A Construção da Matriz de São Sebastião - 1ª parte

Em 1886, iniciou-se a construção da antiga Capela de São Sebastião em Porto Ferreira, finalizada em 1890. Tratava-se de um simples barracão, construído com o auxílio da "Companhia Paulista de Estradas Férreas e Fluviaes", mantendo "os sinos dependurados em um suporte de madeira" na área externa. No ano de 1899, a simples Capela Curada - título oficial dado pela Igreja Católica às capelas ministradas - foi elevada à paróquia de São Sebastião de Porto Ferreira, recebendo, ao longo do tempo, inúmeras reformas, inclusive a construção de uma torre para os sinos. Assim, a antiga capela concentraria as ações da fé católica em Porto Ferreira durante o advento do período republicano, o auge da lavoura cafeeira, a Era Vargas, até a metade do século XX.


Uma nova igreja para Porto Ferreira

Em 17 de setembro de 1942, o monsenhor João Alexandre Loschi, visitador diocesano da Diocese de Campinas, esteve em Porto Ferreira a fim de realizar o Processo Verbal de Visita Canônica daquele ano – espécie de documento que contém os dados gerais estatísticos da paróquia bem como opiniões acerca de modificações necessárias. De acordo com este documento, a população ferreirense era constituída de 5000 habitantes, dos quais 800 fiéis ouviam regularmente a missa aos domingos, celebrada pelo padre João Batista Germano Prado. Naquele ano, ocorreram 154 batizados, 32 casamentos e 48 óbitos. Neste relatório, ocorreu, pela primeira vez, a ideia sobre a demolição da antiga capela de São Sebastião, Matriz de Porto Ferreira, sem que houvesse qualquer justificativa para tal presunção.

Em 30 de novembro de 1950, em novo Processo Verbal de Visita Canônica, Porto Ferreira contava com uma população de 7000 pessoas, das quais 900 ouviam regularmente as missas aos domingos. Havia 70 protestantes e 70 espíritas. Ocorreram 241 batizados, 45 casamentos e 40 óbitos. Neste documento, há uma afirmação de que a Igreja Matriz seria demolida, embora a existente "estivesse suficiente e em boas condições".

Entretanto, o Prof. Flávio da Silva Oliveira afirma em seu livro que a antiga Capela de São Sebastião "podia receber, aproximadamente, 200 pessoas", dando indícios de que a capela estivesse pequena para o número de fiéis que a frequentava. Em reportagem sobre a comarca no jornal "O Ferreirense", de 07 de dezembro de 1952, a população aproxima-se de 12000 habitantes sendo que a cidade abrigava cerca e 8000 moradores. O rápido crescimento populacional decorre de um fluxo migratório do período, motivado pela "onda de progresso" ocorrida em Porto Ferreira, com a abertura de novos loteamentos para a Cidade Nova e inúmeras fábricas locais, que aumentavam a demanda por mão de obra.

Em somatória as evidências apresentadas acima, o pesquisador Miguel Bragioni informa que Dona Olympia de Meirelles Carvalho, falecida em 2 de novembro de 1936, deixou em testamento o valor de 300 contos de réis para a construção de uma igreja em Porto Ferreira. Segundo Oliveira, a correspondência do espólio no início da década de 50 era de 870 mil cruzeiros.

Portanto, ficou evidente a razão da demolição da antiga Capela de São Sebastião que embora estivesse em excelentes condições, não comportava o número de fiéis para os cultos, em somatória ao estímulo financeiro deixado, em testamento, pela Dona Olympia de Meirelles Carvalho para a construção de uma nova Igreja Matriz.


A nossa velha Igreja

De acordo com o vice-governador do estado, o ferreirense Dr. Erlindo Salzano, em reportagem de "O Ferreirense", de 19 de agosto de 1951, eram grandes os "rumores, cada vez mais insistentes, de que a velha igreja será demolida para a construção de uma nova." Salzano considerava tal atitude um atentado contra a cidade, procurando evitar o acontecimento. Segundo seus argumentos, a igreja velha estava mal localizada e mal orientada. A cidade havia crescido e nada melhor do que situar a nova igreja no ponto mais elevado da cidade, próxima "Cidade Nova", local de novos loteamentos de casas. Outro argumento utilizado por Erlindo Salzano é de que existem cidades bem menores que Porto Ferreira que possuem múltiplas igrejas. A derrubada da antiga igreja residiria na repetição do erro de localização bem como a extinção de um patrimônio histórico de nossa cidade, pois, assim:

(...) nela que se batizaram nossos pais e nossos filhos, que se uniram pelo sacrosanto (sic) sacramento do matrimônio nossos parentes, amigos e conterrâneos e que se encomendaram corpos de entes queridos, que se celebraram missas em favor de pias almas.

Em contrapartida, Salzano sugeria a restauração do templo ao invés da demolição e complementava suas observações apelando para o campo econômico, ao relatar o desperdício de dinheiro constante no patrimônio derrubado. Alegava, também, que a doação em dinheiro realizada pela ilustre família do senador Procópio de Carvalho era insuficiente para a construção de uma nova.

Em uma carta aberta escrita pelo Dr. Erlindo Salzano no jornal "O Ferreirense", em 07 de setembro de 1951, Flávio da Silva Oliveira, em nome da Diretoria da Sociedade Amigos de Porto Ferreira, concordava com a exposição do vice-governador - contrária demolição da igreja– e reiterava a proposta da construção do novo templo na chamada Cidade Nova. Na carta, Oliveira afirmava que o combate à demolição da velha igreja correspondia ao pensamento de qualquer indivíduo de inteligência e compreensão normais, ao passo que a ereção da nova igreja no local citado apresentava a franqueza do caráter do Dr. Erlindo Salzano, demonstrando o grande respeito que o vice-governador possuía entre os ferreirenses.

Em pesquisas outrora publicadas, ainda, em 25 de novembro de 1951, "O Ferreirense" publicou a compra de 90 alqueires de terras pelo Dr. Erlindo Salzano, Manoel da Silva Oliveira, Paschoal Salzano (Prefeito Municipal), Aires Nogueira e Luiz Carlos de Melo Neto. O objetivo da compra foi o loteamento para a construção de casas, permitindo a expansão do município na região da Cidade Nova. Outro apontamento está no fato de que o projeto original da Rodovia Anhanguera foi modificado para as proximidades de Porto Ferreira, ao lado das terras adquiridas pelo Vice-Governador do Estado de São Paulo.

Logo, pode-se deduzir que Salzano queria levar o centro da cidade para a parte mais alta, próxima ao antigo cemitério, a fim de valorizar os seus lotes de terra.


Nota de esclarecimento: O erro em relação ao surgimento da paróquia foi realizado pelo padre português Moysés Nora, quando realizou o relatório local de Porto Ferreira, datado de 1904, pois, em Portugal, freguesia tem o mesmo significado de paróquia, portanto o ano de 1892, quando Porto Ferreira recebeu o título de freguesia.