'O Preço da Verdade' tem denúncia ambiental e leva à reflexão; G1 já viu

Bill Camp e Mark Ruffalo numa cena de 'O Preço da Verdade' Divulgação

Bill Camp e Mark Ruffalo numa cena de 'O Preço da Verdade' Divulgação

Filme do diretor de 'Carol' cria bons momentos de suspense com história real de advogado que enfrenta grande corporação. Mark Ruffalo e Anne Hathaway estão no elenco. Questões envolvendo o meio ambiente e como ele é maltratado por empresas já renderam filmes que atraíram a atenção para esse problema. "O Preço da Verdade", projeto de estimação de Mark Ruffalo, é assim. Além de protagonista, ele também é um dos produtores.

O filme estreia nesta quinta-feira (13) e mostra a luta de uma pessoa idealista para impedir que uma companhia continue a contaminar uma cidade com lixo tóxico.

Nesses tempos em que o Rio sofre com a má qualidade da água, é uma irônica coincidência de que o filme esteja chegando aos cinemas justamente agora.

O roteiro foi inspirado em histórias reais e na reportagem "O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont", publicado no jornal "The New York Times", em 2016.

Ele é centrado no advogado de defesa ambiental corporativo Rob Bilott (Ruffalo), que era conhecido em Cincinatti, nos Estados Unidos, pelo seu trabalho em defender empresas do setor químico.

Mas a vida de Rob muda quando ele é procurado por dois agricultores que acreditam que a fábrica local da DuPont, batizada com o nome do dono bilionário, está despejando lixo tóxico em um aterro. Isso explicaria a destruição de campos e a morte do gado.

O advogado descobre coisas ainda mais terríveis. Ele decide enfrentar a DuPont nos tribunais, com a ajuda de seu parceiro na empresa, Tom Terp (Tim Robbins).

A partir daí, inicia uma luta que dura 15 anos, abala seu casamento com Sarah (Anne Hathaway) e o deixa em uma situação complicada no seu trabalho, além de comprometer sua saúde.

O filme passa por temas semelhantes aos de "Erin Brockovich, Uma Mulher de Talento", que deu o Oscar de Melhor Atriz para Julia Roberts em 2001. Faz lembrar também "A Qualquer Preço", quando John Travolta ainda estava curtindo a boa fase pós-"Pulp Fiction", em 1998.

Longe do Paraíso, perto do Inferno

O curioso ainda em "O Preço da Verdade" está na escolha do diretor Todd Haynes. O cineasta, mais conhecido pela inquietude de "Carol", "Longe do Paraíso" e "Velvet Goldmine", está bem mais contido.

Valendo-se de uma fotografia mais fria, ele conta sua história de modo bem lento. Mas mesmo com ritmo cadenciado, Haynes mantém o interesse do espectador em boa parte do longa, ainda mais com o bom material que tem nas mãos.

Ele segura o clima de suspense à medida em que o protagonista vai se envolvendo cada vez mais no caso. Há, pelo menos, duas cenas interessantes desse jeito:

Rob testemunha o comportamento estranho dos animais da fazenda de um de seus clientes, em cena digna de um bom filme de terror;

Depois, acredita que pode ser vítima de um atentado num estacionamento. A sequência mostra toda a tensão que o advogado está sofrendo por enfrentar inimigos tão poderosos. E ele não pode contar com quase ninguém.

Além dessas partes, o diretor consegue explicar para o público as questões legais envolvendo os processos que acontecem na trama de uma forma objetiva. Mas ele não se esquece das terminologias e partes técnicas, sem cair no marasmo. Haynes é, de fato, um ótimo diretor.

Davi contra Golias

O roteiro de Matthew Carnahan ("Guerra Mundial Z") e do estreante Mario Correa não apela aos clichês de filmes de tribunal. Você não verá cenas melodramáticas e desnecessárias.

Além disso, eles deixam claro como é difícil enfrentar uma empresa tão poderosa. Assim, a obstinação de Rob faz valer o uso do clichê "Davi contra Golias".

Além disso, o roteiro consegue revelar como a população acaba induzida a ficar do lado de uma empresa como a DuPont por causa dos benefícios que ela oferece.

Elenco de peso

Mark Ruffalo foi um dos responsáveis pela escolha de Todd Haynes para a direção. O ator, sempre engajado em causas ambientais, consegue transmitir com o seu habitual talento a mudança que seu personagem passa a sofrer ao se voltar contra aqueles que defendia.

O ator adora interpretar idealistas, como o jornalista de "Spotlight", que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2015. Desta vez, ele convence ao mostrar que o estresse começa a afetar a saúde dele, com tiques e tremedeiras nas mãos.

Curiosamente, Ruffalo já tinha participado de um filme envolvendo a DuPont, mas em outro contexto, em "Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo", em 2014.

Já Anne Hathaway, que vive a esposa de Rob, tem o papel de ser o grande suporte na vida do protagonista. As boas intenções do filme não impedem que ela faça o típico papel de "mulher do herói".

Mesmo assim, a atriz vencedora do Oscar por "Os Miseráveis" tem pelo menos duas cenas em que mostra seu talento. Hathaway também aparece com diferentes figurinos e penteados. E a postura dela se modifica à medida que a história avança.

Coadjuvantes, Tim Robbins e Bill Pullman interpretam advogados que ajudam Rob em sua cruzada contra a DuPont. São apenas corretos em suas performances.

Quem chama mesmo a atenção é Bill Camp, visto recentemente como um detetive em "Coringa". Em "O preço da verdade", ele vive Wilbur Tennant, um dos fazendeiros que pede ajuda ao advogado.

O ator consegue transmitir muito bem os sentimentos de raiva, frustração e paranoia de seu personagem. A performance é impressionante quando parece ver que o futuro que tinha planejado para a sua família foi destruído pela contaminação de suas terras.

Embora tenha sido ignorado durante a temporada de grandes premiações, "O Preço da Verdade" tem méritos por mostrar a obstinação de uma pessoa para fazer a coisa certa para todos.

O filme também levanta questões. Será que as empresas estão oferecendo à população produtos que fazem bem ou mal à saúde? E o que dizer da produção deles?

Ao sair do cinema, não será surpresa se você começar a suspeitar dos materiais usados em utensílios do nosso dia a dia, como os mostrados no filme.