Órgão de concorrência dos EUA diz que alegações do Facebook para encerrar contas de acadêmicos são 'imprecisas'

Órgão de concorrência dos EUA diz que alegações do Facebook para encerrar contas de acadêmicos são 'imprecisas'
Rede social desabilitou perfis de pesquisadores que estudavam desinformação e afirmou que veto tinha relação com regras da FTC. Grupo que foi banido diz que plataforma está silenciando seu trabalho. Logo do Facebook

REUTERS/Stephen Lam

A Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos disse na última quinta-feira (5) que as alegações do Facebook para justificar o encerramento de contas de acadêmicos que pesquisavam sobre desinformação na rede social são "imprecisas".

Na última terça (3), a empresa desabilitou perfis de pesquisadores da Universidade de Nova York que monitora quais anúncios políticos voluntários veem na rede social.

O Facebook disse que o grupo desrespeitou as regras sobre raspagem de dados e que parte do motivo para restringir as contas tinha a ver com regras sobre privacidade combinadas com a FTC após o escândalo da Cambridge Analytica.

Em uma carta endereçada ao presidente-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, a FTC disse que essa alegação era "imprecisa".

SAIBA MAIS: Facebook desabilita contas de acadêmicos que pesquisavam sobre desinformação na rede social

"Embora eu reconheça que o Facebook corrigiu o registro, estou desapontado com a forma como sua empresa conduziu este assunto", escreveu Sam Levine, diretor interino do Escritório de Proteção ao Consumidor do órgão.

"A FTC não recebeu nenhum aviso de que o Facebook estaria invocando publicamente nosso decreto de consentimento para justificar o encerramento de pesquisas acadêmicas no início desta semana".

"Embora não seja nosso papel resolver disputas individuais entre o Facebook e terceiros, esperamos que a empresa não esteja invocando a privacidade – muito menos a ordem de consentimento da FTC – como um pretexto para avançar outros objetivos", escreveu.

Os pesquisadores banidos parte de um projeto chamado NYU Ad Observatory, que pede para que voluntários baixem uma extensão para navegadores web que coleta dados sobre quais anúncios políticos elas veem no Facebook.

Parte dessas informações são disponibilizadas publicamente pela rede social a partir de um recurso chamado "Biblioteca de Anúncios". Porém, dados que indicam o porquê de um usuário estar vendo aquela publicidade não é revelado nesta ferramenta – uma das informações coletadas pela pesquisa.

Laura Edelson, uma pesquisadora envolvida no projeto que teve sua conta pessoal banida pelo Facebook, disse que a empresa quer acabar com a investigação independente de sua plataforma.

O Facebook também diz que proibiu a extensão dos pesquisadores por ela violar a privacidade dos usuários ao coletar informações sobre os usuários que não o haviam instalado. Uma auditoria independente realizada pela Mozilla, desenvolvedora do navegador Firefox, afirmou que isso não é verdade.

Ao G1, um porta-voz do Facebook disse que a empresa explicou "diversas vezes nossas preocupações com privacidade para a NYU, mas seus pesquisadores decidiram não considerá-la".

Processo do FTC contra o Facebook

Em um caso separado, a FTC processou o Facebook por monopólio. O órgão acusa a rede social de abusar de sua posição dominante para desbancar a concorrência e exigir, entre outras coisas, a ruptura com suas filiais Instagram e WhatsApp.

O Facebook ganhou uma instância em junho, quando o juiz Boeasberg indeferiu o caso porque carecia de "provas concretas sobre o real poder do Facebook". Com a decisão, o valor de mercado da empresa chegou a atingir US$ 1 trilhão.

A Comissão pediu a um tribunal federal mais tempo para abrir uma petição adicional no caso.