Valdemir Mafra: "Porto Ferreira? esse capítulo é a minha vida", conheça as memórias do roupeiro e fotógrafo mais tradicional do PFFC

Com muito bom humor, Miro, como é conhecido, se recorda das travessuras de criança e dos anos dourados do PFFC, que se confundem com a própria história da cidade

Valdemir Mafra: "Porto Ferreira? esse capítulo é a minha vida", conheça as memórias do roupeiro e fotógrafo mais tradicional do PFFC

Até onde a paixão por um clube pode ir? A resposta para essa pergunta pode parecer incerta e de fato é, mas para Valdemir de Oliveira Mafra, popularmente conhecido como Mirão, ela está na ponta da língua: "Porto Ferreira? esse capítulo é a minha vida".

Com os cabelos brancos penteados para trás, os óculos com a tradicional armação quadrada, um sorriso aberto no rosto e vestindo o "manto" do PFFC, Miro conta como sua vida se entrelaça, desde sempre, com a história do clube ferreirense.

Nasceu em uma casa simples na Av. Eng. Nicolau de Vergueiro Forjaz, antiga 24 de Outubro, pelas mãos da Dona Milide, parteira famosa na cidade e avó materna do jogador Adriano José Mariano, o saudoso futebolista ferreirense. Enquanto abria os olhos pela primeira vez, seu pai, o Mafrão, comemorava em um bar na avenida o resultado de uma partida de futebol, justamente do PFFC.

Frequentou o Grupo Escolar Sud Mennucci, abandonando os estudos antes de concluir o primário para ajudar a família trabalhando como servente de pedreiro. Em seguida, ingressou em empresas tradicionais na cidade, como a Fábrica de Louças e a Fiação Amélia, antes de se aventurar em São Paulo, em busca de uma vida melhor.

De volta para Porto, casou-se com a dona Margarida e foi contratado pela MarGirius, de onde só saiu aposentado. "Eu acho que sou a pessoa que mais fez hora-extra lá, nunca disse um não para a MarGirius".

Começou a frequentar o Clube logo cedo, acompanhado pelo pai, que jogava bola pelo PFFC. "Eu não perdia um jogo, era figurinha do Porto". Aos 16 anos, uma outra paixão começou a brotar: a fotografia. Sempre que podia, levava para os jogos uma câmera antiga e fazia os registros das partidas e dos jogadores.

Ele se recorda, que ainda na época de moleque, para poder ver o pai jogando, era comum pular o muro do campo, que tinha sempre uma armadilha para identificar os penetras. A parte de cima do muro era ensopada com piche fresco. Quando interrogado, ele negava o delito e era sempre rebatido com um: "Como é que você não pulou? Olha a sua mão menino!". Isso, quando, no decorrer da semana, junto com os colegas, eles não marretavam um pedacinho do alambrado para poder escapulir por alí nos dias de jogos.

Anos mais tarde, foi contratado pelo Clube como roupeiro. "Aí meu filho, aí eu lancei". Mafra conta que os uniformes eram lavados pela Dona Margarida e enfileirados militarmente por ele nos cabides do vestiário do campo. "Eu era ciumento? Jogador que jogava a camisa no chão eu mandava ele ir lá pegar, "vai lá e pega!"".

Foi assim que Mafra viu, literalmente de camarote, gerações de jogadores do PFFC, e fez boas amizades, nas resenhas fora das quatro linhas do gramado, como o Rui Vicentini, o Agenor, o Bindanti, o Paschoal Bruno, o Biba, o seu Marcier Martins, entre tantos outros.

Quem conhece o senhor simpático e sorridente, sempre de bom humor e com uma piada na ponta da faca, pode fazer ideia de como era o Mafrinha na escola. Frequentador assíduo da sala do Professor João Teixeira e da Dona Olímpia, Mafra conta algumas de suas muitas travessuras.

Como a vez em que disparou uma sirene que colocou o prédio inteiro em alerta ou ainda, nas suas escapadas, na hora do intervalo, para a Padaria do Gentil, perto do Sud, quando pulava o portão da escola para comprar doce e marcava na caderneta do seu pai. Na volta, tinha que entrar pela porta da frente e aí era bronca na certa, nem adiantava negar: "Mafrinha, você não tem jeito mesmo? Como você não comeu doce? Olha sua boca toda lamecada!", era a resposta da Dona Olímpia.

Valdemir Mafra, considerado uma lenda na história do PFFC, e amante do futebol, foi testemunha ocular até mesmo das façanhas do Rei Pelé. Certa vez, conta ele, foi assistir uma partida de futebol entre Palmeiras, seu time do coração, e Santos. No meio do relato, ele para, suspira, sorri com os olhos e exclama: "Eu vi o Pelé jogando!". E mais, conta que no dia, Pelé deu um chapéu no Ademir da Guia, jogador do Palestra, e este teria devolvido o chapéu no camisa 10 do Santos, para o delírio da torcida. "Aquele dia lá eu chorei".

Dentre as mais de 4 mil fotos que Mafra calcula ter tirado, quando perguntado se seria possível elencar uma foto mais marcante ele brinca: "Tem sim, a do banco da morte! Sabe onde é?". Mafra em tom de humor se refere a uma muretinha, ao lado de uma farmácia, na rua Coronel João Procópio, onde costumavam-se sentar alguns idosos, velhos amigos, para trocar uns dedos de prosa. Muitos dos que se sentaram lá, já partiram, e daí surgiu o apelido do banco. "Ali eu não sento!", exclama ele.

Olhando para a câmera, com olhar profundo e voz serena, Mafra encaminha para o encerramento da entrevista, com a seguinte mensagem: "Olha meus amigos, ama Porto Ferreira, como eu amo e como amo..". Sobre o clube que tanto ama e que ajudou a construir, por meio dos anos de devoção e suor, Mafra só espera uma coisa: "Eu desejo que o Porto Ferreira Futebol Clube nunca acabe".

O projeto Porto de Memórias, busca resgatar e preservar a história da cidade de Porto Ferreira, por meio de entrevistas que eternizam as lembranças e memórias de personagens marcantes do município e é idealizado pelo jornalista Felipe Lamellas.



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