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Resenha de álbumTítulo: C.A.O.S.Artista: Guto GoffiGravadora: Warner Chappell BrasilCotação: * * *Mesmo sem viço vocal que em tese o habilitasse a seguir carreira como cantor, Guto Goffi – baterista e compositor que integra o Barão Vermelho desde a fundação da banda carioca em 1981 – vem pavimentando carreira como solista e surpreende positivamente na terceira tentativa, não pelo canto, mas pela organicidade do disco. Recém-lançado em edição digital e com edição em CD prevista para ser viabilizada através de financiamento coletivo, C.A.O.S. é o bom terceiro álbum solo do artista carioca. Desta vez, a pegada do Bando do Bem e o repertório autoral soam bem mais sedutores do que o som e os cancioneiros dos discos antecessores Alimentar (2011) e Bem (2016). Idealizado a partir do material fotográfico de Goffi, exposto na capa do disco, C.A.O.S. – título que significa Confusões Artísticas e Obras Sonoras – é trabalho valorizado pela produção orquestrada pelo guitarrista Nando Dias. Há energia e pressão na gravação de músicas inéditas como o rock Cérebros e cabeças, uma das composições assinadas por Goffi com os parceiros do Barão Vermelho (Maurício Barros, Fernando Magalhães e Rodrigo Suricato). Destaque do repertório do álbum C.A.O.S., Na hora de rezar também é produto dessa parceria de Goffi com os colegas barões e poderia figurar sem estranhamento em qualquer disco da banda. Paralelamente às recorrentes conexões com os barões, que rendem também a balada country-folk A travessia, Goffi inaugura em C.A.O.S. parcerias com nomes como o guitarrista da banda Blues Etílicos Claudio Bedran, coautor de Decassílablues, blues com versos escritos em decassílabos que abre o disco.Com o guitarrista e compositor carioca Claudio Gurgel, Goffi assina o rock A queda, uma das melhores músicas do álbum pelo jorro de energia que potencializa o sentido das imagens sugeridas pela letra que versa sobre mundo que desmorona diante da desigualdade de homens, palácios e barracos.Quase todos escritos por Goffi, os versos imagéticos de C.A.O.S. valorizam o disco, cujo repertório inclui tema instrumental, Mais feliz, e apresenta letra – a da canção Búfalos e leões – assinada pelo poeta Xampu, residente em Curitiba (PR). Pautada pela pressão do rock, mas sem reproduzir o formato e os riffs típicos do gênero, a sonoridade vigorosa de C.A.O.S. é o principal fator de valorização de repertório que acaba no Samba do adeus, parceria de Goffi com Edu Krieger. O artista evolui entre as imagens e sonoridades de C.A.O.S. com força inesperada para quem vinha de álbum esmaecido como Bem, disco de clima zen-budista, bem-intencionado, mas sem poder de conversão. A rigor, Guto Goffi cresce no meio das 10 faixas de C.A.O.S. por conta da energia do som do melhor disco solo do barão.