Funcionários da Alphabet, dona do Google, formam sindicato nos EUA

Funcionários da Alphabet, dona do Google, formam sindicato nos EUA
Até agora, 0,10% dos trabalhadores da empresa se filiaram. Grupo vai funcionar em modelo que não exige reconhecimento de agência de relações trabalhistas dos EUA. Funcionários do Google protestam após vir à tona caso de assédio envolvendo o Andy Rubin, idealizador do Android, em dezembro de 2018.

Reuters/Stephen Lam

Um grupo de mais de 220 funcionários da Alphabet, empresa que controla o Google, anunciou nesta segunda-feira (4) a formação de um sindicato nos Estados Unidos.

Chamada de "Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet", a organização será afiliada ao sindicato de Trabalhadores de Comunicações das Américas, que representa funcionários de empresas de telecomunicações e mídias nos EUA e no Canadá.

Ao contrário de um sindicato tradicional, que segue algumas legislações trabalhistas específicas e exige que o empregador negocie e assine um contrato com seus funcionários, o grupo irá se organizar como um "sindicato minoritário".

Essa iniciativa permitirá que trabalhadores terceirizados, que representam uma grande fatia dos funcionários do Google, também possam se juntar à iniciativa.

Até o momento, 226 trabalhadores da Alphabet assinaram o documento que os tornam parte do sindicato. Segundo o jornal "New York Times", a empresa possui mais de 220 mil funcionários contratados e terceirizados.

"Quando o Google abriu seu capital em 2004, disse que seria uma companhia que 'faz boas coisas para o mundo mesmo que fosse preciso renunciar a alguns ganhos de curto prazo'. Seu lema costumava ser 'não seja mau' . Nós vamos viver seguindo esse lema", escreveram os organizadores do movimento.

Ao se organizar como um "sindicato minoritário", o grupo não precisa ser reconhecido pelo Conselho Nacional de Relações Trabalhistas, uma agência governamental dos EUA, nem realizar eleições formais.

A intenção não é assinar um contrato com o Google, mas criar uma "estrutura sustentável" para defender direitos e interesses dos funcionários, segundo um comunicado. A tendência é que, ao juntar trabalhadores, o grupo possa pressionar a Alphabet em algumas decisões.

A diretora de operações de pessoas do Google, Kara Silverstein, enviou um comunicado para veículos de comunicação em que diz a companhia "sempre trabalhou duro para criar um espaço de trabalho solidário e recompensador para a força de trabalho".

"Nossos funcionários protegeram os direitos trabalhistas que apoiamos. Mas, como sempre fizemos, continuaremos nos envolvendo diretamente com todos os nossos funcionários", afirmou.

A iniciativa é rara no Vale do Silício e entre trabalhadores do setor de tecnologia. Funcionários de duas pequenas empresas da área organizaram sindicatos em 2020: da plataforma de financiamento coletivo Kickstarter e da ferramenta de colaboração de códigos Glitch.

Plano de fundo

Funcionários do Google protestam contra assédio sexual, em dezembro de 2018.

REUTERS/Jeenah Moon

A relação entre os funcionários e as lideranças executivas da Alphabet se tensionaram nos últimos anos, o que incentivou a criação do sindicato, segundo o comunicado do grupo.

Parul Koul e Chewy Shaw, que trabalham no Google e presidem a nova organização, escreveram um artigo de opinião publicado no jornal "New York Times" e citaram exemplos dessa ruptura.

Em 2018, os funcionários do Google escreveram uma carta ao CEO da companhia, Sundar Pichai, pedindo que encerrasse uma parceria com o Pentágono que estaria desenvolvendo um programa de inteligência artificial (IA), chamado Project Maven. A pressão deu certo, a empresa deixou o projeto de lado.

No mesmo ano, outra movimentação dos trabalhadores fez com que o Google abandonasse o Projeto Dragonfly, um plano para lançar uma versão censurada dos serviços de buscas on-line na China.

Também em 2018, milhares de trabalhadores deixaram os escritórios e protestaram contra escândalos de assédio sexual e como a empresa lida com esses casos, no chamado "Google Walkout".

O protesto aconteceu após uma reportagem do jornal "New York Times" mostrar que a empresa protegeu Andy Rubin, um alto executivo diretor do sistema Android, acusado de assédio.Ele deixou a empresa com um bônus de US$ 90 milhões.

SAIBA MAIS: Funcionárias que promoveram protesto no Google enfrentam retaliação, diz jornal

No final de 2020, milhares de profissionais do Google e apoiadores acadêmicos assinaram um abaixo-assinado contra a demissão da cientista de inteligência artificial Timnit Gebru.

Ela enviou um e-mail interno acusando o Google de "silenciar vozes marginalizadas", após superiores terem solicitado que ela não publicasse um artigo científico ou retirasse seu nome e de colegas. Gebru foi desligada da companhia pouco depois.

Google no centro de denúncias de racismo após demissão de cientista

Em dezembro passado, o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas acusou o Google de espionar ilegalmente funcionários que organizaram protestos e ter demitido dois deles em retaliação.

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