Médico diz que Hospital Dona Balbina ignorou solicitação da equipe de Pediatria

Sendo assim, solicita respeitosamente, que a Comissão de Ética e Mesa Administrativa averiguem e ponderem os fatos"

Médico diz que Hospital Dona Balbina ignorou solicitação da equipe de Pediatria

"Em nenhum momento se negociou valores. Não houve reunião para discutir isso". As afirmações são do médico pediatra Dr. Alexandre Andreghetto, da equipe de Pediatria que até segunda-feira (9) prestava serviço de plantão de sobreaviso no Hospital Dona Balbina.

Ontem (11), após publicação de matéria no portal do Jornal do Porto sobre a interrupção da realização de partos no hospital, devido à falta de pediatras, o médico procurou a reportagem para fazer esclarecimentos e disse que as solicitações da equipe de Pediatria foram ignoradas.

Recapitulando, a Irmandade de Misericórdia de Porto Ferreira, mantenedora do Hospital Dona Balbina, informou autoridades municipais, estaduais e o Ministério Público a suspensão, desde terça-feira (10), da realização de partos em sua Maternidade. O motivo seria a falta de profissionais de Pediatria para atender as gestantes, segundo o ofício enviado às autoridades.

A Irmandade afirmou no ofício que a equipe de médicos pediatras que prestava serviço em regime de sobreaviso havia pedido um reajuste de honorários, que implicaria num acréscimo de 48,8% nos custos da manutenção da escala de sobreaviso.

Como não se chegou a um "ajuste", a equipe de Pediatria comunicou que encerraria a prestação de serviços a partir de 10 de maio. A Irmandade procurou contratar novos médicos, mas não obteve êxito, e assim informou as autoridades municipais, estaduais e o MP sobre o fato, solicitando ainda que estes adotem medidas para o atendimento das gestantes no setor de Pronto-Socorro.

Carta – O Dr. Alexandre Andreghetto disponibilizou à reportagem uma carta que a equipe de Pediatria enviou à Mesa Administrativa e à Comissão de Ética Médica do Hospital Dona Balbina dias atrás, na qual consta uma cronologia dos fatos ocorridos, segundo os pediatras.

A carta começa dizendo que em meados de 2021, após uma visita do Conselho Regional de Medicina ao hospital, devido a alta da taxa de mortalidade materno-infantil, ficou estabelecida a necessidade de criação de plantões presenciais – e não mais apenas os plantões de sobreaviso – aos ginecologistas, pediatras e anestesiologistas, segundo o diretor técnico do hospital e ginecologista Dr. Sérgio Carvalho.

De acordo com o relato dos pediatras, o plantão presencial foi implantado, mas apenas para os ginecologistas, que receberiam honorários maiores por conta disso. Os pediatras dizem que houve, então, aumento da demanda e horários variados e, "sem melhores remunerações, os pediatras e anestesiologistas sentiram-se prejudicados e o serviço não se manteve completo, o que não amenizou o risco de mortalidade", diz a carta.

A equipe de Pediatria, em 24 de janeiro, teria solicitado então por escrito ao diretor técnico, ao provedor e ao administrador uma reunião para tentar uma solução. Os pediatras sugeriram que fossem oferecidos os mesmos benefícios dados aos ginecologistas ou melhoria na remuneração, compatível ao grande volume de serviço.

Em 9 de fevereiro a equipe de Pediatria reuniu-se apenas com o diretor técnico, que teria se encarregado de levar a proposta à Administração e Provedoria.

Em 8 de abril, sem resposta formal, a Pediatria encaminhou outra carta à Administração e aos diretores técnico e clínico, que devido à falta de condições iguais de trabalho a equipe de sobreaviso prestaria serviços até 10 de maio, "oferecendo tempo hábil para que uma resolução positiva ou negativa fosse tomada".

Passadas outras semanas, os pediatras teriam sido informados verbalmente pelo diretor clínico, Dr. Fernando Ramos, que em reunião realizada no dia 20 de abril entre Diretoria Técnica, Provedoria, Administração e Jurídico do hospital, os plantões de Pediatria passariam a ser presenciais, a partir de 11 de maio, "excluindo a equipe atual, sem nenhuma justificativa plausível", prossegue a carta. E que o Dr. Sérgio Carvalho teria dito publicamente que, caso não formasse uma nova equipe de Pediatria, a Maternidade seria fechada.

A carta da equipe de Pediatria termina assim: "O fato é que diante de inúmeras solicitações da Pediatria, sem nem sequer uma única resposta formal, por escrito, a equipe sente-se envergonhada e injustiçada pela falta de profissionalismo, após mais de 20 anos prestando honrosamente seus serviços a esse estabelecimento. Sendo assim, solicita respeitosamente, que a Comissão de Ética e Mesa Administrativa averiguem e ponderem os fatos".