Gal Costa reencena o drama de 'Pois é' com António Zambujo em clima de câmara

Gal Costa reencena o drama de 'Pois é' com António Zambujo em clima de câmara
Com artista português, cantora regrava música de Tom Jobim e Chico Buarque em single de álbum comemorativo de 75 anos. Capa do single 'Pois é', de Gal Costa e António Zambujo

Divulgação

Resenha de single

Título: Pois é

Artistas: Gal Costa e António Zambujo

Compositores: Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque

Edição: Biscoito Fino

Cotação: * * * *

? Das 10 músicas que compõem o repertório do disco comemorativo dos 75 anos de Gal Costa, Pois é se impõe como a escolha mais surpreendente, superando inclusive Juventude transviada (Luiz Melodia, 1975), samba-canção gravado pela cantora com Seu Jorge para o álbum que vem sendo mostrado paulatinamente em singles editados desde novembro.

Uma das 13 parcerias de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) com Chico Buarque, Pois é foi composta em 1968 e apresentada em disco pelo parceiro letrista, dois anos depois, no álbum Chico Buarque de Hollanda nº 4 (1970).

Embora gravada por Gal Costa no álbum Água viva (1978), Pois é é música totalmente dissociada da voz cristalina de cantora. Para seguidores da MPB, o registro feito em 1974 por Elis Regina (1945 – 1982) – em álbum gravado com ninguém menos do que Tom Jobim – sobressai com maior nitidez na parede da memória.

No disco provisoriamente intitulado Gal 75 e idealizado por Marcus Preto, Gal reencena o drama amoroso de Pois é em dueto com o cantor português António Zambujo em gravação que totaliza um minuto e 53 segundos e que chega ao mercado fonográfico na sexta-feira, 22 de janeiro, dando mais uma amostra do álbum programado pela gravadora Biscoito Fino para ser lançado em 12 de fevereiro no formato de CD (a edição em LP virá mais tarde, em data ainda incerta).

Em vez do piano que conduziu o registro fonográfico da canção de Tom e Chico no álbum Água viva, no toque de Tomás Improta, a atual abordagem de Pois é é calcada nas cordas tocadas e orquestradas por Felipe Pacheco Ventura, produtor do fonograma também formatado com cellos de Marcus Ribeiro.

Recorrentes nos dez singles do álbum, as cordas em Pois é soam em circunspecto clima de câmara, com dramaticidade harmonizada com a voz maturada de Gal e o canto fluente de Zambujo, intérprete tão afinado com a música do Brasil que há cinco anos lançou álbum, Até pensei que fosse minha (2016), dedicado ao cancioneiro de Chico Buarque.

A gravação de Pois é tem certo peso e bom acabamento. Ainda assim, mesmo que a canção simbolize a afinidade de Gal com Tom Jobim e Chico Buarque, dois compositores importantes na trajetória da cantora, paira a sensação de que Pois é ocupa no disco revisionista o lugar que poderia ser de músicas mais emblemáticas na discografia da artista.

O lugar que poderia ser, por exemplo, de Folhetim (1978), bolero de Chico que Gal popularizou em gravação incluída no mesmo álbum Água viva em que deu voz à sofrida canção de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda.