Paulinho da Viola 'reabre janelas da vida' ao alinhar sambas transformadores na primeira live

Paulinho da Viola 'reabre janelas da vida' ao alinhar sambas transformadores na primeira live
Artista acenou para parceiros e reafirmou a elegância da obra em show transmitido pela plataforma Globoplay. Paulinho da Viola em live feita na noite de sábado, 28 de novembro

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Resenha de show – Live

Artista: Paulinho da Viola

Local: Grande Sala da Cidade das Artes (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 28 de novembro de 2020, das 22h às 23h30m

Cotação: * * * *

? Show transmitido pela plataforma Globoplay

? "Acende a chama / É o som de um samba / Que chega nas ondas da noite... / ... / Se há um tempo de amargura / Pode haver a desventura / De um samba sem calor / Mas nada se conserva eternamente / ... / Até pensei que o meu samba se perdeu / Mas o samba se transforma, como a vida / Assim como esta chama de amor / Que não morreu".

Com os versos de Nas ondas da noite, samba que lançou em 1971, Paulinho da Viola mandou de cara um recado de esperança para quem assistiu à primeira live do artista.

Cantor, compositor e músico carioca de recém-completados 78 anos, Paulinho da Viola reacendeu a velha chama ao encadear sambas transformadores no roteiro de show apresentado na Grande Sala da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ), e transmitido para o mundo nas ondas da noite de sábado, 28 de novembro, através da plataforma Globoplay.

No molde habitual dos shows do artista, Paulinho se alternou no cavaquinho e no violão – rodeado no palco por músicos de alta estirpe, fluentes nas cadências do samba e do choro – e desfiou roteiro que misturou sucessos inevitáveis nas apresentações do cantor, casos de Argumento (1975) e Pecado capital (1975), com joias menos conhecidas, mas nem por isso de menor quilate.

Ao longo de uma hora e meia de show, Paulinho da Viola mostrou mais uma vez a "velha intimidade" que tem com o samba – como alardeou com naturalidade em verso de Eu canto samba (1989) – e também com os músicos da banda, formada por virtuoses como o ritmista Esguleba e o flautista Mário Sève.

Algumas músicas foram precedidas por breves comentários, que muitas vezes consistiram em acenos afetuosos para parceiros como Eduardo Gudin, Hermínio Bello de Carvalho, José Carlos Capinan e Sérgio Natureza – representados no roteiro por composições como o samba Ainda mais (1998), o samba Timoneiro (1996), o choro Coração imprudente (1972) e o samba Vela no breu (1976), respectivamente.

Samba lançado em disco por Paulinho em 2007, no registro ao vivo de show feito na série Acústico MTV, Talismã mereceu comentário sobre a gênese da improvável parceria do artista com Arnaldo Antunes e Marisa Monte, autores da letra.

Fora do trilho autoral, Paulinho cantou Filosofia do samba (Candeia, 1971) e Peregrino (Noca da Portela e Toninho Nascimento, 1996). Contudo, o roteiro da live foi alicerçado com base na grande obra do compositor.

Entre as dissonâncias de Roendo as unhas (1973) e a introspecção de Retiro (1983), Paulinho da Viola cumpriu o prometido ao dar voz aos maiores sucessos desse cancioneiro tão elegante quanto a figura do artista.

Foi um rio que passou na minha vida (1970), Para um amor no Recife (1971), Dança da solidão (1972), Amor à natureza (1975) – samba-enredo pioneiramente preocupado com a questão ambiental – e Coração leviano (1977) são sambas com capacidade de transformar e iluminar a vida com tanta beleza.

Como cantou em verso do samba Onde a dor não tem razão (1981), obra-prima da parceria do compositor com Elton Medeiros (1930 – 2019) Paulinho da Viola veio nas onda de noite de sábado para, em tempos de amargura, reacender a velha chama e "reabrir as janelas da vida" na primeira live do artista.

Paulinho da Viola canta 21 sambas em show transmitido da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, pela plataforma Globoplay

Reprodução / Vídeo

? Eis o roteiro seguido em 28 de novembro de 2020 por Paulinho da Vila na live transmitida pelo Globoplay das 22h às 23h30m:

1. Nas ondas da noite (Paulinho da Viola, 1971)

2. Filosofia do samba (Candeia, 1971)

3. Onde a dor não tem razão (Elton Medeiros e Paulinho da Viola, 1981)

4. Peregrino (Noca da Portela e Toninho Nascimento, 1996)

5. Ruas que sonhei (Paulinho da Viola, 1970)

6. Vela no breu (Paulinho da Viola e Sérgio Natureza, 1976)

7. Coração imprudente (Paulinho da Viola e José Carlos Capinan, 1972)

8. Amor à natureza (Paulinho da Viola, 1975)

9. Ela sabe quem eu sou (Paulinho da Viola, 2020)

10. Retiro (Paulinho da Viola, 1983)

11. Para um amor no Recife (Paulinho da Viola, 1971)

12. Dança da solidão (Paulinho da Viola, 1972)

13. Roendo as unhas (Paulinho da Viola, 1973)

14. Ainda mais (Paulinho da Viola e Eduardo Gudin, 1998)

15. Pecado capital (Paulinho da Viola, 1975)

16. Eu canto samba (Paulinho da Viola, 1989)

17. Argumento (Paulinho da Viola, 1975)

18. Talismã (Paulinho da Viola, Arnaldo Antunes e Marisa Monte, 2007)

19. Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977)

20. Timoneiro (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, 1996)

21. Sinal fechado (Paulinho da Viola, 1969)