Brasileiro.Discurso e Realidade

Publicada no JORNAL DO PORTO dia 31-12-2021

Brasileiro.Discurso e Realidade

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Tempos sombrios. Assim definem o momento presente vários intelectuais. Os reais e os youtubers em geral. Independente da tendência politica.

Esquerda, direita, extrema esquerda (o que nunca existiu de fato nesse pais) , como afirmam os entendidos do "watts zap" ou em grupos ocasionais.

Em nosso país os afetos políticos são bastante semelhantes a torcidas organizadas sem, entretanto, nenhum conhecimento aprimorado. Banalizou-se o discurso. No entanto, a história remete a um passado colonial recente em que as "commodities" eram a origem de riqueza e poder. Passamos por vários governos após a chegada dos ventos republicanos de 1889.

Conhecido como "pai dos ricos e mãe dos pobres", o Estadista Getúlio Vargas, entendeu as necessidades prementes do país de sua época.

Reinventou as forças produtivas, elevando a pátria eugênica e colonialista, produtora de alimentos e exportação de minérios a uma possibilidade de reorganização do trabalho lucrativo. Nazismos e fascismos corroíam a dignidade dos povos e o mundo conheceu os horrores da Segunda Grande Guerra Mundial.

O Excelentíssimo presidente da época, apesar de suas tendências totalitárias, investiu na possibilidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento de indústrias de base. Acreditando na capacidade dos trabalhadores do incipiente empreendimento siderúrgico e metalúrgico, melhorou o salário dos operários bem como proporcionou a participação feminina na política da época, estendendo a esse público ignorado em uma sociedade patriarcal, direitos políticos a partir do voto. Investimentos em educação e saúde pública estavam em seu projeto de nação, embora apenas a elite tenha sido contemplada com o ensino superior. Estava plantada a semente do provável crescimento econômico.

Vários empreendimentos progressistas floresceram como a Petrobras, CSN, dentre outros. As reflexões ideológico-partidárias prosperaram, conduzidas pelo sistema financeiro e econômico.

Outros governos o sucederam em circunstâncias peculiares e chegamos ao famigerado Regime Militar. Muitos contemporâneos dizem que essa época foi a melhor do país.

Expressar pensamentos ou mesmo tentar entender governanças internacionais de alguma forma divergentes, era proibido.

A tortura, perseguições e total falta de liberdade para com aqueles que ousassem se expressar, fosse para argumentar, criticar ou compreender o afamado "Regime" e suas utopias era uma pratica corriqueira.

Época de dúvidas, contradições e escolhas. Economicamente são questionadas algumas ações desse momento histórico a luz da pesquisa acadêmica. Dívidas imensas, exploração do trabalho humano, inflação elevada. A "década perdida" se impôs. A escravização da população negra historicamente responsável pela produção de riquezas foi sendo substituída gradativamente pelo imigrante branco. A negritude se fez presente não só na aparência superficial.


À cor da pele somaram-se a pobreza de recursos e a alienação comprometedora. A população de miscigenados e excluídos em um país de tantas riquezas multiplicou-se. As riquezas naturais desse gigante que é o Brasil, cantadas em versos e prosa pelos poetas ao longo do tempo seria a desgraça do trabalhador?

Sobreveio a realidade do atraso econômico, produtivo e intelectual em relação a tantos países nesse mundo que não é plano, iniciando-se um questionamento furioso por parte das elites: - "é preciso investir em educação", diziam... "educação para todos" tornou-se obrigação do Estado e direito do povo.

Esta educação até então elitizada, passou a permear os meandros de pobreza institucional. Não havia mão de obra qualificada ( professores), surgiram as "tias" , aquelas almas iluminadas que não tinham preparo acadêmico, mas que de alguma forma colaboraram na "educação" para todos. Deu-se continuidade a sofrida formação educacional da população brasileira, com falhas grotescas no setor mais delicado da formação humana: a arte de pensar e ser livre.

Os condicionamentos instituídos pela elite econômico-financeira ultrapassaram o tempo. Segundo o filosofo e educador Paulo Freire, criticado por setores da elite ferreirense, "o desejo do oprimido é tornar-se opressor".

Fortaleceram-se grilhões invisíveis que escravizaram almas e perverteram a ética. No plano político os desafios na arte da dominação tornaram-se mais sutis.

O discurso aprimorou-se.

A ética continuou esquecida em delírios de outrora.

Curiosamente a tão aclamada "sociedade de bem" passa a questionar nesses tempos atuais, a liberdade de expressão e os direitos humanos, afirmando-se homofóbicos e racistas sem nenhum constrangimento, em nome de um sistema sociopolítico hipócrita e patológico.

Observa-se que a "liberdade" em grupos que "cultuam" o nacionalismo e a legalidade declarando-se oficialmente apoiadores da violência, armas e morte limitam-se a nichos nos quais acreditam poder sobreviver sozinhos.

A educação, tão enaltecida, a cada dia limita-se a poucos, já que o Estado em todos os seus níveis, desde o poder local até o federal, agentes reguladores em última instancia da distribuição e controle desse bem, negam-se a efetivamente cumprir compromissos institucionais ou projetos de campanha relegando aos educandos dessas redes públicas frequentar salas de aulas abarrotadas sendo servidos por profissionais desesperançados, cansados e mal remunerados sem chance de opinar.

Aqueles que arriscam a opinar são tratados com grosseria e intimidação. Tempos difíceis. Releitura histórica em que professores são massacrados em protestos legítimos. E as vozes persistem: a educação ainda é um dos pilares da renovação. Não irão nos calar.


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