O ACERVO DE ARQUEOLOGIA DO MUSEU DE PORTO FERREIRA

O ACERVO DE ARQUEOLOGIA DO MUSEU DE PORTO FERREIRA

A Arqueologia é o estudo da cultura material, ou seja, dos objetos ou monumentos que foram criados, utilizados e significados pelas sociedades do passado. Segundo as evidências arqueológicas, o território brasileiro é ocupado há pelo menos 12 mil anos antes do presente. Durante milhares de anos ocorreu a diversificação cultural e linguística dos povos indígenas e a ocupação de toda a região, deixando diversas marcas na paisagem que hoje podemos encontrar e investigar através da pesquisa arqueológica.


O Museu Histórico e Pedagógico Flávio da Silva Oliveira, em Porto Ferreira, guarda em seu acervo uma importante coleção de objetos arqueológicos da região, encontrados por pessoas em propriedades rurais ou encontrados durante obras no pavimento urbano.

Podemos dividir a coleção entre objetos líticos e objetos cerâmicos.

Objetos líticos são aqueles feitos em pedra e podem ser polidos ou lascados. Entre os líticos polidos temos instrumentos de uso cotidiano das populações que habitaram a região do Médio Mogi Guaçu há milhares de anos. Muitas pedras polidas foram encontradas também no município de Santa Rita do Passa Quatro, na região da margem do Rio Mogi. São machados, batedores, raspadores, entre outros.


Entre os líticos lascados temos quatro pontas bifaciais em pedra lascada, mais conhecidas como ponta de flecha. Muitas pontas de flecha também foram encontradas em São Simão e em Rio Claro. Pontas de flecha representam uma classe de material arqueológico muito especial, são esteticamente interessantes e feitas em variados tipos de rochas presentes na litologia regional. As pontas em pedra lascadas são encontradas em várias regiões do país, em maiores quantidades entre os estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, foram produzidas desde 12 mil anos até cerca de 200 anos antes do presente e podem ser consideradas como "fósseis-guia" para identificar a tradição arqueológica Umbu. Pesquisas mais recentes questionam a validade dessa tradição arqueológica, observando que as pontas encontradas em São Paulo são diferentes das pontas do sul do país.

Entre os objetos em cerâmica temos três igaçabas/urnas funerárias, usadas nos funerais e encontradas próximas ao Rio Mogi, confirmando a existência dos cemitérios indígenas na região. Urnas funerárias foram encontradas também na região da Cachoeira de Emas, em Pirassununga, citadas por Ruy Tibiriçá em 1935 e por Manuel Pereira de Godoi na obra "Contribuição à História Natural e Geral de Pirassununga". No interior das urnas foram encontrados os remanescentes humanos (ossadas) que também fazem parte do acervo do museu de Porto Ferreira.

No atual processo de revitalização do museu, todo o acervo está sendo revisto por procedimentos museológicos, num trabalho fundamental de organização das coleções e catalogação dos itens, feito pela equipe do Museu Professor Flávio da Silva Oliveira, sob coordenação de Vinicius Carlos da Silva, Chefe de Seção de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Ferreira. Para a coleção de Arqueologia, é importante referenciar todos os objetos de acordo com os documentos do museu, incorporar mais informações, encontrar a melhor maneira para conservá-los em segurança e encontrar estratégias pedagógicas interessantes para esses materiais em exposição ou ações educativas.

A Arqueologia é importante para a compressão da trajetória humana até o presente, além de fortalecer nossos laços com a ancestralidade e transformar nosso olhar sobre as paisagens, sabendo que os locais onde habitamos hoje já foram habitados antes de nós, durante milhares de anos, por pessoas que criaram relações com o ambiente e com os objetos, como nós fazemos.


Raisa Sampaio Moura de Oliveira é professora de História com especialização em Museologia/História das Ciências e mestranda em Arqueologia no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, em São Paulo.