Complexo de bravateiro

Edição impressa do dia 13-11-2020

Jung, da psicologia analítica, fala de complexos psicológicos que tecemos durante a vida por meio das experiências que construímos.

Com Freud, aprendemos sobre o complexo de Édipo, o complexo que favorece as escolhas amorosas através das experiências com os pais na infância. Jung amplia esses complexos fazendo-nos aprender sobre as imagens e imaginações que dão uma tonalidade emocional a cada um de nós. Exemplo disso, é poder falar em complexo de humilhação, em uma mulher que não suporta nenhum tipo de humilhação com ela ou alguém próximo, ou mesmo as humilhações que vemos no dia a dia, nas tevês ou em outros lugares.

No Brasil, muitas vezes, falamos em "complexo de vira-lata" para designar pessoas que gostam mais de civilizações europeias ou estadunidenses ou outras.

Os complexos fazem nossas emoções caminhar para um lugar ou outro, ou até mesmo lugar algum. Temos complexo de Cinderela, complexo de Don Juan, complexo de Deus, complexo de Napoleão, de Messias, de superioridade entre centenas de outros.

Um Don Juan pode ser um homem que ajudou a mãe a suportar as traições e desvarios do marido. Mais tarde, esse homem vai "ajudar" muitas mulheres na situação semelhante à de sua mãe. O complexo de Don Juan formou-se durante sua vida de infância e juventude.

O termo complexo em Jung, é uma reunião de componentes pessoais e arquetípicas das várias experiências individuais. É difícil dizer o modo exato de como se forma um complexo, pois a vida psicológica é feita por uma série de passagens desconectadas. Apesar disso, somos capazes de reunir as imagens e ideias experienciadas como indivíduos em torno de um núcleo emocional. Os complexos podem ser bons ou não. Podem ser conscientes ou não. Todos temos esses complexos; são desenvolvidos durante nossa vida.

Essa semana, no Brasil, o presidente do Brasil sugeriu que invadamos os EUA. Logo imaginei, rindo muito, seu complexo. Complexo de vira-lata? Complexo de herói? Complexo de Deus? Complexo de inferioridade?

Pólvora e arminha para os EUA que têm apenas que apertar um ENTER e uma bomba cai onde querem? Lembrem-se de da tragédia de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Lembrem-se da guerra do Irã.

Quem em sã consciência quer incendiar o império do Norte? Brincadeira, nesse caso, só pode ser feita por nós, não por um dirigente de um país. Ninguém elegeu um bravateiro. Ou elegemos?

Se sim, fiquemos sabendo que nosso presidente carrega e destila um complexo de inferioridade. Sob esse complexo de inferioridade, ele cria elementos de complexos de herói, de Deus, de Messias, inclusive no nome.

A inferioridade parece produzir no presidente um campo de processos psíquicos. Se notarmos o corpo dele, veremos um senhor agoniado. Fala demais. Quanto mais expõe os complexos de Napoleão, de Deus, de herói, mais aparece a consciência perturbada pelo complexo de inferioridade.

O complexo faz aparecer um homem inculto, militar reformado aos 43 anos, com filhos com complexos iguais ao pai, incapacidade de identificar os problemas de uma nação e, principalmente, protegendo aqueles grupos parecidos com a profissão e a existência de seu pai.

Um mito, disseram antes das eleições. Um mito para seu pai, sobretudo. Alguém que quer o reconhecimento do pai, do pai garimpeiro, pai sem trono. Pai sofredor. Para isso, queima a Amazônia, quer o golpe de Trump contra Biden e quer o Brasil no garimpo assim como viveu com o pai.

*Professora aposentada da Universidade Estadual de Maringá. Com doutorado em Psicologia, mestrado em educação e graduação em Biologia, diletante em Literatura, uma ornitorrinco, tem a sorte de continuar a ser integrante do Grupo de pesquisa Science Studies CNPq-UEM, na mesma universidade, grupo interdisciplinar de pessoas da filosofia, pedagogia, biologia, física, psicologia entre outras áreas. Sindicalistas nos períodos necessários, teve a honra de participar com colegas de duas grandes greves, a de setembro de 2001 a março de 2002, e a de abril-maio de 2015, as duas contra privatização das universidades públicas do Paraná e a última, também contra a reforma da previdência, além, é claro, de lutar da dignidade salarial.