Pupillo faz viagem feliz pelas trilhas de novelas dos anos 1970

Pupillo faz viagem feliz pelas trilhas de novelas dos anos 1970
Abordagem exuberante do tema de abertura de 'Selva de pedra' sobressai no álbum do Sonorado, novo projeto do baterista e produtor musical. Capa do disco 'Sonorado apresenta: Novelas'

Divulgação

Resenha de álbum

Título: Sonorado apresenta: Novelas

Artista: Sonorado (Pupillo com Thomas Harres, Marcio Arantes, Zé Ruivo, Guri e Ângelo Medrado)

Gravadora: Deck

Cotação: * * * *

? No fim do texto que escreveu para apresentar o primeiro álbum do Sonorado, novo projeto musical do baterista Pupillo, o cantor, compositor e MC paulista Rodrigo Brandão cita com propriedade as presenças invisíveis – mas nem por isso menos sentidas – dos maestros Erlon Chaves (1933 – 1974) e Waltel Branco (1929 – 2018) ao longo do disco que alinha abordagens de nove temas de novelas.

De fato, dá para identificar com nitidez a influência de Erlon, por exemplo, no groove black de O primeiro amor (Antonio Carlos, Jocafi e Ildásio Tavares, 1972), tema de abertura da novela também intitulada O primeiro amor (1972).

Grupo formado por Pupillo com os músicos Ângelo Medrado (caxixi e voz), Guri (guitarra e voz), Marcio Arantes (baixo e voz), Thomas Harres (percussão e voz) e Zé Ruivo (teclados, sintetizadores e voz), Sonorado debuta em disco com álbum com regravações de temas de trilhas sonoras de nove novelas. Oito foram exibidas pela TV Globo na primeira metade dos anos 1970, quando as músicas das tramas eram feitas sob encomenda para as produções por grandes compositores.

A exceção é Véu de noiva, trama que inaugurou em 1969 a era de ouro das trilhas de novelas com seleção variada. De Véu de noiva, o Sonorado reaviva Irene (Caetano Veloso, 1969), música que não foi feita para a primeira novela urbana de Janete Clair (1925 – 1983), mas que acabou associada à história e fez a personagem da atriz Betty Faria ter o nome trocado para Irene para legitimar a inclusão da composição na trilha.

Tema que abre o disco em grande estilo, em abordagem exuberante, Selva de pedra (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1972) alicia pela reverência ao registro original na gravação aditivada com efeitos eletrônicos que atualizam, na medida certa, o tema de abertura da novela Selva de pedra (1972).

Na sequência, O bem amado (Toquinho & Vinicius de Moraes, 1973) ganha certa psicodelia que embaça a brasilidade solar do tema de abertura da novela de Dias Gomes (1922 – 1999), gravado com vocais.

Aliás, o uso de vocais é uma das tônicas do álbum Sonorado apresenta: Novelas, como pode ser comprovado em Mentira (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1973), tema funky da trilha da novela Carinhoso (1973).

Contudo, o disco é – em essência – instrumental. É na levada e na pegada que o Sonorado se calca para viajar com segurança por esse rico universo musical, como exemplifica o registro quase todo instrumental de Pela cidade (José Roberto Bertrami e Alexandre Malheiros, 1974), música da novela O espigão (1974) em que se identifica o D.N.A. do trio Azymuth, intérprete original do tema.

Pela cidade é uma das surpresas da seleção do Sonorado ao lado de Tema de Kiko (1970) – groove funky composto por ninguém menos do que Roberto Carlos e Erasmo Carlos para a trilha sonora da novela Pigmalião 70 – e de Luzes... Câmera... Ação (Luiz Cláudio e Chico Anysio, 1971), tema da novela O cafona (1971).

Com ar de temas de filmes de faroeste, mas com suingue brasileiro e com timbres contemporâneos, O semideus (Baden Powell e Paulo César Pinheiro, 1973) fecha o disco em que o Sonorado segue roteiro de viagem feliz por memorável era musical da teledramaturgia.