Claudio Cartier deixa obra expressiva que foi além da canção 'Saigon', único grande sucesso do artista

Claudio Cartier deixa obra expressiva que foi além da canção 'Saigon', único grande sucesso do artista
Claudio Cartier na capa de álbum solo de 1982

Reprodução / Capa de disco

? OBITUÁRIO – É natural que, em um primeiro momento, todo mundo associe Claudio Brandini Cartier (25 de setembro de 1950 – 17 de outubro de 2020) à canção Saigon.

Composta por Cartier com Paulo César Feital e Carlos Costa, Saigon se tornou a música de maior sucesso desse cantor, compositor, violonista e arranjador carioca que saiu de cena na manhã de sábado, 17 de outubro, vítima de infarto, aos 70 anos. A única a se tornar um grande sucesso popular, a rigor.

Canção lançada em 1985 na voz de Cartier, em gravação editada em single e ouvida diariamente pelos cariocas que sintonizavam a rádio Nacional FM, Saigon também ganhou a voz de Beth Carvalho (1946 – 2019) em registro fonográfico de 1988.

Mas foi na gravação lançada por Emilio Santiago (1946 – 2013) em 1989 que Saigon ganhou definitivamente o Brasil e, desde então, se tornou hit imortal em karaokês, bares e programas românticos de flashback. Contudo, a obra e a importância de Claudio Cartier extrapolam o sucesso de Saigon.

Respeitado no meio musical pela maestria com que tocava violão, instrumento aprendido na adolescência em aulas com professores de formação clássica, o artista deixa obra expressiva, sobretudo a composta por Cartier com o conterrâneo carioca Luiz Octavio Bonfá Burnier.

Com Octavio Burnier (que depois mudaria o nome artístico para Tavynho Bonfá), Cartier fundou em 1974 a dupla Burnier & Cartier. O primeiro dos dois álbuns do duo, Burnier & Cartier, foi lançado ainda em 1974 pela gravadora RCA – com músicas da dupla como Só tem lugar pra você e Parte capital – e, com o tempo, se tornou disco cultuado entre formadores de opinião do nicho em que atualmente está situada a música rotulada como MPB. Inclusive pelo toque do violão de Cartier nesse álbum. Ed Motta, artista conhecido pelo rigor estilístico, é um dos admiradores desse primeiro álbum da dupla, por exemplo.

Em 1975, Burnier & Cartier mostraram as caras para o Brasil ao defender a música Ficaram nus no festival Abertura, promovido e exibido pela TV Globo. Saíram sem prêmios, mas com prestígio. A dupla ainda lançou um segundo álbum em 1976 – Fotos p/ a capa do LP, editado pela gravadora Odeon – antes de desfazer em 1978, sem jamais ter alcançado o sucesso popular.

Em 1982, Claudio Cartier se lançou em carreira solo com álbum batizado com o nome do artista e editado pelo selo Opus Columbia, da gravadora CBS. Com arranjos divididos entre o artista e o pianista César Camargo Mariano, o álbum Claudio Cartier apresentou nove parcerias do compositor com o parceiro letrista Paulo César Feital entre outras duas, 1789 e Maria Clara, já lançadas por Olivia Hime em 1981.

Mais uma vez, nada aconteceu e, com exceção do single com Saigon, Cartier passou a atuar sobretudo nos bastidores da indústria da música, atuando como compositor, arranjador e/ou violonista em gravadoras e no mercado publicitário.

No embalo do sucesso de Saigon, Emilio Santiago gravou outras músicas do artista, lançando Dias de lua (Claudio Cartier, Marco Aurélio e Paulo César Feital) em 1990, Coisas da paixão (Claudio Cartier e Marco Aurélio) em 1991 e É demais pra mim (Claudio Cartier e Marco Aurélio) em 1992.

Como compositor, Cartier começou a ser gravado com frequência por cantores da MPB logo após o fim da dupla com Burnier. Em 1979, Nana Caymmi apresentou No analices, parceria de Cartier e Paulo César Feital que ganharia a voz divina de Milton Nascimento em 1982. Em 1983, João Nogueira (1941 – 2000) lançou Lua com limão, samba de Cartier e Feital.

Também cartunista, Cartier atuou como compositor de trilhas sonoras de peças de teatro. Na área fonográfica, a obra autoral de Cartier perdeu impulso a partir dos anos 2000, mas Saigon – a canção que mais identifica Claudio Cartier no mundo da música – jamais deixou de ser gravada.

Com melodia inspirada e letra iluminada pela poesia romântica, Saigon fez brilhar a estrela de Claudio Cartier em todo o Brasil. Mas cabe enfatizar que o artista foi muito além de Saigon ao longo de quase 50 anos de atuação no universo da música brasileira.