Carlos Drummond de Andrade, considerado um dos mais influentes poetas brasileiro do século XX, escreveu certa vez que as "as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão". O trecho faz parte do poema, não à toa, intitulado de "Memória". Mas afinal o que são e para que servem as memórias? Como elas definem nossa identidade e origens? Qual a relação que podemos estabelecer entre o que passou e o que virá?
Só podemos conhecer do passado aquilo que ele deixou, aquilo que o tempo generosamente permitir. Rastros, vestígios, documentos tudo pode ser desfeito e esquecido pelo tempo. Porém, as memórias, boas ou ruins, são o que ficam.
Com o intuito, portanto, de resgatar e preservar essas memórias, matéria-prima para a produção da história social e coletiva de um povo, o projeto Porto de Memórias nasceu em maio de 2020 e realiza desde então entrevistas com personalidades de nossa terra, que contribuíram na construção de nossa cidade, em uma dimensão territorial, mas especialmente política, social e cultural.
Vale recordar que, o contexto histórico em que o projeto surge, início devastador da Pandemia, implicava o isolamento domiciliar e o distanciamento social. Estávamos longe daquilo e daqueles que mais gostavamos. A possibilidade de rever rostos conhecidos, "que a muito tempo não se via", ouvir histórias que remontavam aos tempos de infância e juventude, causos, personagens folclóricos, entre outros, ressignificou a passagem do tempo dentro de casa.
Em meio às incertezas e inseguranças do período, um sopro de esperança se fez presente ao ouvir da boca daqueles que já passaram por muitos desafios e dificuldades, que é possível esperar algo de melhor para o futuro. Como uma janela do tempo e da realidade, o Porto de Memórias se abriu trazendo consigo lembranças e histórias, é verdade, mas também reflexões sobre o passado, sobre nossas ações no presente, e especialmente sobre o nosso projeto de futuro, pessoal e coletivo.
Recheado de símbolos e significados, o Porto de Memórias aglutinou em seu logo, os principais fundamentos do projeto. Seu nome faz referência às origens da cidade que se desenvolveu ao entorno do rio Mogi-Guaçu na presença da balsa de João Ferreira, dialogando poeticamente também com a ideia de um ancoradouro em que se atracam "embarcações" carregadas de memórias e histórias da comunidade local.
Neste sentido, a presença do termo "Porto" se relaciona duplamente com o nome da cidade de Porto Ferreira e com o espaço que o projeto se propõe a ser, de reunir e concentrar essas lembranças. As cores escolhidas buscam remeter ao passado e às tradições, e a presença da âncora no logotipo e na logomarca se associam ao imaginário portuário da cidade.
Hoje consolidado na sociedade ferreirense, com mais de 25 entrevistas gravadas e publicadas em parceria com o Jornal do Porto, o Porto de Memórias começou a ser planejado em meados de 2018, com início de um amplo processo de pesquisa e diálogos com profissionais da área, na perspectiva de se encontrar um formato multimídia para o produto que correspondesse às expectativas de acessibilidade e alcance do projeto.
Dessa forma, o objetivo geral do Porto de Memória é atuar como instrumento de resgate da memória coletiva da cidade de Porto Ferreira, por meio de produções jornalísticas que valorizem e preservem aspectos do passado (sujeitos, causos, festas populares, figuras folclóricas, espaços), democratizando por meio das mídias sociais como YouTube, Facebook e Instagram, em linguagem adaptada, o acesso a esses conteúdos.
por Felipe Lamellas Jornalista I Unesp (2020) Idealizador do Porto de Memórias