Tire sua opinião de dentro do meu útero

Aborto

Uma das pautas feministas é a descriminalização do aborto, algo que já foi alcançado em alguns países.

Naturalmente que nem todos são favoráveis ao aborto, é caso para dizer "se for contra não aborte".

Mas porquê são contras? Religiosidade? Posse do corpo feminino? Falta de interpretações?


Mulheres que acabam replicando discursos machistas , por falta de informação, e reflexo da sociedade estruturada no patriarcado, tenho visto muito discurso de culpabilização, julgamento, ataque à mulher que se propõe a abortar. Subitamente temos sim mulheres que compactuam com discursos machistas, misoginos e que se sentem no direito de fiscalizar o útero alheio. Atiram um " é só fechar as pernas" que soa igual ao "é só fechar as pernas" de quem nos trata como putas somente por fazermos sexo.

Gritar que existem vários métodos contraceptivos não muda a dura realidade de quem , pelas mais diversas razões, passa por uma gravidez indesejada, na verdade esse discurso vem carregado de culpas e não ajuda em nada.

Devemos estar conscientes de que todas nós temos vivências distintas, maior ou menor facilidade de acesso a cuidados de saúde, vulnerabilidades e vantagens diferentes.

E quando fazemos o recorte racial os dados são ainda mais assustadores.

As mulheres não deixarão de abortar pelo fato do aborto ser ilegal, não deixarão de recorrer a clínicas clandestinas enquanto uma parte da sociedade lhes atira pedras e trata como vagabundas irresponsáveis. Tudo o que vai acontecer é que o número de mortes, de problemas de saúde causados por abortos clandestinos aumentará.

É desumano considerar que um feto de poucas semanas vale mais do que a vida de uma mulher . Até porque quando o aborto é espontâneo ninguém tem empatia pela mãe, ninguém a ampara e ajuda a superar a perda.

Então talvez a vossa preocupação não seja com o pequeno feto no ventre da mulher, mas com a nossa liberdade sexual.


Essa Culpa eu não carrego


Ser mulher é carregar culpas que não são nossas. É ter de olhar com cautela para evitar o perigo que jamais deveria ser normalizado. Ser mulher é dizer não e não ser ouvida e ser punida por dizer NÃO. Ser mulher é encontrar no amor perigo e não poder dormir descansada , porque nunca se sabe quando se dorme com o inimigo. Ser mulher é ter o nosso corpo objetificado, cada centímetro convertido em objeto de desejo e ser obrigada a cobri-lo porque haverá sempre alguém que encontrará no nosso corpo um convite , uma porta aberta para o assédio e muitas vezes algo mais. Ser mulher é passar de vítima a oportunista, é ter o nosso discurso desacreditado, as nossas vivências menosprezadas, os nossos medos desrespeitados, é reviver 100vezes e nunca encontrar paz. Ser mulher é aprender a conviver com a dor quando a dor jamais deveria ser naturalizada. É menstruar e ser tida como imunda, é perder a "virgindade" e ser punida por isso, é viver em censura, uma censura que nos cobre o corpo e arranca a alma. É apanhar e escutar "apanhou porque quis" , "alguma coisa deve ter feito". Ser mulher é viver numa constante guerra onde é difícil saber quem é o inimigo, por que ele está por todos os lados, desde o Estado, até seu pai, irmão ou marido.



Gravidez forçada é tortura


Nessa semana, o Senado Federal pode discutir o Projeto de Lei 5435/2020, de autoria do senador Eduardo Girão (PODEMOS), que trata do suposto "Estatuto da Gestante". Apesar do que o nome pode indicar, o que o PL propõe é alterar a Constituição para garantir o direito à vida desde a concepção, ou seja: acabar com o direito ao aborto nos casos já autorizados por lei!

Forçar uma pessoa que sofreu violência sexual a continuar com a gravidez é cruel e violento! No Brasil, isso significa que teremos mães-meninas, meninas grávidas de seus pais, tios e irmãos. Gravidez forçada é tortura!

Além de toda essa violência, o projeto ainda ressuscita a "bolsa estupro"!


Deixo pra reflexão de todos vocês, apenas um dos artigos desse PL absurdo:


Art. 11º Na hipótese de a gestante vítima de estupro não dispor de

meios econômicos suficientes para cuidar da vida, da saúde, do

desenvolvimento e da educação da criança, o Estado arcará com os custos

respectivos de um salário-mínimo até a idade de 18 anos da criança, ou até

que se efetive o pagamento da pensão alimentícia por parte do genitor ou

outro responsável financeiro especificado em Lei, ou venha a ser adotada a

criança, se assim for a vontade da gestante, conforme regulamentos.


Pelo direito as nossas vidas, pela autonomia dos nossos corpos, seguimos na busca pela liberdade



Jack Theodoro

Presidenta da Ação da Mulher Trabalhista- PDT Porto Ferreira