Lizzo fala sobre ajudar pessoas com sua mistura de soul e rap: 'É como um remédio musical'

Ao G1, ela fala de bossa nova, 'body positivity', vitória no Grammy e representatividade.

Cantora e instrumentista fez show para convidados no Rio, em sua 1ª vinda ao Brasil. Lizzo fala sobre Grammy, 'body positivity' e representatividade

Cantora e instrumentista fez show para convidados no Rio, em sua 1ª vinda ao Brasil. Lizzo fala sobre Grammy, 'body positivity' e representatividade

A falta de representatividade está em todos os lugares. Quem garante é a cantora, compositora, instrumentista e rapper americana Lizzo.

Na semana passada, durante sua primeira passagem pelo Brasil, Lizzo fez um pocket show para convidados no YouTube Space, na Zona Portuária do Rio. Ela também encontrou tempo para tratar de outros assuntos além da música.

"Há uma falta de representatividade no mundo – ponto final. Especialmente para mulheres que se parecem comigo", explica Lizzo ao G1.

"Mas o meu processo de escolha foi me fazer visível, não me encolher. Ser ouvida e usar minhas plataformas para elevar outras mulheres. Por isso eu coloquei dançarinas negras e grandes e também uma orquestra inteira de mulheres negras no palco do Grammy - porque acho que, se posso ajudá-las, devo ajudá-las."

O discurso não é gratuito ou planejado. Desde quando despontou para o grande público com o álbum "Lizzobangers", de 2013, Melissa Vivianne Jefferson se transformou em uma espécie de símbolo para mulheres cujas aparências não se encaixam no chamado "padrão de beleza".

Essa condição foi reforçada em músicas do resto de sua discografia: "Big grrrl small world" (2015), o EP "Coconut oil" (2016) e "Cuz I love You" (2019). Lizzo parece ter chegado a um ponto no qual alcançou um ponto no qual se sente muito confortável neste papel:

"Sou conhecida com alguém que de fato ajuda os outros. Minha música atinge bilhões de pessoas e consegue ajudá-las. É como um remédio musical. Eu me sinto muito honrada por saber como fazer isso. É uma dádiva."

Lizzo fez um pocket show para convidados no YouTube Space, Zona Portuária do Rio

Carlos Brito / G1

No entanto, ela admite já ter ficado preocupada com a possibilidade de a defesa daquilo que se convencionou chamar de "Body positivity" – ou a aceitação do corpo como ele é – se tornar maior e mais importante do que sua música.

"Sim, isso já me preocupou. Mas a minha música é tão boa, sabe? Durante muito tempo as pessoas gostaram mais de mim do que da minha música. Acho que isso de fato me motivou e me levou a fazer minhas canções tão grandes e importantes quanto eu era. E acho que minhas indicações ao Grammy provam que estou certa."

A menção ao principal prêmio da indústria americana não é aleatória. Lizzo se apresentou e saiu de lá com dois prêmios – melhor álbum contemporâneo e melhor performance de R&B.

"Eu não sei o que esse prêmio significa neste momento. Tenho esse apoio dos meus colegas na indústria da música, o que é muito especial para mim. Trabalhei muito duro para que isso acontecesse".

Lizzo se apresenta no Grammy 2020

Matt Sayles/Invision/AP

Embora Lizzo tenha sido uma das principais vencedoras do evento, este ano mais uma vez o Grammy foi alvo de críticas por conta da falta de diversidade nas indicações e premiações. Para ela, esse é o reflexo de um problema maior.

"Sim, é claro, premiações como essa deveriam ser mais diversas. Mas acho que não se pode criticar apenas uma coisa sem criticar a instituição, o todo."

Treinamento musical

Os 450 convidados que, na última quinta-feira (6), assistiram Lizzo ao vivo no Rio, tiveram uma amostra do tipo de energia que a cantora costuma colocar em suas apresentações.

Foram cinco canções – "Good as hell", "Cuz I love You", "Boys", "Truth hurts" e "Juice" -, apresentadas em pouco mais de 20 minutos. O público cantou cada uma, palavra por palavra.

Lizzo vence o primeiro Grammy da cerimônia

KEVIN WINTER / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP

A fusão de soul, R&B, funk e rap promovida pela cantora disfarça um passado mergulhado no treinamento árduo e sistemático em música erudita. Lizzo é uma flautista habilidosa e, durante muitos, teve como meta ser uma concertista.

Esse caminho ficou para trás. Ela garante que a disciplina e conhecimento musical adquiridos durante seu período de formação permanecem com ela o tempo todo em sua produção pop.

"Ter um entendimento de teoria musical faz com que eu seja, e ao mesmo tempo também não seja, uma nerd. Quando estou no estúdio conversando com os engenheiros, falo em um idioma que tenho o privilégio de conhecer. Sei em qual tom minha canção está, ou para qual tom quero modular. Conheço os acordes que funcionam para os vocais."

"É divertido entrar no estúdio e falar sobre verso, refrão e blues de 12 compassos. Por exemplo, um trecho de 'Finale', de Kalinnikov, em sol, está em 'Cuz I love You'", explicou, fazendo referência ao compositor erudito russo Vasily Kalinnikov. "Só, por favor, não diga isso para o Kalinnikov", ela brinca. "Não quero ser processada por ele".

Considerando que ele morreu em 1901, as chances de um processo são bastante remotas.