

Portanto, é insanidade mental pura de quem pensa que o AI-5 ou qualquer outro regime de exceção resolverá os problemas brasileiros, pois são problemas que a humanidade terá que enfrentá-los juntos.

Será que algum regime ditatorial do mundo com seus AI-5 ou não, tem o poder de salvar a humanidade de perder milhões de vidas e de sofrimento como já está? Se têm, porque não o fazem?

A história nos mostra como foi desastroso o regime de Hitler e mais distante ainda no tempo como o rei Pôncio Pilatos agia há mais de dois mil anos atrás. Um dos casos mais emblemáticos e mais relevantes noticiado pela história foi, sem dúvida, o julgamento de Jesus Cristo, personagem universalmente conhecido. Porém, sua prisão, julgamento e condenação foram permeados de ilegalidades, nulidades e ofensas aos basilares princípios do Direito, verdadeiro assassinato pelo poder estatal.

Jesus passou por dois julgamentos: um religioso, perante o Sinédrio, e outro político, diante de Pilatos. As acusações políticas eram: sedição, declarar-se rei e incitar o povo a não pagar impostos a César.

Bem, chega de histórias por hoje.

Mas, o que diria Jesus Cristo, filho do Criador do céu e da terra, se voltasse ao mundo de hoje, especificamente no Brasil, materializado, que é quando o espirito toma formato de visualização diante dos olhos humanos, e ficasse frente a frente com facções políticas nojentas, isto mesmo, facções políticas partidárias nojentas que insanamente gritam pelos becos brasileiros: AI-5 Já! Certamente diria o filho do Criador o mesmo que já disse quando de sua passagem neste mundo há mais de dois mil anos atrás: "Pai, perdoa-os! Porque eles não sabem o que fazem...".

"Papo furado"

O doido, Napolião e Jesus

Uma vez no hospício se cruzaram dois doidos e um virou-se pro outro e disse: cadê a continência?

O outro disse: continência por quê? Porque eu vou fazer continência pra você?

Porque eu sou o Imperador Napoleão Bonaparte, respondeu o outro.

O outro disse: deixa de conversa rapaz, tú é lá o Imperador Napoleão Bonaparte, e quem foi que te nomeou Imperador Napoleão Bonaparte?

O outro disse foi Jesus Cristo.

O outro disse: Eu?

(Ariano Suassuna)