"A Culpa é Sempre do Outro"
É curioso como nos tornamos especialistas em terceirizar responsabilidade
A culpa é do governo, claro. Sempre foi. Da direita, da esquerda, do centro. Da Justiça que não julga, do Congresso que não legisla, do vizinho que não varre a calçada. Da escola que não educa, da igreja que não salva, da empresa que só explora. A culpa é da chuva, do calor, do trânsito, do Wi-Fi lento. Mas nunca é minha. Eu? Eu só estou aqui tentando viver
É curioso como nos tornamos especialistas em terceirizar responsabilidade. De repente, todo mundo entende de política, economia, meio ambiente e educação — desde que não precise aplicar nada disso na própria vida. As redes sociais são verdadeiros tribunais: todos são juízes, mas ninguém assume o papel de réu.
Agora, seja sincero, leitor: o que você está fazendo para mudar sua casa, sua rua, seu bairro, sua cidade, seu estado, seu país e, ouso perguntar, seu planeta? Está educando seus filhos para serem cidadãos críticos e atuantes ou apenas jogando um tablet no colo deles enquanto você reclama da geração perdida?
Você separa o lixo? Ou só posta foto plantando árvore no Dia da Terra e volta a jogar garrafa no rio no dia seguinte? Você participa das reuniões do bairro? Conhece ao menos o nome de um vereador da sua cidade? Sabe quantas vezes o prefeito viajou neste ano?
Talvez se ache pequeno demais. "Ah, não sou ninguém, o mundo é grande, não posso mudar nada." Ótimo álibi. Já pensou em usar essa energia para tentar alguma coisa, ainda que mínima? Uma muda plantada. Uma ideia partilhada. Uma injustiça enfrentada. Um filho bem orientado.
Ou talvez, e aqui vem a parte mais incômoda, você nem queira que mude de verdade. Afinal, mudar exige esforço. É muito mais confortável apontar o dedo da varanda do que arregaçar as mangas no quintal. Revolucionários de sofá, ativistas de stories, heróis da indignação momentânea.
A verdade é que o mundo não muda porque o mundo somos nós. E enquanto todos esperarmos que "os outros" façam algo, continuaremos nesse ciclo vicioso de indignação estéril. Chega de discurso. Que tal ação?
A culpa é sempre do outro. Até o dia em que o espelho resolver responder de volta.