Como 'Cracudo' virou 1º hit de Tierry, depois de mais de 500 composições para outros artistas

Como 'Cracudo' virou 1º hit de Tierry, depois de mais de 500 composições para outros artistas

Cantor baiano escreveu sucessos como 'Dançando', de Ivete, e 'Cem mil', de Gusttavo Lima. 'Espero ser um dia uma Marília de calças. Um compositor que virou cantor', diz ao G1. Tierry

Divulgação

"Por que não dá certo comigo?", costumava se perguntar Tierry. O cantor e compositor de 30 anos acertou em diversos hits estourados em todo o Brasil. Mas os versos dele só faziam sucesso na voz de outros, mesmo que ele gravasse a canção antes.

Sua primeira composição foi "Dançando", sucesso na voz de Ivete, assinada em parceria com Marcio Vitor e Filipe Costa Silva. Depois disso, vieram:

"Cem mil" (Gusttavo Lima);

"Os anjos cantam" (Jorge e Mateus);

"Paga de Solteiro Feliz" (Simone e Simaria feat Alok);

"Casado Namorando Solteiro" (Wesley Safadão);

"Baldin de Gelo" (Claudia Leitte);

"Escondido dos seus pais" (Sorriso Maroto);

E outras gravações entre as mais de 550 composições registradas por ele no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).

Tierry tem o costume de enviar suas composições para os amigos famosos para que possam opinar. Ivete Sangalo, Luan Santana, Claudia Leitte e Simone & Simaria estão nesta lista. E, assim, ele "perdia" suas composições para os artistas, que pediam para gravar a música.

Em 22 de outubro de 2019, um dia antes de gravar o álbum "Acertou na mosca", Tierry escreveu "Cracudo". Ele não teve tempo para enviar a música para ninguém. Mas a música acabou ficando com ele não só por isso:

"Precisava fazer uma sofrência que fosse minha e que talvez um outro artista não tivesse coragem de gravar. Estava cansado de outros artistas pedirem pra gravar."

Tierry sabia que a letra poderia gerar polêmica. E gerou. Mas também trouxe o esperado sucesso como intérprete.

"Cracudo" está na lista das 50 músicas virais no Brasil do Spotify e tenta ser um dos sucessos de sofrência do carnaval.

Nascido em Salvador, Tierry se mudou para Nilo Peçanha, na Bahia, aos três anos. Cresceu ouvindo Chico Buarque, Caetano Veloso, Carlinhos Brown e Zezé di Camargo. E ele sabe bem o que quer para a carreira:

"Quando crescer, quero ser como Marília Mendonça. Como dizem meus amigos, espero ser um dia uma Marília de calças. Um compositor que virou cantor".

"Quero que as pessoas possam ver esse lado meu e valorizar isso. Graças a Deus, já ajudei muito pela música do meu pais, contemporânea, o sertanejo, que hoje é a MPB do país."

Hoje, "Cracudo" tem quase 6 milhões de visualizações no YouTube. Em um vídeo no Twitter, Tierry se emociona ao ver todo o público cantando o hit em um show:

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Plano B

"Cracudo" não era a escolhida para ganhar clipe e ser o carro-chefe desse disco que, segundo ele, é focado no "arrocha-sertanejo-sofrência". A primeira opção era a faixa-título "Acertou na mosca", parceria com Gusttavo Lima.

Mas "Cracudo" chamou atenção pelo nome:

"O pessoal fala: 'nossa, com problema de saúde pública. Meu Deus, que cara louco'. E as pessoas, por essa curiosidade, vão ouvir."

"Chegam lá e veem que não tem nada demais. É uma poesia de rua, que fala de relacionamentos. Não fala de droga", explica Tierry. "É uma música inteligente, com melodia bacana."

O cantor cita ainda que o videoclipe faz uma campanha para o Centro de Valorização da Vida (CVV). "A depressão é a grande mãe desses vícios."

Tierry

Reprodução/Instagram

"A composição contemporânea tem que ser diferente, tem que dizer algo diferente. Por mais que, a priori, choque. Os últimos hits de carnaval chocaram", justifica. Como exemplo, ele cita "Deu onda" (MC G15), "Paredão metralhadora" (Banda Vingadora) e "Lepo Lepo" (Psirico).

Hit baratinho

"Cracudo" faz parte de um disco totalmente caseiro. "A voz eu gravei no quarto de casa, não tem nem acústica. E a gravação com os músicos fiz no fundo de casa. Minha mãe fez comida aqui e dei um trocado pros músicos", relembra.

As 10 músicas inéditas e as cinco regravações foram feitas com uma verba total de R$ 1,5 mil. Mas tanta economia foi para não esbanjar. Tierry ganha bem como compositor. Ele cobra entre R$ 15 mil e R$ 20 mil para ceder uma música para um artista.

Antes de 'Cracudo'

Tierry celebra o sucesso de "Cracudo" em 2020, mas teve muito a comemorar em 2019. "Cem mil", cantada por Gusttavo Lima, foi a música mais tocada do ano de acordo com a Crowley, empresa que monitora a programação das rádios.

Tierry conta que enviou a música para o cantor e o convidou para gravar junto:

"Ele falou: 'Eu gravo 10 músicas com você se você me der essa pra ser minha música de trabalho. Tenho certeza que será a música mais tocada do país'."

Gusttavo não se enganou. O sertanejo também assina a composição, mas não escreveu nada da letra. "Ele produziu a música. Foi superimportante", explica Tierry.

Tierry

Divulgação

"Cem mil" surgiu após um período sabático. Tierry trancou a faculdade de Comunicação Social para se dedicar à música e se lançou como cantor em 2015.

Em 2017, entrou para a Audiomix, escritório que cuida da carreira de Mateus & Kauan, Simone e Simone, Alok e Wesley Safadão.

"Tive que parar a carreira por causa da saúde do meu filho. Ele teve um choque séptico, mas graças a Deus, conseguiu sobreviver. Teve sequelas, mas está vivo."

Para cuidar do filho, na época com 3 anos e meio, Tierry largou tudo. E contou com a ajuda de Simone e Simaria para convencer o empresário Marcos Araújo a perdoar a dívida de R$ 7 milhões pela quebra de contrato.

"Meu filho usou coração e pulmão que bate fora do corpo. O caso foi muito grave. Isso meio que ajudou a tocar o coração das pessoas. Eu só queria viver aquele momento com o mínimo em paz . O Marquinho foi super de boa, se solidarizou."

Além de gratidão, Simone e Simaria ganharam prioridade na hora de conhecer as novas composições dele: "Tenho mais de 15 músicas gravadas com elas."