Para Que Serve Um Jornal?
Matéria disponível no no JORNAL DO PORTO dia 7-8-2020
Um jornal serve para publicar o que se fala, refletir o que se publica, aprofundar o que se opina sobre o publicado e ampliar todas as opiniões sobre o dito e o refletido.
Jornal é um meio de comunicação impresso, um produto derivado do conjunto de atividades denominado jornalismo. O primeiro, e por muito tempo, o principal espaço de atividade profissional jornalístico.
O jornal é uma das principais fontes de pesquisa quando se estuda a história contemporânea.
Um jornal serve para publicar o que se fala, refletir o que se publica, aprofundar o que se opina sobre o publicado e ampliar TODAS as opiniões sobre o dito e o refletido. Um jornal serve para servir ao seu eixo principal de credibilidade: o leitor.
Quero lembrar aqui o célebre editorial de primeira página do Correio Braziliense, de 19 de setembro de 1999, escrito pelo jornalista TT Catalão que criou um dos mais vigorosos e contundentes conceitos da função do jornal em todo o Brasil.
Cumpre lembrar que os jornalistas — permanentemente na alça de mira, ao sabor dos humores de mercado — devem manter o mesmo comprometimento com a apuração, a consciência crítica, o melhor modo de contar uma história e os conceitos éticos de liberdade e coerência individual.
Um repórter é um tipo de jornalista que pesquisa, escreve, e relata as informações para apresentar em fontes, conduz entrevistas, envolve-se em pesquisas, e faz relatórios. Os repórteres podem ser designados para um tema específico ou uma área de cobertura.
O texto abaixo foi publicado originalmente em resposta ao então governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), que em manifestação pública, aos berros, conclamava seus eleitores a boicotarem o Correio, jornal que tanto o criticava.
Catalão escreveu uma crônica como resposta e, por decisão do diretor de redação na época, Ricardo Noblat, o texto foi para a página inteira da capa. Mas, para que serve um jornal mesmo? Entre outras coisa, um jornal serve para servir.
Segue a crônica de Catalão, na íntegra.
Para Que Serve Um Jornal
Por T. T. Catalão
Um jornal serve para servir. Servir principalmente a uma cidade.
Um jornal, se for só papel, serve para cobrir o chão quando pintamos a casa ou embrulhar peixe no mercado.
Um jornal, se for só negócio, serve apenas para crescer em lucros, máquinas e construções.
Um jornal, se for mero símbolo, tradição e história, serve para discursos pomposos mas ocos de compromisso com a vida.
Um jornal-grife funciona só para o marketing ou propaganda de empresa líder de mercados.
Mas o que faz um jornal servir é algo além da mercadoria ou da imagem que projeta.
Um jornal não tem senhores, domínios, posses ou possessões. Um jornal serve quando não é escravo até do próprio sucesso.
Então para que serve mesmo um jornal?
Um jornal serve para publicar o que se fala, refletir o que se publica, aprofundar o que se opina sobre o publicado e ampliar todas as opiniões sobre o dito e o refletido.
Um jornal serve para servir ao seu eixo principal de credibilidade: o leitor.
Um jornal serve para ir além da notícia quando busca suas relações, seu contexto, bastidores, as circunstâncias que geraram o fato e até avaliar suas consequências.
Um jornal serve para pensar. E ser pensado por gente livre. Um jornal não é administrado por máquinas servis. Um jornal serve quando desperta atitudes.
Serve quando é veículo dos muitos meios, modos, culturas e linguagens componentes de uma sociedade.
Serve e é estimulante e rico quando abriga as contradições e com elas convive. E só estará vivo e em intensa atividade se servir aos que o leem e o sustentam.
Um jornal serve quando não teme. Nem o conflito natural das divergências nem o confronto acintoso com quem tenta intimidá-lo.
Um jornal serve quando se expõe até a equívocos, mas extrai lições e busca avançar não permitindo que a prudência se confunda com o medo.
Um jornal serve como serviço público, que é a definição mais básica de imprensa como instituição.
Um jornal serve para reagir, para admitir e apontar erros, para estabelecer as linhas de diálogo com as representações organizadas de uma cidade. Serve também para o indivíduo que não adquiriu voz partidária, sindical ou até mesmo de classe tal a sua exclusão no convívio social.
Um jornal serve para emocionar, dar prazer, informar por inúmeros suportes do fato além do texto, deleitar, entreter, indignar, comover e demonstrar que vive intensamente o seu tempo e a sua região.
Um jornal não é só um amontoado de linhas, textos, fotos e traços.
Um jornal serve quando se torna fundamental, preciso, precioso, indispensável para o que na verdade o mantém vivo: a credibilidade.
Em resumo, um jornal serve para servir!
Editorial do Correio Braziliense de 19/9/1999 escrito pelo jornalista TT Catalão.