Espionagem chinesa na Lua? Especialistas discordam de preocupação dos EUA

Espionagem chinesa na Lua? Especialistas discordam de preocupação dos EUA

Enquanto os EUA continuam discutindo o orçamento para o próximo ano fiscal da NASA e suas futuras missões lunares, a China tem se destacado com suas missões Chang'e, em especial a mais recente, que pousou no lado afastado da Lua em 2019. E parece que alguns políticos norte-americanos estão preocupados com uma possível espionagem espacial chinesa no espaço.

Uma versão do projeto de lei que prevê o próximo orçamento da NASA, aprovada na Câmara no final de janeiro, pede ao Conselho de Segurança Nacional "que coordene uma avaliação das capacidades de exploração espacial da República Popular da China", incluindo "qualquer ameaça aos ativos dos Estados Unidos no espaço". Também pede que sejam avaliados os planos da China de fazer parceria com outros países.

Entre os preocupados com espionagem está o deputado Doug Lamborn, do Colorado. Ele disse em fevereiro que, se a China tiver uma presença permanente na Lua, isso pode significar problemas para os EUA. Um dos argumentos é que a China não separa seus programas espaciais científicos dos militares. No caso dos EUA, a NASA é uma agência civil.

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Quando surgiram relatos em outubro de que a China estava construindo uma espaçonave que, segundo fontes, seriam capazes de transportar humanos para a Lua, alguns norte-americanos temiam que a mudança de missões robótica para humana poderia resultar em um tipo de militarização no solo lunar.

Mas um especialista no programa espacial da China afirma que os planos chineses, que incluem a quinta missão Chang'e, não parecem uma ameaça militar. "Pode, na opinião de alguns americanos, apresentar algum tipo de desafio geopolítico ou psicológico", disse Gregory Kulacki, gerente de projetos da Union of Concerned Scientists. "Mas acho difícil ver como um pouso chinês na Lua está ameaçando os Estados Unidos ou qualquer outra nação", afirma.

Sonda chinesa Chang'e 4 na superfície do lado escuro da Lua

Kulacki, na verdade, vai além e diz que os EUA devem considerar colaborar com a China no espaço. Isso é algo pouco provável - o Congresso norte-americano proibe a NASA de cooperar com a China sem aprovação prévia desde 2011. Tampouco a China parece interessada em se aliar aos EUA, ainda mais considerando que os planos atuais da China são baseados em algo da década de 1980 chamado Projeto 921. Ele exigia que uma habilidade chinesa - não uma habilidade multinacional - pudesse mandar uma pessoa em órbita ao redor da Terra.

Não há nenhum indício, no entanto, de que a China esteja realmente planejando enviar taikonautas (astronautas chineses) para a Lua. Até agora, os planos de enviar pessoas ao espaço seguem o Projeto 921, ou seja, a ideia de lançar taikonautas à órbita terrestre. E se a China mudar seu foco para uma humana na Lua, eles estarão longe de chegar tão rápido quanto a NASA, que pretende pousar em superfície lunar em 2024.

Portanto, "não há razão" para pensar que uma alunissagem humana chinesa acontecerá entre 2021 e 2026, de acordo com Dean Cheng, pesquisador de Estudos Asiáticos na Heritage Foundation. É que o Long March 5, foguete de lançamentos da China, que supostamente seria usado para missões humanas na Lua, ainda não foi aprovado para transportar pessoas.

Uma missão lunar tripulada só deve ser possível no final da década de 2020, disse Cheng, mas seria algo "extraordinariamente ambicioso", uma vez que a China atualmente lança pessoas na órbita terrestre uma vez a cada dois anos e não reuniu as informações detalhadas sobre o desempenho humano no espaço. Essas informações seriam de vital importância para uma missão mais longa, rumo à Lua.

Assim, Cheng conclui que uma missão lunar chinesa tripulada deve acontecer só entre 2031 e 2035. "Mas essa é a opinião de Dean Cheng. Não há política oficial chinesa", disse ele.

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