Da invisibilidade pública ao favoritismo, desde que o mundo é mundo ou desde que as pessoas passaram a encarar tudo como normal

Clientelismo, favoritismo, venda de votos, troca de favores ou alguns demais sinônimos que possam ser utilizados

Da invisibilidade pública ao favoritismo, desde que o mundo é mundo ou desde que as pessoas passaram a encarar tudo como normal

O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

[...]

E se somos Severinos

iguais em

tudo na vida,

morremos de

morte igual,

mesma morte

severina:

que é a

morte de que se morre

de velhice

antes dos trinta,

de

emboscada antes dos vinte

de fome um

pouco por dia

(de

fraqueza e de doença

é que a

morte severina

ataca em

qualquer idade,

e até gente

não nascida).

João Cabral de Melo Neto – Morte e vida severina.

Nada melhor que retomar João Cabral de Melo Neto para iniciar aqui nossa breve reflexão, temos de um lado os coronéis, donos de sesmarias e de outro os Severinos, e, assim se constitui nossa sociedade, fundamentada na política vigente, não só naquela partidária em que você elege um partido ou um candidato e vota nele e convence a todos de que aquele é a melhor opção. Temos também as políticas públicas que demonstram ter benefícios à população, mediante pagamento de altas taxas de impostos e outras tantas cobranças, mas apesar de todo esse dever da população os benefícios prometidos não retornam da mesma forma ao contribuinte, assim temos uma falsa sensação de que todos os serviços públicos funcionam muito bem e com atendimentos de excelência.

Lamentavelmente, a política brasileira caracteriza-se pela falta de ética. Ressalvadas algumas poucas exceções, nossos representantes costumam comportar-se no exercício do poder como se ali estivessem para cuidar dos próprios interesses e não da coisa pública.

Para os antigos, ser ético implicava o comprometimento do indivíduo, enquanto membro da sociedade, com uma vida orientada para a prática de virtudes. E esse era um modelo que deveria servir tanto para a vida privada, quanto para a atividade pública. Ética e política entrelaçavam-se. Da união de cidadãos virtuosos resultaria necessariamente uma sociedade política eticamente sadia. Ninguém mais que Aristóteles se deu conta disso.

Clientelismo se caracteriza, de maneira geral, por uma forma de relação entre diferentes atores políticos envolvendo concessão de empregos, benefícios públicos e fiscais, vantagens econômicas, obras, donativos etc., em troca de apoio político, sendo traduzido na maior parte das vezes em votos para si ou seus aliados. Isto é, um indivíduo "vende" seu apoio político em troca de algum tipo de favorecimento pessoal tornando-se "cliente" dos políticos capazes de oferecer algum tipo de benefício.

Para melhor ilustrar toda essa situação traremos aqui algumas informações importantes.

Atualmente, o câncer é um dos problemas de saúde pública mais complexos que o sistema de saúde brasileiro enfrenta, dada a sua magnitude epidemiológica, social e econômica. Ressalte-se que pelo menos um terço dos casos novos de câncer que ocorre anualmente no mundo poderia ser prevenido.

A prevenção e o controle da doença são, por esse motivo, prioridades na Agenda da Saúde do Ministério da Saúde (MS). Nesse contexto, um dos compromissos do Instituto Nacional de Câncer (INCA) com a saúde da população brasileira é participar ativamente das políticas do Sistema Único de Saúde (SUS) e colaborar na constituição da rede de cuidados integrais à saúde.

Dessa forma, ao se utilizar tecnologias de Educação a Distância, o curso ABC do Câncer – Abordagens Básicas para o Controle do Câncer objetiva, consolidando as políticas governamentais de educação em saúde, oferecer um conjunto de informações básicas e objetivas que facilitem o entendimento da dimensão do câncer, das medidas para o controle da doença e das estratégias de governo para o enfrentamento do problema.

Sabendo-se agora da atual situação mundial, posso dizer que faço parte das estatísticas e, com certeza retomar o que foi explicitado mais acima: clientelismo, favoritismo, venda de votos, troca de favores ou alguns demais sinônimos que possam ser utilizados.

Passo pela situação de um encaminhamento para São Carlos/SP e o médico que me assiste coloca em xeque o atendimento realizado pelo hospital para o qual me encaminhou e sugere ainda que eu procure alguém influente para me encaixar no atendimento de Barretos. Ora, se a medicina está tão avançada e todos os profissionais são competentes para realizar o atendimento que diferença faz o lugar em que serei atendido?

Seria essa indagação do médico uma falácia para me convencer a procurar um padrinho político que me encaixasse no atendimento de Barretos e, tendo o benefício eu me tornaria eternamente grato a esse "padrinho" político e consequentemente angariaria mais votos, dado a minha visibilidade pública como comunicador? No entanto sem o "padrinho" componho mais um conjunto de Severinos, aguardando o momento certo para ser atendido, mesmo que esse atendimento nunca se iguale ao atendimento do hospital de referência.

Infelizmente, amigos, conhecidos, e até familiares, acreditam que devo buscar apoio com políticos para conseguir encaminhamento para Barretos. Até meu médico sugeriu falar com alguém, ou seja, arrumar um padrinho político, respondi se ele como médico entendesse a real necessidade do encaminhamento, ele deveria interceder.

O médico deve ter uma relação ética e empática com seu paciente, ele sabe o melhor tratamento que cada paciente sob seus cuidados deve receber ou não teria estudado tanto para simplesmente ignorar todos os exames e prognósticos e simplesmente prescrever determinado tratamento, mas reafirmar que outro seria melhor.

Infelizmente essa é a era em que chegamos e se você ainda não arranjou um "padrinho" para chamar de seu caso você também venha fazer parte das estatísticas, é melhor se apressar ou arregaçar as mangas e lutar pelo direito de todos!

Fica aqui registrado meu inconformismo com os rumos que a política e a sociedade tomaram ao achar que tudo é normal e que não existe outro caminho.