Halloween e Saci-Pererê: tradições, identidade e reflexões religiosas

O Brasil é um país que sempre soube absorver e transformar influências externas, criando algo novo e único

Halloween e Saci-Pererê: tradições, identidade e reflexões religiosas

O Halloween, celebrado no dia 31 de outubro, tem raízes em festivais celtas, como o Samhain, que marcavam a transição do verão para o inverno e o encontro entre o mundo dos vivos e dos mortos. Com a chegada do cristianismo, a data foi incorporada como a véspera do Dia de Todos os Santos, mas preservou seus elementos de mistério e fantasia. A festa ganhou popularidade nos Estados Unidos, onde evoluiu para um evento cultural marcado por fantasias, decorações temáticas e o famoso "trick-or-treat" (doces ou travessuras). A globalização trouxe o Halloween para o Brasil, onde cada vez mais crianças e jovens se divertem com festas temáticas e o folclore internacional.

Entretanto, no Brasil, há uma tentativa de estabelecer uma contraposição a essa celebração estrangeira, resgatando a figura do Saci-Pererê, um dos personagens mais emblemáticos do nosso folclore. Instituído como Dia do Saci em 31 de outubro, a iniciativa busca valorizar a cultura brasileira, destacando lendas e mitos nacionais que, muitas vezes, são esquecidos em meio à difusão de tradições estrangeiras. A escolha do Saci para representar essa resistência faz sentido: ele é um personagem conhecido por suas travessuras, assim como o espírito brincalhão que caracteriza o Halloween.

A Igreja Católica, por sua vez, vê o Halloween com certa preocupação. Embora a data tenha uma conexão histórica com o Dia de Todos os Santos, muitas das celebrações modernas se afastam de seu sentido religioso e podem, em alguns casos, tocar em temas considerados inadequados ou desrespeitosos, como a banalização da morte e a glorificação de elementos sombrios. Para muitos católicos, o 31 de outubro e os dias subsequentes (1º de novembro, Dia de Todos os Santos, e 2 de novembro, Dia de Finados) são momentos de reflexão sobre a santidade, a memória dos entes queridos e a vida eterna. Assim, a Igreja incentiva que a data seja um momento de oração e de valorização da fé cristã, em vez de se concentrar em fantasias e comemorações superficiais.

Essa tentativa de promover o Dia do Saci em vez do Halloween pode, assim, encontrar apoio em alguns segmentos religiosos que veem na valorização das tradições nacionais uma forma de preservar a espiritualidade e o respeito à memória dos mortos. Ao promover as lendas brasileiras, como a do Saci-Pererê, a ideia é reforçar um sentimento de pertencimento e a valorização da identidade nacional, algo que é muito importante em um mundo cada vez mais globalizado.

Por outro lado, há quem veja o Halloween não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de troca cultural, onde diferentes tradições podem coexistir. Celebrar o Halloween não precisa significar abandonar nossas raízes. As crianças podem se divertir com fantasias de bruxas e vampiros, ao mesmo tempo que aprendem sobre as histórias do Saci e dos personagens que fazem parte do imaginário brasileiro. Afinal, o Brasil é um país que sempre soube absorver e transformar influências externas, criando algo novo e único.

O debate em torno do Halloween, do Dia do Saci e das preocupações da Igreja revela algo mais profundo sobre o Brasil: uma busca constante por equilibrar a valorização de sua própria cultura com a curiosidade pelo que vem de fora, e o respeito pelas tradições religiosas. Promover o Saci-Pererê e o folclore nacional não precisa ser uma competição direta com o Halloween, mas sim uma chance de fortalecer nossa identidade cultural e espiritual. Ao mesmo tempo, podemos nos abrir para aprender e nos divertir com tradições de outras partes do mundo, sem perder de vista quem somos.

Portanto, o importante não é banir o Halloween ou fazer do Dia do Saci uma obrigação nacional, mas sim abrir espaço para que ambas as celebrações coexistam, permitindo que nossas crianças conheçam o melhor de dois mundos. Que elas possam se assustar com histórias de fantasmas e vampiros, mas também se encantem com as peripécias do Saci-Pererê e a magia dos seres da nossa floresta, sem deixar de lado o respeito pelas tradições religiosas. Assim, construímos uma cultura mais rica, mais diversa e, acima de tudo, mais consciente de suas raízes, de sua espiritualidade e do mundo ao seu redor.

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