Rapper Bivolt interliga duas correntes de energia no primeiro álbum

Rapper Bivolt interliga duas correntes de energia no primeiro álbum

Gravado sob direção musical de Nave, disco conserva unidade ao harmonizar R&B, dancehall e trap com as batidas do hip hop. Capa do álbum 'Bivolt', da rapper Bárbara Bivolt

Divulgação

Resenha de álbum

Título: Bivolt

Artista: Bárbara Bivolt

Gravadora: Som Livre

Cotação: * * * 1/2

? Em cena há cerca de dez anos, Bárbara Bivolt já enfrentou (e venceu) batalhas no rap e na vida. A mais recente vitória é o lançamento neste mês de março de Bivolt, primeiro álbum desta cantora e compositora paulistana nascida e criada na Comunidade do Boqueirão, refúgio de Sabotage (1973 – 2003) na selva da cidade de São Paulo (SP) nos últimos anos de vida do rapper conterrâneo.

Em Bivolt, álbum gravado sob direção musical do produtor Nave, a artista interliga duas correntes de energia na formatação de repertório de voltagem oscilante. Faixas de menor eletricidade, como 110v e Mary End (ambientada no clima de R&B recorrente no disco), são contrabalançadas com temas em que Bivolt solta faíscas típicas do discurso incisivo do hip hop.

"Não me comovo com rosas, não", avisa a rapper feminista no flow de Susuave. Xênia França reforça a corrente de Bivolt como convidada de Nome e sobrenome.

Na voltagem de quem se diplomou nas batalhas das ruas, Bivolt eleva os tons do altivo discurso feminino em Murda Murda – música gravada com a dupla Tasha & Tracie – e em Cubana, faixa cujo beat tempera o rap com doses precisas do molho tropical do jazz latino, com maior pitada do jazz cubano, claro.

Peixinhos é música menos eletrizante da corrente de 110v. Tipo giroflex junta Bivolt com o também emergente rapper Jé Santiago em associação com o universo do trap, também evocado em Hipnose, faixa gravada com Lucas Boombeat, da Quebrada Queer.

Freestyle conecta Bivolt com o balanço do dancehall com adesão de Dada Yute e do duo Tropkillaz. Já Sigilo acaba em samba, em cadência suave, toque inusitado de disco finalizado sem a inclusão do single Vista loka, lançado em junho.

Fechado com o tema 220v, o álbum Bivolt esconde uma 15ª faixa de forma inusitada. Se tocadas simultaneamente, as músicas 110v e 200v dão forma a uma nova faixa.

Tal pioneirismo dá charme a mais para o álbum de estreia de Bivolt. Contudo, o maior mérito do disco é unificar duas correntes de energia sem soar fragmentado.