A DITADURA EM PORTO FERREIRA - II PARTE



A VITÓRIA DA DEMOCRACIA

A primeira constatação que deve ser feita: ao ler e analisar diversos documentos históricos é perceptível que alguns setores da sociedade brasileira e instituições, em um primeiro momento, apoiaram o Golpe de 31 de março de 64, mas depois se arrependeram. Muitas fontes documentais deixam evidente a construção teórica latente da "ameaça comunista" e do risco da revolução que derrubaria a democracia brasileira, características que alimentavam a ânsia parte da sociedade por uma tomada do poder pelos militares. A Guerra Fria opunham capitalistas e socialistas no mundo, e a experiência cubana alimentava o medo generalizado do comunismo.

O jornal "O Ferreirense", de 5 de abril de 1964, estampava em reportagem de capa, com letras garrafais o título "Vitória da Democracia". O artigo exaltou a luta do povo brasileiro pela libertação do país da ameaça do Comunismo e parabenizou o Governador Adhemar de Barros, por demonstrar "patriotismo incomum" para "libertar de uma vez por todas a pátria da ameaça do comunismo ateu". A frase "Grande Vitória da Democracia" encerrava o texto no jornal.

No dia 19 de abril, o jornal "O Ferreirense" anunciou a posse do novo Presidente do Brasil: o Marechal Castelo Branco. Segundo informações orais, o jornal local sempre foi favorável ao regime militar no Brasil.

MARCHA DA DEMOCRACIA

No dia 1º de maio, consagrado ao trabalhador, a população ferreirense se reuniu na MARCHA COM DEUS PELA LIBERDADE. A passeata partiu do Estádio do Porto Ferreira Futebol Clube, reunindo operários, homens de comércio, industriais e estudantes numa "demonstração de confiança nos destinos do país, agora retornando a sua normalidade depois de ser terrivelmente ameaçado pelo perigo vermelho".

Entretanto, os atos institucionais ditados pelo Governo Militar extinguiu a Constituição de 1946 e criou uma "Democracia de Fachada", na qual não havia oposição e divergência de idéias, princípio básico da democracia.

O OURO PARA O BEM DO BRASIL


Comandados por Assis Chateaubriand, os diários Associados lançaram a "Campanha Ouro para o Bem do Brasil", na qual a população doaria jóias de ouro para gerar lastro, combater a alta do dólar, a inflação galopante e ajudar o país a sair da crise financeira que o afetava. Quem doava suas posses com o metal nobre recebia de volta uma aliança de metal e um diploma com a frase: "doei ouro para o Bem do Brasil". Mais de 100 mil pessoas doaram seus pertences.

Em 21 de junho de 1964, o jornal "O Ferreirense" publicou a reportagem "O Ouro que é Sangue", de João Luiz Bueno. Neste artigo, após grandes ataques patrióticos aos comunistas, "corruptos e famigerados políticos, encobertos pela bandeira vermelha da discórdia, que se banqueteavam na cerimônia fúnebre da pátria brasileira", os ferreirenses foram conclamados a participar da campanha, "injetando ouro nas veias da pátria, para que ela consiga suportar um pouco mais as dificuldades que apareceram após a vitória de 31 de março". Em 13 de junho de 1964, a Revista "O Cruzeiro" divulgou um balanço de que haviam sido arrecadados, até aquele momento, 400 quilos de ouro.

Segundo Geraldo Nunes, em reportagem da Folha de São Paulo, de 05 de janeiro de 2014, os brasileiros foram enganados. Não se sabe o que foi feito com o ouro. O Governo Militar não se pronunciou contrário e nem fiscalizou os resultados finais da campanha.

PREFEITO E VEREADORES CASSADOS

Naquele ano de 1964, muitas coisas ocorreram no cenário político de Porto Ferreira. Políticos e representantes da sociedade civil foram cassados e perseguidos. Entre os principais envolvidos estavam o Padre Octaviano Pavesi, o Prefeito Oswaldo da Cunha Leme, os vereadores José Eugênio Colli, Benedito Bittencourt de Andradre (Sumaré), Raimundo Ayres de Alencar e Salvador Tomaioli.

(continua na próxima edição)