Livro explica as ramificações da 'árvore' da música brasileira em 23 textos de alcance sociológico

Livro explica as ramificações da 'árvore' da música brasileira em 23 textos de alcance sociológico
Capa do livro 'Uma árvore da música brasileira'

Divulgação

Resenha de livro

Título: Uma árvore da música brasileira

Autores: Guga Stroeter e Elisa Mori (organização)

Editora: Edições Sesc

Cotação: * * * *

? Resultante da mistura da matriz negra africana com os sons indígenas, as harmonias europeias e a influência incisiva da cultura norte-americana, a música do Brasil reflexe essa miscigenação na diversidade rítmica, melódica e lírica dos sons que brotam em todos os cantos do país.

Editado pelo Sesc de São Paulo, o livro Uma árvore da música brasileira historia e explica as múltiplas ramificações dos sons produzidos em solo nacional a partir de 23 artigos apresentados com a organização do músico e produtor Guga Stroeter e da pesquisadora Elisa Mori.

Cada gênero da música do Brasil é apresentado sob a perspectiva de um artista ou pesquisador associado a esse gênero específico. Com diferentes alcances sociológicos e/ou musicais, os textos possuem valor oscilante, mas, no conjunto da obra, formam um todo interessante por fugir da abordagem acadêmica ao explicar cada estilo sob a ótica de quem faz parte da cadeia produtiva da música.

O texto do rapper paulistano Xis, por exemplo, sobressai no livro por mostrar como a cultura do hip hop molda a personalidade musical de jovens da periferia, permitindo ascensão social vinda após muita luta. O produtor e músico Alexandre Kassin também brilha ao expor com fluência a evolução da música eletrônica, mais antiga do que se supõe.

Se Paulo Catagna opta pelo didatismo formal ao discorrer (longamente) sobre a modinha e o lundu, gêneros seminais dos séculos XVIII e XIX, o ás do bandolim Izaias Bueno de Almeida explica o choro em texto breve, sucinto e certeiro. Compositor e escritor, o bamba Nei Lopes dá a habitual aula sobre o samba, montando bom painel evolutivo do gênero.

Já o baterista Luiz Franco Thomaz – o Netinho, músico do grupo Os Incríveis – peca por enfatizar mais a própria trajetória no texto em que contextualiza (mal) a explosão pop da Jovem Guarda de 1965 a 1967. Suzana Salles também parte da experiência pessoal – no caso, como jurada de festival de marchinhas – para escrever sobre o gênero carnavalesco sem a preocupação de oferecer precisa abordagem histórica da música de Carnaval.

Paulo Freire se destaca ao alinhar diferenças entre música caipira e sertaneja sem pré-conceitos, valorizando tanto os trabalhos dos pioneiros tradicionais quanto os artistas do sertanejo mais urbano, caso de Chitãozinho & Xororó, dupla exaltada por Freire.

A partir de entrevista com Oswaldinho do Acordeom, a historiadora Liliane Braga consegue fazer boa introdução ao universo do forró, termo que abarca diversos gêneros da música do nordeste do Brasil. Aliás, Liliane Braga é a única com dois textos no livro, apresentando também crônica afetuosa sobre Milton Nascimento e o Clube da Esquina. Já O pianista, compositor e arranjador Nelson Ayres discorre muito bem sobre a música instrumental, em texto tão fluente quanto elucidativo.

Se o compositor Caetano Zamma romanceia a gênese da bossa nova, o músico Marco Mattoli explica com propriedade o balanço do samba-rock, subgênero do samba. Júlio Medaglia fala com maestria sobre a Tropicália.

Mas nenhum artigo sintetiza tão bem a pluralidade dos sons nacionais como o (longo e excelente) texto do cantor e compositor Chico César sobre a música produzida no Brasil no fim do século XX. O artista mapeia a geografia ampla de uma música que se alimenta entre os gêneros e se renova constantemente pela própria natureza mestiça e gregária.

Em cena desde os anos 1990, o próprio artista paraibano é fruto dessa árvore frondosa enraizada no solo do Brasil e exposta nos textos que compõem livro indicado para quem se interessar em sair do próprio nicho para entender a pluralidade do som brasileiro.